O etanol está entrando em uma nova etapa no Brasil. Pela primeira vez uma usina produz em escala comercial a partir da palha e do bagaço da cana, e não com o caldo, que é o sistema tradicional. É o etanol de segunda geração.
Os canaviais de Alagoas já fazem esse novo tipo de colheita: a da palha. Máquinas importadas, que nos Estados Unidos e na Europa são usadas na produção de feno, foram adaptadas no Brasil para recolher o que era considerado um resíduo da cana.
Agora, a palha vira matéria-prima do etanol de segunda geração. “O álcool de segunda geração provém da celulose, de biomassa. E a palha de cana-de-açúcar é abundante. Por isso a gente tem na colheita de palha nosso carro-chefe para a produção de etanol”, explica o gerente de matérias-primas da empresa Granbio Sérgio Godoy.
A empresa Granbio inaugurou em setembro a primeira usina de etanol de segunda geração do país, em São Miguel dos Campos, Alagoas. A empresa fez parceria com três usinas de açúcar e álcool da região para comprar a palha que sobra no campo. Mas as máquinas não recolhem tudo. Metade fica para cobrir o solo e segurar a umidade.
Além do dinheiro com a venda da palhada, os produtores de cana vêem outras vantagens em retirar o material. “Diminui a infestação da praga cigarrinha da raiz, que é uma praga que muita palha acumulada favorece a infestação. E tem o risco de incêndios. O fogo se propaga com muita velocidade quando se tem um acúmulo de palha”, diz o superintendente da usina Carlos Monteiro.
Do campo, os fardos vão para um centro de distribuição. Depois, o produto segue para a usina. Em uma usina de etanol de primeira geração, a matéria-prima é o caldo da cana. O açúcar do caldo vai direto para a fermentação e destilação. Já na segunda geração, existem etapas anteriores. É preciso separar os açúcares que estão nas fibras e não é um processo tão simples.
A palha ou o bagaço passam por altas temperaturas, pressão e uma explosão a vapor para que a celulose e a hemicelulose sejam separadas. Na etapa seguinte, entram em ação as enzimas. Elas cortam as moléculas em pedaços menores, que são os açúcares. Depois, os fermentos transformam esses açúcares em álcool, que por fim, é destilado, virando etanol.
As enzimas, alma do processo, representam o custo mais alto. Por isso, os pesquisadores trabalham para desenvolver a tecnologia. “Essas enzimas são produzidas por fungos e bactérias da natureza que atacam as plantas. Elas vão e cortam, funcionando como se fosse uma tesoura. O que nós fazemos é identificar essas enzimas, quais são, produzi-las em escala comercial e ai utilizamos para o processo de hidrólise. A qualidade [do etanol] é a mesma, não tem diferença nenhuma. Nós estimamos que a adição de bagaço e palha na produção de etanol no Brasil pode elevar nossa produção em torno de 30% do que já temos, sem ter que aumentar a área de plantio”, explica o agrônomo Carlos Alberto Labate.
É o que vem sendo feito em Alagoas: o melhor aproveitamento das áreas de cultivo, o que torna a produção sustentável. A usina já recebeu um certificado internacional pela geração de um etanol mais limpo, com baixa emissão de carbono. Na fábrica, substâncias descartadas durante o processo vão para caldeiras de cogeração de energia elétrica e vapor. Também é reutilizado o resíduo da destilação.
Além da tecnologia na usina, a empresa procura obter uma maior produtividade na lavoura. Um centro de pesquisa foi criado especialmente para desenvolver uma nova variedade de cana: a cana energia, que servirá de fonte de matéria-prima para o etanol de segunda geração. A pesquisa deve ser concluída até o fim do ano que vem e a cana energia vai se tornar mais um recurso para a produção brasileira de etanol de segunda geração.
Fonte: Painel Florestal