“Para manter os atuais níveis de produtividade sem as sementes transgênicas, os produtores teriam de lançar mão de outras estratégias de controle, o que poderia provocar aumento do uso de defensivos agrícolas, combustível (para maquinário) e água. Isso significa que os OGM contribuem para que a agricultura seja uma atividade mais sustentável”. A afirmação é da bióloga Adriana Brondani, diretora-executiva do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia), que concedeu entrevista exclusiva ao Portal Agrolink.
Quais novas variedades transgênicas foram aprovadas pela CTNBio em 2017?
Adriana Brondani: Em 2017, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) já aprovou 13 novos eventos geneticamente modificados (GM). São dez plantas, duas vacinas e um microrganismo. Entre as novas variedades vegetais transgênicas aprovadas neste ano podemos destacar os eventos de soja, milho e algodão “piramidados” (resultado do cruzamento convencional entre dois ou mais organismos geneticamente modificados – OGM).
O objetivo dessa abordagem é oferecer ao produtor uma semente cada vez mais protegida, que incorpore diversas resistências a insetos e tenha tolerância a diferentes princípios ativos de defensivos agrícolas. Isso contribui para que o agricultor tenha mais opções de manejo e torna a produção mais sustentável. Além disso, também cabe mencionar a aprovação da primeira cana-de-açúcar GM do mundo, uma variedade resistente a insetos desenvolvida por uma empresa brasileira.
Quantas e quais ainda podem ser aprovadas até final do ano?
Adriana Brondani: As reuniões da CTNBio ocorrem no início de cada mês e, alguns dias antes desses encontros, as pautas são divulgadas para toda a sociedade. Embora a comissão ainda não tenha divulgado a pauta da próxima reunião, a julgar pelas mais recentes, há outros eventos transgênicos de soja, milho e algodão, nos quais foram inseridas características agronômicas, com chance de aprovação. No curto prazo, também podemos esperar outros microrganismos para uso em diversas indústrias e novas vacinas para uso veterinário e humano.
Como está o ritmo e a velocidade de análise da comissão?
Adriana Brondani: Se acompanharmos o trabalho da CTNBio ao longo dos últimos anos, observaremos que a média de tempo de análise de um novo transgênico é de aproximadamente 24 meses (dois anos). Esse período é semelhante ao de outros países que também fazem análise da avaliação da biossegurança de OGM.
Qual é a importância dessas aprovações para a agricultura brasileira?
Adriana Brondani: Os produtos que vem sendo aprovados são soluções tecnológicas que facilitam o manejo do produtor no campo. Sabemos que a prática da agricultura em climas tropicais ou subtropicais (como os do Brasil) enfrenta grande pressão de plantas daninhas e de insetos. Boa parte dos transgênicos disponíveis hoje têm benefícios agronômicos, ou seja, características que ajudam as culturas transgênicas a produzirem melhor nesse ambiente em que outras plantas competem pelos nutrientes e em que insetos atacam as lavouras.
Para manter os atuais níveis de produtividade sem as sementes transgênicas, os produtores teriam de lançar mão de outras estratégias de controle, o que poderia provocar aumento do uso de defensivos agrícolas, combustível (para maquinário) e água. Isso significa que os OGM contribuem para que a agricultura seja uma atividade mais sustentável.
O que é esperado para o próximo ano, e também no longo prazo?
Adriana Brondani: No médio e longo prazos, já é possível pensar na modificação genética de segunda geração (benefícios nutricionais e tolerância a estresses abióticos, a exemplo da soja tolerante à seca desenvolvida pela Embrapa). Além disso, devemos considerar uma nova tecnologia que tem grande potencial de gerar produtos revolucionários para a agricultura: a CRISPR-Cas9 (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats). Descoberta em 2012, essa técnica utiliza a enzima Cas9 para cortar o DNA em pontos determinados por uma cadeia-guia de RNA. Utilizando uma metáfora, seria como a ferramenta localizar e substituir palavras do Word. Se o Brasil quiser continuar competitivo no mercado global, deve olhar com atenção para essa tecnologia.
Fonte: Agrolink