Teresa Cristina: “Venda de soja à China não afeta a Amazônia”

O agronegócio brasileiro está focado neste momento em conter casos do novo Coronavírus entre os trabalhadores do setor, além de adotar medidas estritas para evitar a contaminação, ainda que pouco provável, de produtos. A afirmação é da ministra brasileira da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, em entrevista exclusiva à Xinhua.

O país asiático, segundo a ministra, compra hoje 88% da soja brasileira destinada à exportação. “A China é um grande comprador e parceiro. Temos um produto de qualidade, com mais óleo. São mercados complementares. Além disso, tradings chinesas também operam no Brasil para levar os grãos à China”.

No entanto, Tereza Cristina refutou qualquer rumor de que o apetite chinês por soja corresponda ao desmatamento ou sua ampliação na região amazônica.

“A soja brasileira é produzida especialmente no Centro-Oeste e em estados da região Sul, e há espaço para que cresça sem desmatar nada”, garantiu a ministra, lembrando que o maior estado produtor no Brasil, o Mato Grosso, tem parte do território classificado como Amazônia Legal, embora não seja do bioma amazônico.

Portaria elimina risco da pandemia

Para evitar quaisquer casos ou riscos, o ministério, junto às pastas da Economia e da Saúde, publicou, por meio da Portaria Conjunta Número 19, de 18 de junho, uma série de medidas de segurança que indicam padrões para transporte, manuseio e outros quesitos na produção e escoamento do agronegócio brasileiro.

A partir de agora, todos os participantes da cadeia produtiva são obrigados a adotarem tais padrões, sob a fiscalização do governo.

A portaria coincide com esforços cada vez mais estritos da China para evitar uma segunda onda de contaminações pelo novo Coronavírus. Em Beijing, desde 11 de junho, foram confirmados casos no mercado distribuidor de produtos agropecuários de Xinfadi, responsável pelo abastecimento de 80% da capital chinesa.

A fonte primária do novo Coronavírus no local ainda é pesquisada. Produtores no Brasil temiam que controles mais estritos poderiam significar restrições às vendas brasileiras ao país asiático.

“Desde o início da pandemia, adotamos um Comitê de Gestão e Acompanhamento para prevenir casos nas cadeias do agronegócio brasileiro, a fim de que houvesse maior segurança para os trabalhadores”, afirmou a ministra.

“Os protocolos de segurança são de profissionais da saúde, cumprindo o que a ciência preconiza, junto a entes privados e infectologistas de hospitais como o Sírio-Libanês e o Einstein, em São Paulo”.

Tereza Cristina reforçou que não houve qualquer interrupção no agronegócio no Brasil, ainda que tenha havido situações pontuais, especialmente em frigoríficos. Para a ministra, o fato de a produção estar em um ambiente rural, com menos densidade populacional, pode ser um fator determinante.

Segundo ela, hoje há 102 frigoríficos brasileiros habilitados a vender proteínas para a China, entre carnes bovina, suína e de frango, e a ideia é conquistar a confiança das autoridades sanitárias chinesas para que elas aceitem plantas indicadas pelo ministério no Brasil.

Teresa Cristina disse que este é o padrão utilizado em relação à produção norte-americana e quem acaba por escolher os fornecedores são os próprios agentes de mercado.

Ampliação da cesta de exportação 

A ministra falou ainda sobre o desejo do ministério em ampliar a cesta de produtos agrícolas brasileiros exportados à China. Ela destacou a recente inclusão do melão como um dos produtos neste processo. Frutas estão entre as prioridades brasileiras para venda à China. A próxima, segunda a ministra, será a uva.

O governo também demonstra interesse de enviar castanhas e produtos vinícolas para a China. “Nossas espumantes são de excelente qualidade”, afirmou Tereza Cristina, ao comentar que o Brasil tem produtos agropecuários “de qualidade e em grande volume”.

O etanol está também entre as prioridades. “No Brasil, a gasolina tem adição de 27,5% de etanol por litro, o que garante uma energia mais limpa”, disse a ministra.

Em relação aos pequenos e médios produtores, Tereza Cristina informou que está trabalhando junto ao governo chinês para que sejam diminuídas as barreiras não tarifárias aos produtos, incluindo burocracias que permitem a habilitação de novos produtores para a venda.

A ministra acrescentou que, no caso das proteínas, 20% dos vendedores à China são de pequenos e médios produtores.

Recordações

Tereza Cristina já esteve duas vezes na China como ministra, posto que assumiu em 2019. Mas antes disso já havia conhecido o país, há 14 anos.

Segundo ela, a rapidez do desenvolvimento é algo que a impressiona, além dos benefícios para os cidadãos chineses. “Sou fã da China”, revelou a ministra, complementando que “o povo do país é sempre gentil”.

Além de Beijing, Tereza Cristina já visitou outras cidades, como Shanghai e localidades no interior. Sua intenção é voltar à China quando a pandemia passar. “A gastronomia também me encanta”, disse.

 

Xinhua

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp