Trigo biofortificado pode ajudar na alimentação de crianças com Síndrome de Down

O trigo é objeto de estudo de pesquisadores dispostos a elevar os níveis de zinco e selênio presentes na cultivar, por meio de melhoramento convencional, pela técnica da biofortificação. Foto: Divulgação Embrapa

Um dos principais alimentos na dieta brasileira – o trigo – vem sendo objeto de estudo de pesquisadores dispostos a aumentar os níveis de zinco e selênio presentes na cultivar, por meio de melhoramento convencional, técnica conhecida como biofortificação. A pesquisa procura com isso prover uma maior segurança nutricional aos mais carentes desses micronutrientes.

Parte da população propensa a beneficiar-se desses resultados são os indivíduos portadores de Síndrome de Down (principalmente, as crianças em fase de desenvolvimento), que devem manter uma alimentação rica em antioxidantes, como zinco e selênio, em virtude da síndrome ocasionar oxidação em excesso nas células cerebrais e do corpo.

Pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Milton Ferreira de Moraes explica que os níveis de selênio do trigo biofortificado não são tão altos quanto os níveis de zinco, mas que isso pode mudar quando aliado à biofortificação agronômica.

“Recentemente, o governo aprovou o uso de fertilizantes contendo selênio, o que foi um importante passo para a adição deste nutriente aos solos brasileiros, visto que a grande maioria deles é naturalmente pobre neste elemento. As plantas absorvem de forma muito rápida esse elemento, mas ele necessita estar presente no solo”, relata Moraes.

Segundo ele, é necessário apenas doses entre cinco a dez gramas por hectare, dando origem a um cultivo rico nos dois micronutrientes, expõe o pesquisador, que também aproveita para traçar um futuro da biofortificação do trigo.

De acordo com o especialista, “a biofortificação agronômica do trigo com selênio tem potencial para elevar a ingestão diária deste micronutriente aproximadamente 25% dos níveis mínimos diários”.

“O cenário hoje é otimista, pois o governo já tem dimensão da necessidade em melhorar a disponibilidade de selênio para a população. Eu acredito que em aproximadamente dois anos nós tenhamos avanços mais significativos”, comenta o pesquisador da UFMT.

É muito comum escutar que a castanha-do-brasil – ou também castanha-do-pará –, rica em selênio e zinco, deve ser consumida somente uma vez por dia. Mas a pesquisadora da Universidade de São Paulo Silvia Cozzolino alerta que a quantidade desses micronutrientes no alimento pode variar de região para região.

“É importante levar em conta que castanhas como essa, dependendo da região de origem, podem vir a possuir maiores teores desse micronutriente como, por exemplo, as que chegam do Amazonas, que possuem 115 microgramas de selênio por grama. O peso médio de uma castanha desse tipo é de 5 gramas, teríamos então aí mais de 500 microgramas de selênio presente no organismo, superando a quantidade máxima permitida que é de 400 microgramas”, ressalta Silvia.

Uma das vantagens em consumir alimentos à base de trigo, como o pão, é o fato de estes serem muito mais baratos em comparação com a castanha-do-brasil. Para os portadores de síndrome de Down, é ainda a principal preferência é pelo pão integral.

 

A BIOFORTIFICAÇÃO

O Brasil apresenta um aspecto diferenciado dos demais países em relação ao desenvolvimento da biofortificação. É o único país onde o trabalho é realizado ao mesmo tempo com oito culturas: abóbora, arroz, batata doce, feijão, feijão-caupi, mandioca, milho e trigo.

Os investimentos são feitos pelo governo federal, governos estaduais, instituições de pesquisa e organizações internacionais, sendo a principal o programa de pesquisas HarvestPlus, que conta com a ajuda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para coordenar o programa de biofortificação brasileiro (Rede BioFORT).

De acordo com os últimos dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 48% das crianças menores de cinco anos têm anemia (deficiência de ferro) e 30% têm deficiência de vitamina A. No Brasil, os números também são altos, com 55% das crianças menores de cinco anos apresentando deficiência de ferro e 13% deficiência em vitamina A.

Fontes: Rede BioFORT Embrapa Agroindústria de Alimentos

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