Autor: Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da FGV
Tenho tratado, muitas vezes, de uma tese um tanto polêmica: não existem mais líderes planetários porque, com a economia globalizada, o que falta é um projeto global.
Não há mais espaço para lideranças nacionalistas ou imperialistas como no passado, animadas por planos de poder.
Isso explica também a inoperância de organizações multilaterais cujo protagonismo só fará sentido se ousarem propor temas que interessem a toda a humanidade.
Um tema assim e que vem sendo objeto de debates em todos os quadrantes é o da segurança alimentar e energética com sustentabilidade.
Até mesmo a OCDE e o G20 têm-se debruçado sobre esse assunto com frequência cada vez maior devido aos altos preços dos alimentos, que inibiriam seu acesso pela população mais pobre da Terra. E isso não elimina a fome, que é inimiga da democracia.
Portanto, um projeto de interesse global será, sem dúvida, aquele que propuser uma verd adeira “economia verde”, capaz de produzir alimentos, energia e fibras sem destruir os recursos naturais.
Por outro lado, também se sabe que o Brasil já fez boa parte de sua lição de casa nesse capítulo: em 20 anos, a área plantada com grãos cresceu 20%, enquanto a produção aumentou 179%.
O número em si já é formidável, mas o que está por trás dele é mais notável: com esse aumento de produtividade por área, mais de 50 milhões de hectares de matas ou de cerrado foram preservados. Adicionalmente, o etanol de cana, além de não competir com alimentos, ainda reduz em 89% a emissão de CO2 da gasolina, contribuindo de fato para a redução do aquecimento global.
Muitos outros dados -como os 6 milhões de hectares de florestas plantadas- seriam comprovantes da sustentabilidade de nossa “economia verde”, o que poderia fazer do Brasil o grande condutor desse projeto formidável que se caracterizaria pela difusão de nossas tecnologias para países tropicais do nosso e de outros continentes.
Nosso país, um incontestável líder mundial? Finalmente? Sem dúvida, mas para tanto há uma vasta tarefa a executar, representada por políticas públicas e ações privadas ainda pendentes: são os problemas da logística, da política comercial, da defesa sanitária, da política de renda rural, o associativismo e outras questões aqui já exauridas.
Em uma democracia como a nossa, políticas públicas só serão implementadas se a sociedade estiver convencida delas.
E é aqui que o carro pega na questão agrícola: o desconhecimento da nossa sociedade sobre esse tema é muito grande, sobretudo a total falta de conectividade entre o rural e o urbano.
Não é visível para nenhum dos dois que há estreitíssima interdependência entre ambos: não há produtor sem consumidor nem há abastecimento sem produção. Agronegócio é tudo, desde a pesquisa até a gôndola do supermercado, passando por serviço, ind ústria etc.
Por décadas, foram feitos esforços para montar uma campanha institucional de esclarecimento -tanto para as populações rurais como para as urbanas- desse vínculo tão evidente.
E, na semana passada, finalmente foi lançado um movimento, o “Sou Agro”, destinado a esclarecer para todo o mundo o papel notável que o setor rural representa para o desenvolvimento do Brasil.
Com forte presença nas redes sociais através de dois portais (www.souagro.com.br e www.redeagro.org.br), o movimento também tem uma campanha que, ancorada por Lima Duarte e por Giovanna Antonelli, vem sendo veiculada em TVs, em rádios, em jornais e em revistas.
A ideia é mostrar a verdade, sobretudo em termos transversais, comuns a todas as cadeias produtivas.
Sem liderança de ninguém (mas patrocinado por institui ções e por empresas do agronegócio), sem brigar com ninguém, a proposta é esclarecer e informar, mesmo que isso represente eventuais críticas a setores incorretos.
Anteontem foi o Dia do Produtor Rural. Nada melhor para comemorar a data do que esse movimento, que resgata o amor-próprio do homem do campo brasileiro.