Puxada pela tilápia, a piscicultura brasileira produziu 4,5% a mais em 2018 na comparação com 2017. O volume foi de 722.560 toneladas. O faturamento do setor cresceu na mesma proporção e chegou a R$ 5.067 bilhões. Desde 2014, quando foram produzidas 578.800 toneladas, a cadeia produtiva acumula crescimento de 24,83%.
Os números são da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR). Na última sexta-feira (15/2), a entidade lançou, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Anuário Brasileiro da Piscicultura 2019, que tem como base os dados do ano passado, em evento com participação de representantes da cadeia produtiva, instituições de pesquisa e do secretário nacional de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura, Jorge Seif Júnior.
O relatório mostra que a produção expandiu no Sul (+ 11,3%), que manteve a liderança no ranking nacional, Sudeste (+ 7,6%) e Nordeste (+ 20,6%) em 2018. Já nas regiões Norte e Centro-oeste, houve retração de 7% e de 7,8%, respectivamente.
“Foi um resultado bom para um ano com economia cheia de incertezas, problemas políticos e econômicos e greve dos caminhoneiros”, disse o presidente executivo da PeixeBR, Francisco Medeiros.
Só de tilápias, o Brasil produziu 11,9% a mais em 2018, 400.280 toneladas. O Paraná, líder do ranking nacional da espécie, colocou 123.000 toneladas no mercado. Segundo no ranking, São Paulo contabilizou 69.500 toneladas. Santa Catarina, o terceiro, 33.800 toneladas.
“O crescimento na tilápia é significativo e creio que, nos próximos anos, será ainda maior. Vemos a manutenção da tendência de anos anteriores nesse mercado”, afirmou Medeiros.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, atrás de China, Egito e Indonésia. Se o resultado no segmento é comemorado pelos piscicultores, a situação é diferente nos chamados peixes nativos, em que a produção caiu 4,7%. Foram 302.235 toneladas em 2017 e 287.910 toneladas em 2018.
Entre as causas citadas para a queda na produção, estão problemas climáticos, sanitários e de mercado em importantes regiões produtoras. Com o desempenho negativo, a participação do segmento, liderado pelo tambaqui, caiu de 43,7% no ano retrasado para 39,84% no ano passado.
“O setor de piscicultura tem de tentar resolver os problemas dos peixes nativos. Não só os técnicos, mas os de mercado. Não estamos conseguindo avançar no mercado interno, onde as pessoas já comem peixe. Por algum motivo, o tambaqui não está despertando interesse”, disse Medeiros.
A PeixeBR revela produção maior de peixes menos representativos no mercado nacional, como carpa, truta e panga. Neste segmento, a expansão foi de 8%, com volume passando de 31.82 toneladas em 2017 para 34.370 toneladas em 2018. A entidade vê potencial de expansão do segmento no médio prazo.
Balança comercial negativa
As exportações de peixes frescos, resfriados e congelados recuaram de 33.400 toneladas em 2017 para 32.417 toneladas no ano passado, com queda de 2,94%, segundo a PeixeBR. Mas a receita dos exportadores aumentou 9,14%, passando de US$ 124.6 milhões para US$ 136 milhões.
“O mercado interno vinha pagando melhor e o setor direcionou a produção. As exportações continuaram pequenas, mas precisamos aumentar, incrementar a política externa do setor produtivo”, declarou o presidente da entidade.
Carro-chefe da produção nacional, a tilápia foi também o principal peixe de cultivo exportado no ano passado. Só para os Estados Unidos, principal consumidor mundial da espécie, os embarques somaram 700 toneladas, gerando receita de US$ 5.5 milhões.
“Houve uma redução nos preços pagos pelo filé, mas o câmbio acabou compensando. O mercado externo, para quem estava pronto, foi ótimo”, afirmou Medeiros.
As importações de peixe fresco, congelado e resfriado foram menores entre 2017 e 2018, mas os números ainda mostram o tamanho do desequilíbrio na Balança Comercial do setor. O volume comprado pelo Brasil caiu de 335.000 para 295.000 toneladas e o valor, de US$ 1.071 bilhão para US$ 1.032 bilhão.
Acelerar o crescimento
Para este ano, a expectativa da PeixeBR é de crescer em um ritmo maior que o de 2018, podendo chegar a 10% no geral. Só na tilápia, a expansão deve ser de 15%. A entidade acredita também na recuperação do mercado de peixes nativos, cuja produção é liderada por Rondônia, Roraima e Pará.
“Esperamos quebrar a barreira de dois dígitos em 2019. Houve um aprimoramento da distribuição e a entrada de cooperativas e indústrias de outras proteínas no mercado, que trouxe uma pressão de vendas. Estamos também reforçando nossas ações no mercado externo”, disse Medeiros.
Ele disse acreditar que, até 2022, o setor esteja registrando taxas de crescimento em torno de 20% ao ano, e explicou que a participação dos peixes de cultivo no consumo está em torno de 3,7 quilos por habitante ao ano. Para chegar ao nível esperado de expansão para daqui três anos, bastaria acrescentar 300 gramas anuais no prato.
“Trabalhamos por um crescimento entre 20% e 25% ao ano nos próximos anos, que é o que toda a indústria consegue absorver”, afirmou o executivo.
Globo Rural