O déficit de armazenagem no Brasil – estimado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 50 milhões de toneladas – é uma antiga preocupação para o agronegócio. Uma alternativa inicial para amenizar o problema foi a criação dos chamados ‘condomínios’ de armazéns – espaços coletivos gerenciados por grupos formados pelos próprios agricultores.
Neste caso, os produtores somam esforços para investir em uma infraestrutura de recepção e armazenagem de grãos, com a preocupação de manter os padrões de mercado. Geralmente, grande parte das obras é financiada por programas de créditos e bancos privados.
Há pouco tempo, esse modelo sofreu uma evolução. Agora, empresas do setor investem na construção de terminais de estocagem, que são vendidos para grupos privados (cooperativas, tradings, etc.), sob o sistema de cotas. Essas empresas atuam como gestoras, se encarregam de fazer um mapeamento para detectar as regiões de demanda, onde há maiores déficits de armazenagem, e ficam com uma parcela das cotas de cada terminal.
Vice-presidente da SNA, Hélio Sirimarco afirma que, com o novo sistema, “os produtores, que individualmente não teriam condições de arcar com os custos de armazenagem do produto, agora têm a oportunidade de fazê-lo, criando condições para o gerenciamento da comercialização da produção”.
Segundo o recente modelo, qualquer pessoa física pode ser sócia do projeto. “Os sócios tem um percentual de participação que é definido a partir da cota que cada um compra, cujo valor é determinado pela empresa construtora. A cota varia de acordo com o nível de produção e o tamanho da propriedade”, explica Sirimarco.
Em relação às despesas, a manutenção da infraestrutura é paga tomando por base uma porcentagem mínima de cada condômino, por ocasião da entrada do produto.
CASOS PARANAENSES
Um dos exemplos de boa prática desse sistema é o da RoyalLog, do Paraná, segundo informação divulgada pelo jornal Valor Econômico.
De acordo com a publicação, a empresa, que integra o Grupo Fumagalli, pretende obter lucro com a construção de terminais, com capacidade total de 600.000 toneladas, em 12 municípios de Mato Grosso que mostraram um quadro de carência no setor. O custo total do projeto é de R$ 500 milhões. Segundo a RoyalLog, cada armazém está avaliado em R$ 50 milhões.
Quanto ao custo das cotas, conforme informou o Valor, a menor delas é de R$ 31.250,00 e pode ser paga em uma entrada de R$ 2.250,00 e 29 parcelas mensais de R$ 1.000,00 por meio da aquisição de bônus de subscrição – que, após a conclusão do pagamento, serão transformados em ações preferenciais da RoyalLog, que fatura cerca de R$ 150 milhões por ano.
Foi também no Paraná – o segundo maior produtor de soja do País – que surgiram os primeiros casos bem-sucedidos de ‘condomínios’ de armazéns.
O primeiro, em fase de ampliação, foi o Agro 5000, criado há quase dez anos no município de Palotina, reunindo 14 agricultores. Também em Palotina, oito agricultores resolveram investir cerca de R$ 8 milhões (valor quase 100% financiado) na construção do Agroparaíso, que foi concluído em 2013 e tem a capacidade para armazenar mais de 20 mil toneladas de grãos.
GARGALOS
Apesar dos avanços visíveis, para o vice-presidente da SNA, o setor de armazenagem está diretamente ligado a outros gargalos, que por diversas vezes ameaçam a boa produtividade das safras.
“O Brasil continua a enfrentar problemas com o alto preço da logística. Basta citar os dados de um estudo realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain, que indicou que 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do País é gasto com transporte, estoques, armazenamento e serviços de administração. Em comparação, nos Estados Unidos, 7,8% do PIB é gasto com os mesmos itens”, ressalta Sirimarco.
Os dados, obtidos com base no ano de 2015, aumentaram em relação ao período anterior, quando o percentual era de 12,1%. “A crise financeira que o País vem enfrentando nos últimos dois anos contribuiu para a elevação das cifras. A pior queda na economia em décadas resultou em custos muito mais altos para a manutenção de estoques inchados”, afirma o vice-presidente da SNA. “Com os números divididos para cada item, o transporte representa 6,8% do PIB; estoques, 4,5%; armazenamento, 0,9%, e custos administrativos, 0,5%”.
ALTERNATIVAS
Sirimarco acredita que o motivo dos custos altos é a falta de alternativas mais baratas para o transporte de mercadorias. De acordo com o estudo do Instituto de Logística, 65% das mercadorias no Brasil são transportadas por caminhões, 20% por via férrea, 12% por via marítima e 17% por oleoduto. Nos Estados Unidos, estes números são de 43% por caminhões, 32% por via férrea, 8% por a via marítima e 17% por oleoduto.
“A solução seria maior investimento, tanto público quanto privado, visando à solução desses problemas”, conclui, sem deixar de mencionar dois projetos em curso: o da Hidrovias do Brasil, que realiza operações de transporte de grãos no rio Tapajós e na hidrovia Tietê-Paraná, e o da Ferrogrão, estruturada há quatro anos pela alta cúpula da Amaggi, Louis Dreyfus, Cargill, Bunge e ADM, e que constitui uma alternativa às opções atuais ao escoamento de grãos no País.
Por equipe SNA/RJ