Tradings unem forças para facilitar o caótico fluxo de commodities

As maiores tradings do mundo, que movimentam boa parte das 550 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas que giram pelo globo anualmente, se uniram para criar uma plataforma de troca de informações entre importadores e exportadores que deve gerar economia e otimizar suas operações, e também dos parceiros.

A joint-venture Covantis, fruto de um investimento cujo valor não é revelado e que vinha sendo estudado desde 2017, congrega as gigantes americanas Bunge e Cargill, a francesa Louis Dreyfus Company (LDC), a estatal chinesa Cofco International e a múlti holandesa Glencore Agriculture.

O objetivo da iniciativa é facilitar a comunicação entre os elos da cadeia a partir do momento da entrega da carga nos portos, informatizando a troca de atualizações sobre os navios e as mercadorias, o que hoje ocorre de forma manual.

Dada sua magnitude no mercado de commodities, o Brasil é o palco dos testes da Covantis. No ano passado, o País embarcou ao exterior 114 milhões de toneladas de soja, milho e farelo de soja, a partir de mais de 500.000 contratos de compra e venda.

“A Covantis deve se tornar líder de operações no nosso setor e poderá agilizar processos, modernizá-los e digitalizá-los”, disse Petya Sechanova, CEO da iniciativa. Entre julho e agosto, 11 empresas, entre tradings, originadores e produtores de grãos, testaram a plataforma no porto de Santos (SP), e já no início do ano que vem ela terá seu lançamento oficial.

A escolha do Brasil se deu pela complexidade do mercado, segundo Petya. Ela lembra que no país acontecem as chamadas “vendas em cadeia” ou “string sales”, em que embora apenas o comprador final e o remetente tenham contato com a carga física, dezenas de intermediários agem para a mágica dos envios acontecer. São pessoas que trocam nomeações de navios e avisos contratuais, enviam e recebem instruções sobre documentos e tratam da disponibilidade da mercadoria que será embarcada.

“Imagine que cada carga tem um contrato de compra e outro de venda, que há certificados fitossanitários atrelados a elas e uma série de outros documentos exigidos por diferentes países. E que os navios formam filas e precisam ter uma cadência de carregamento. Isto escala muito a operação no porto e o atraso de qualquer ponta implica em prejuízos para toda a cadeia”, disse Marcos Amorim, Diretor do comitê de contratos da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC), cujas tradings associadas estão ativas usando a Covantis.

Dentro das tradings, o processo gera fluxos um tanto desordenados, que são gerenciados por e-mail, telefone e WhatsApp. Datas de chegada e partida, bandeiras de navios e volumes de mercadorias circulam sem parar, sobretudo nos picos de safra. E a cada erro desses “times de execução”, despesas e multas incorrem todos os dias.

Atualmente, segundo Petya, 70% do tempo dessas equipes é gasto com trocas de dados e outros 25% buscando ou deletando informações e, mesmo assim, pelo menos 5% dos avisos de chegada dos navios contêm inconsistências ou atrasam, isso quando não se perdem no processo.

Na Covantis, essas mensagens passaram a ser organizadas e criptografadas usando tecnologia blockchain, para evitar fraudes e garantir a segurança das informações. Alertas e notificações também facilitaram o apoio aos times de dentro das empresas.

Para Amorim, o potencial da Covantis é também de facilitar a resolução de disputas. “Com todas as informações guardadas, ficará fácil acompanhar a série de compromissos que um único e-mail gerava, independentemente até de fusos horários”, disse.

Do lado exportador, os primeiros a entrar na plataforma serão os expedidores de mercadorias e os vendedores FOB, que não oferecem serviço de frete. Na importação, entrará quem freta as cargas. No futuro, a ideia é incluir os vendedores que se encarregam também do transporte (CIF) e empresas que prestam serviços, por exemplo, de supervisão, inspeção ou fumigação de cargas. E, mais tarde, bancos, autoridades oficiais e escritórios alfandegários também, disse Petya. “Essa cadeia está toda interligada, e as grandes tradings logo perceberam que podiam agregar mais valor à indústria unindo forças do que criando plataformas individuais”, disse.

Segundo a CEO da iniciativa, a ambição da Covantis é reunir, gradualmente, todos os embarques de grãos e oleaginosas a granel de suas fundadoras no mundo. Argentina e Estados Unidos são os países onde a solução deve desembarcar depois do Brasil.

No futuro, devem constar ainda na plataforma indicações de fornecedores terceirizados para as operações portuárias e instruções documentais. Petya esclarece que o intuito nunca foi virar uma plataforma de negociação de commodities. “Nosso escopo está no fluxo do porto até o destino, até a carga ser entregue, descarregada e paga pelos compradores finais”.

Valor

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