Prejuízos e caos logístico
As fortíssimas chuvas que castigam o Rio Grande do Sul desde a semana passada seguem produzindo imagens e números desoladores. Além das dezenas de vidas perdidas em enchentes recordes na maior parte do estado, a dimensão dos estragos já atinge, também, a cadeia produtiva agropecuária, isolando propriedades e impedindo não só o resgate dos sobreviventes, mas a continuidade do trabalho de frigoríficos, por exemplo. Culturas tradicionais da região gaúcha como as de proteína animal, leite, uva, arroz e azeite sofreram abalos ainda difíceis de serem calculados.
Com isso, o abastecimento para ajudar às populações afetadas também fica comprometido. O governador Eduardo Leite já havia alertado que os animais não conseguiam chegar às unidades. Ele acrescentou: “A secretaria de agricultura do estado está acompanhando a situação junto a empresas produtoras de proteína animal e alimentos. Serão necessárias medidas de apoio para a reconstrução das unidades de produção agropecuária por conta da questão do abastecimento, bem como medidas ambientais para recuperação dos ecossistemas degradados”.
Mais de 500 bois foram resgatados de fazendas de criação nos últimos três dias na região do município de Triunfo, na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Imagens mostram os animais com água na altura do pescoço. Apesar dos esforços, muitos produtores perderam boa parte ou todos os seus rebanhos. Produtores de grãos ainda esperam a água baixar para dimensionar o tamanho da perda, que pode até ser total, pois os silos que armazenam as colheitas recentes estão parcialmente submersos, inutilizando o que havia sido guardado.
Efeitos devem ser sentidos pelo país
Analogamente, a indústria de aves e suínos experimenta igual situação, com pelo menos sete unidades paradas.“É um cenário bastante caótico”, afirmou Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal(ABPA). De acordo com a entidade, é “inevitável” o desabastecimento de carne e ovos nos supermercados do estado. E os efeitos também poderão ser sentidos para além das fronteiras gaúchas. O Rio Grande do Sul representa 11% do abate de frangos e 20% do abate de suínos do Brasil.
Em torno de 40% do leite produzido no Rio Grande do Sul está com a entrega para a indústria comprometida pelas consequências das chuvas que atingem o Estado. A estimativa é da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) e do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS). Muitas propriedades estão alagadas e isoladas devido à queda de barreiras. O setor, que já vinha abalado, conforme mostrou reportagem do Portal SNA, agora vê seus agricultores precisando descartar a produção, pois os compradores não conseguem chegar. O gado sofre com o racionamento da alimentação e há pouco combustível sobrando para abastecer o maquinário.
O colapso do sistema logístico ameaça paralisar por completo o agro no Rio Grande do Sul, com a interdição de estradas, portos e aeroportos. A angústia agora se concentra na espera por notícias de quem segue desaparecido, bem como do escoamento da água, que pode levar até semanas para baixar e revelar maiores estragos. Até mesmo importações retidas na fronteira devido às chuvas já padecem pela umidade e tempo de espera. O prejuízo para o estado pode ficar na casa das centenas de milhões de reais, além das mortes, desabrigados, desalojados, perdas materiais e colapso de outros sistemas pelas panes elétricas e de abastecimento que se seguem a intempéries dessa dimensão.
Solidariedade e união apartidária em prol de ajuda e reconstrução
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em nota oficial, manifestou-se:
“A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se solidariza com todos os brasileiros impactados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A dor causada pela perda de vidas, moradias e comércios nos municípios gaúchos deve motivar a união de todos os entes da federação e espectros políticos na reconstrução das cidades atingidas e no atendimento às vítimas.
Junto a toda essa preocupação, encaminhada a assistência humanitária ao povo gaúcho, reitera-se a necessidade de proteger e salvaguardar os produtores rurais mais afetados e necessitados da região, que dependem de sua produção para o sustento de suas famílias e contribuem para a retomada da economia dos municípios afetados.
A FPA está a serviço do povo gaúcho e lutará, no Congresso Nacional, pelas medidas necessárias para o reerguimento do estado.”
Por enquanto, cidadãos brasileiros de todo o país têm demonstrado solidariedade, enviando donativos através de instituições preparadas em recolher e transportar itens de grande demanda em catástrofes como essa. Autoridades de outros estados também contribuem com equipes especializadas que prestam todo o apoio no resgate e acolhimento das vítimas, numa coalizão humanitária que será ainda mais necessária no árduo e longo trabalho de recuperação das áreas afetadas. Entre elas, as lavouras e demais locais de trabalho dos produtores gaúchos, protagonistas históricos do agro brasileiro não apenas em sua terra natal, mas como pioneiros no desbravamento de novas fronteiras que foram decisivas na pujança do setor.