No primeiro semestre de 2023, o valor das exportações brasileiras do agronegócio atingiu US$ 83 bilhões, um crescimento de 4% em relação ao mesmo período do ano passado, que foi de US$ 79 bilhões. Trata-se de um recorde para o setor no primeiro semestre — uma notícia muito positiva, uma vez que em 2022 o país já havia registrado um recorde acima das expectativas (US$ 159 bilhões para o ano todo). Portanto, verifica-se que o vigor nas exportações do setor apresentado em 2022 vem se mantendo neste ano, apesar das reduções observadas nos preços de muitos produtos e da taxa de câmbio, que diminui ainda mais o preço recebido pelo produtor. Se esse ritmo de crescimento se mantiver no segundo semestre, o valor exportado pelo agronegócio brasileiro deverá se aproximar ou até mesmo superar a marca histórica de 2022. Nesse caso, espera-se um valor perto de US$ 170 bilhões até o fim deste ano.
Vale ressaltar que esse crescimento não foi constante nos seis primeiros meses do ano. É interessante observar uma alternância de crescimento positivo e negativo entre os meses no comparativo deste ano com 2022. Os meses de janeiro, março e maio registraram crescimento acima de 10% ao ano, enquanto os outros meses deste ano apresentaram crescimento inferior ao do ano passado.
Apesar da redução de preço das principais commodities exportadas pelo Brasil, o valor unitário da exportação nos primeiros meses do ano ainda se encontrava em patamares elevados, o que se explica também pelo fato de que muitos produtores operaram com contratos que travam seus preços nos estágios em que estavam antes. Mas o valor exportado continuou elevado nos meses seguintes, quando se reduziu o preço do produto exportado. Portanto, o valor exportado recorde se deve ao reforço da quantidade exportada pelo setor, apesar da redução também observada na taxa de câmbio. Os principais produtos responsáveis pelo aumento do valor exportado foram milho, açúcar, carne de frango, carne suína, suco de laranja e complexo de soja (com exceção do óleo de soja).
O milho obteve um crescimento de 89% do valor exportado em comparação com o mesmo período do ano passado. Essa variação positiva está diretamente relacionada com o aumento significativo na produção nacional (a Conab estima um aumento de 15% na produção de grãos em relação à safra anterior) e das importações pelos países asiáticos como China, Japão, Coreia e Vietnã. A taxa de crescimento observada para a quantidade exportada desse produto foi de 86%. Portanto, o crescimento no valor das exportações de milho foi resultado do aumento na quantidade exportada.
O açúcar também chamou atenção neste semestre, com um crescimento de 38% do valor exportado em relação ao mesmo semestre de 2022. Esse acréscimo pode ser explicado pela maior participação das importações da Índia, da União Europeia e do Reino Unido, de Bangladesh e da Arábia Saudita, além do fato de o açúcar ter sido uma das poucas commodities em que o preço continuou aumentando desde o começo do ano. Além disso, o açúcar apresentou uma taxa anual de crescimento de 15% na quantidade exportada.
Os mercados do complexo de soja também cresceram. O grão e o farelo apresentaram taxa anual de crescimento em valor de 9,4% e 11%, respectivamente, beneficiando-se do aumento das exportações para a China. Adicionalmente, a Argentina vivenciou uma forte quebra de safra, abrindo mais espaço para o Brasil, que aumentou sua produção. Portanto, a explicação para esse aumento do valor está na ampliação da quantidade exportada desses produtos, que apresentaram taxa anual de 18% e 6%, respectivamente, para grão e farelo. Em contrapartida, o valor exportado de óleo de soja caiu 20% em comparação com o ano de 2022, o que pode ser atribuído à alta exportação do produto no ano passado devido aos impactos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Entre as carnes, ocorreu um aumento significativo nas exportações de frango e porco, com crescimento anual 10,4% e 27,6%, respectivamente, o que também pode ser explicado pelo crescimento na quantidade exportada, de 10% e 16%, respectivamente. Entretanto a carne bovina teve uma queda de 21,6% em relação ao primeiro semestre do ano passado. A suspensão de compras pelo principal comprador da carne brasileira (China) pode ter influenciado esse resultado. Com o fim das suspensões, a expectativa é de recuperação e exportação recorde.
Outros produtos que reduziram o valor e a quantidade exportada foram o café, produtos florestais e o algodão. Entre estes, a diminuição proporcionalmente mais expressiva é a do algodão — em comparação com o mesmo período do semestre passado, caiu 53,5% em valor exportado. Essa contração se explica pela forte redução de importação dos principais países compradores, como Paquistão, Bangladesh, Turquia, Vietnã, Indonésia e China.
Entre os parceiros comerciais de destino das exportações brasileiras do agronegócio, nesse primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2022, destaca-se o crescimento de 9% no valor exportado para China e mais de 100% para Argentina. Apresentaram taxa de crescimento positiva também as exportações para Tailândia (10%), leste da Ásia (Japão e Coreia, com 39% e 15%, respectivamente), México (52%), Arábia Saudita (24%) e Indonésia (14%). Entre as reduções no valor exportado do setor, destaque para União Europeia e Reino Unido e para Estados Unidos, todos com uma queda de cerca de 10% no período.
Em relação às importações, o agronegócio cresceu 3% em relação ao mesmo período de 2022. Entretanto, o país reduziu o valor importado de insumos agrícolas. Comparando com o mesmo período de 2022, houve um recuo de 32% no valor da importação desses insumos, puxado pela redução no valor importado de fertilizantes e defensivos, principalmente nos últimos três meses. Apenas os fertilizantes apresentaram uma queda de 44% em valor na comparação com os seis primeiros meses de 2022. Os defensivos agropecuários, outro produto componente dos insumos agrícolas, também tiveram redução nas importações, de 32% em relação ao primeiro semestre de 2022. Já as importações de máquinas e equipamentos e de medicamentos aumentaram em relação ao mesmo período do ano passado.
A redução na importação de fertilizantes e dos defensivos agropecuários não indica um arrefecimento na produção do setor. Essa queda é explicada pelo aumento acentuado tanto no preço quanto na quantidade importada desses insumos em 2022. Assim, pode estar havendo um retorno à normalidade para esses produtos. Por outro lado, o aumento na importação de máquinas e equipamentos — indício de investimentos em capital fixo no setor — é um sinal positivo do avanço ainda maior que o agronegócio poderá provocar na economia do país nos próximos meses.