Trigo é a única cultura em que o Brasil não é autossuficiente

Hamilton Jardim, da Farsul: “Se houvesse vontade do governo teríamos condições, somente nas terras frias, basicamente Paraná e Rio Grande do Sul, de produzir no mínimo 80% do consumo nacional”. Foto: Tiago Francisco / Divulgação Sistema Farsul

“O Brasil, como player e grande produtor de alimentos do mundo, tem na cultura do trigo a única em que o País não consegue se sustentar, isto é, não é autossuficiente, demandando recursos absurdos em importações”, afirma o presidente da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim. Ao analisar o panorama atual da triticultura brasileira, Jardim acentua que, se fosse injetado no setor produtivo muito menos do que se gasta na hora de importar, poderia se fomentar a economia dos municípios que têm na cultura do trigo um forte aliado econômico, gerando emprego, renda e desenvolvimento regional.

Para ele, é importante ressaltar que, devido à ausência de políticas públicas para a triticultura, além da frustração da safra no ano passado, “o Brasil teve que gastar algo em torno de 2,7 bilhões de dólares com a importação de mais de 6,5 milhões de toneladas de trigo, basicamente dos Estados Unidos e Canadá, além de alguma quantidade da Argentina e do Uruguai e nada do Paraguai que, a exemplo do Paraná, também perdeu com a geada. O Estado brasileiro sofreu uma queda de mais da metade de sua safra e isso fez com que o Brasil produzisse apenas 5,5 milhões de toneladas, ou seja, quase a metade do que se consome”.

O cenário, atualmente, explica, é de definição de novos rumos. “O potencial brasileiro para a cultura é muito grande nas terras frias do Sul, basicamente no Paraná e Rio Grande do Sul, que respondem por 92% da produção nacional, mas não colhem o suficiente para atender à demanda nacional que está muito próxima de 12 milhões de toneladas. Para alcançarmos essa cifra, são necessárias vontades e políticas públicas.”

CUSTO DE PRODUÇÃO

Este ano a safra brasileira deverá alcançar em torno de 7 a 7,5 milhões de toneladas. Foto: Tiago Francisco / Divulgação Sistema Farsul

Segundo Jardim, se tudo correr “maravilhosamente bem”, este ano a safra brasileira deverá ficar em torno de 7 a 7,5 milhões de toneladas e poderia ser melhor “se tivéssemos, enquanto cadeia, perseguido uma discussão receptiva com o governo federal, um seguro agrícola que, efetivamente, nos desse respaldo, dadas as diversidades climáticas, e pudéssemos contar com outros mecanismos de apoio da política de garantia de preços mínimos condizentes com o custo de produção”.

Ele destaca o apoio da política de garantia de preços mínimos e exemplifica com o Prêmio de Equalização de Preços Pagos ao Produtor, lançado no último dia 7 de outubro pelo governo, ou com Aquisições do Governo Federal para dar sustentação de preços. “Se houvesse vontade do governo teríamos condições, somente nas terras frias, basicamente Paraná e Rio Grande do Sul, de produzir no mínimo 80% do consumo nacional.”

Hamilton Jardim faz questão de frisar que ao alto custo de produção da lavoura de trigo no Brasil é o mais alto do Mercosul. “Hoje, para se fazer uma lavoura altamente tecnificada, para produzir o trigo que a indústria de panificação persegue e busca, é necessário investir em torno de R$ 1.700 a R$ 1.800 para formarmos um hectare de lavoura”, esclarece o diretor da Farsul, acentuando que “em 30 hectares plantados com o trigo é gerado um emprego direto e dois indiretos. Isso o governo, às vezes, não leva em consideração nos momentos de definição de políticas”.

CONGRESSO INTERNACIONAL

Sérgio Amaral, da Abitrigo: “Congresso discutirá programas e medidas que contribuam para o aumento da qualidade do pão”. Foto: Divulgação Abitrigo

Hamilton Jardim destacou que este tema fará parte dos debates durante o XXI Congresso Internacional do Trigo, que será realizado pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) em Foz do Iguaçu, no período de 19 a 21 de outubro. “Temos feito tudo aquilo que a indústria moageira nacional nos pede, ou seja, focar nosso trabalho em pesquisa, em tecnologia para produzirmos trigo para atender à demanda desse setor industrial, que pede trigo bom, principalmente para a base da sua matriz de transformação, que é a produção de pão com o objetivo de abastecer o mercado consumidor cada vez mais ávido por qualidade”, observa.

O presidente da Abitrigo, Sergio Amaral, confirmou que durante o evento serão discutidos programas e medidas que contribuam para o aumento da qualidade do pão – produto responsável por 50% da demanda brasileira de trigo.

Segundo Amaral, o Congresso Internacional do Trigo é o mais importante evento do setor, reunindo e estreitando o relacionamento dos principais elos da cadeia produtiva do trigo. Ele informa que, nesta edição, que reunirá mais de 500 analistas e técnicos nacionais e internacionais, profissionais, produtores e autoridades, haverá ênfase especial às transformações que a indústria de alimentos está experimentando, motivadas pela sedimentação de um novo perfil de consumidor, que busca produtos de melhor qualidade e mais diversidade, e pela ação das autoridades sanitárias, que estão progressivamente direcionando a indústria da alimentação para padrões de alimentação saudável e que evitem os excessos na ingestão do sal, do açúcar e das gorduras.

O evento, cujo tema central será “Desafios de Um Novo Tempo”, vai avaliar e discutir os desafios de uma das mais importantes cadeias do agronegócio brasileiro, em palestras, debates e mesas redondas. Em paralelo, será realizada a Feira de Negócios, com apresentação e oferta de novos produtos, máquinas, equipamentos, sistemas e tecnologias de ponta.

Por equipe SNA/SP

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