O tema “Manejo de trigo para rentabilidade” levou mais de 150 produtores da região noroeste do Rio Grande do Sul ao encontro promovido pela cooperativa Cotricampo e a Embrapa Trigo, no dia 11 de maio, em Campo Novo. Apesar das estimativas para a redução de área de trigo nesta safra, muitos produtores seguem apostando na cultura.
Atualmente, são 66 cultivares de trigo disponíveis no mercado para o Rio Grande do Sul e 64 cultivares indicadas para Santa Catarina. De acordo com o pesquisador Eduardo Caierão, a escolha da cultivar deve considerar uma série de fatores como liquidez (qualidade demandada pela indústria e oportunidades de segregação); tolerância a doenças, germinação na espiga ou acamamento, considerando as previsões climáticas e a rotação de culturas da área; e potencial de rendimento associado ao custo de investimento mínimo exigido pela cultivar, como adubação ou redutor de crescimento.
Para melhorar a liquidez do trigo, a Cotricampo tem direcionado os produtores cooperados para a adoção de um número reduzido de cultivares, entre 10 a 12 opções a cada safra. A qualidade comercial está fracionada em 80% trigo pão e 20% trigo branqueador. “Toda a produção é segregada. Assim atendemos o nosso moinho e ainda exportamos farinha para outros estados”, conta o presidente da cooperativa de Campo Novo, Gelson Bridi. A estratégia garante preços ao produtor entre 8 a 20% acima do mercado.
Reduzindo custos
A época indicada para a semeadura do trigo no Rio Grande do Sul iniciou em 11 de maio e se estende até 20 de julho. O aumento dos estoques mundiais de trigo, a baixa no preço das commodities e a elevação na cotação do dólar encarecendo os custos de produção são alguns dos fatores que podem repercutir na implantação das lavouras de trigo nesta safra.
Para apontar estratégias de manejo capazes de assegurar o rendimento do trigo ao menor custo de produção possível, a Embrapa Trigo está realizando eventos em parceria com cooperativas e assistências técnicas no Rio Grande do Sul, nos meses de maio e junho.
Segundo o pesquisador João Leonardo Pires, o casamento de trigo no inverno com a soja no verão ainda é a melhor opção para o produtor gaúcho. “Sabemos que a cultura de maior importância econômica é a soja. Por isso mesmo, é preciso saber aproveitar o inverno para garantir o melhor resultado no verão”, alerta Pires, destacando o papel do trigo no controle de plantas daninhas, na diluição de custos na propriedade ao longo do ano, no melhor aproveitamento do maquinário e mão-de-obra e na fertilidade do solo.
O produtor Nelson Teneroller, de Humaitá (RS), trabalha com trigo há 15 anos e nem pensa em abandonar a cultura. “Aplico toda a adubação no inverno e posso deixar para a soja no verão, aproveitando melhor o tempo e o investimento”, conta Teneroller, que em 2016 perdeu para o granizo toda a lavoura pronta para colher. “Mesmo perdendo em grãos, o trigo me ajudou com a soja. Enquanto o vizinho que deixou a lavoura em pousio no inverno colheu 55 sacas de soja por hectare, eu consegui colher 80 sacas de soja. Isso porque minha lavoura estava bem adubada, com solo estruturado e livre de buva”, disse o produtor.
Outro investimento foi na rotação de culturas: a área com aveia ou nabo é seguida pelo milho no verão, recebendo trigo no inverno e soja na safra seguinte. Em apenas 30 hectares, o planejamento garante cobertura permanente do solo, com bom volume de raízes e palha. “Quem disse que trigo não é um bom negócio, é porque não pensa no sistema, e olha cada safra separada. Basta comparar os resultados sem cultura no inverno para entender a importância do investimento”, disse Teneroller.
Segundo o pesquisador José Eloir Denardin, a média nacional de produção de soja estagnou no ano 2000, com 2.700 kg/ha. “O limitante está no solo, já que os demais fatores tecnológicos continuam evoluindo, com cultivares mais produtivas, defensivos mais eficientes e novos conhecimentos em manejo”, disse Denardin, respaldando as práticas que estão sendo adotadas pelo produtor de Humaitá. “Os microorganismos precisam da palha e das raízes do inverno para se decompor, tornando o solo mais poroso e com maior teor de matéria orgânica”.
“A tecnologia sempre pode melhorar, e o produtor também”, disse Ernani Petry, de São Martinho (RS). Cultivando trigo há mais de 50 anos, Petry vai repetir os 600 hectares de trigo de 2016, satisfeito com os rendimentos na lavoura e com a liquidez na parceria com a Cotricampo.
O próximo encontro técnico “Manejo de trigo para rentabilidade” está marcado para o dia 26 de maio, em Espumoso (RS), por meio da parceria Embrapa Trigo, cooperativa Cotriel e Emater/RS.
Fonte: Embrapa