O Manejo Integrado de Pragas (MIP) encontra manifestação favorável em Goiás, Estado que detém uma agricultura de ponta. Alípio Magalhães de Oliveira, supervisor de Agricultura da Emater, vê como “positivo” o processo de redução do uso de agroquímicos e garantir uma produção agrícola mais sustentável.
O assunto foi discutido em recente seminário da Semana de Integração Tecnológica (SIT), que buscou resposta para a questão. Foram apresentados os principais problemas fitossanitários da agricultura brasileira e também soluções desenvolvidas pela pesquisa, como a utilização de vírus, bactérias e de insetos benéficos para o controle de pragas nas lavouras.
A consultora Regina Lúcia Sugayama, sobre as ameaças fitossanitárias, ressalta que as pragas surgem em resposta às práticas agronômicas.
“A gente oferece condições para que determinada espécie se torne uma praga. Ambiente favorável, disponibilidade de recursos, além de características de adaptação da própria espécie, favorece o estabelecimento de pragas nas lavouras”, comenta.
Conforme a consultora explica, os riscos de prejuízos aumentam por causa do leque reduzido de ferramentas para o MIP e manejo de resistência. Essa utilização mais amiúde tem o claro apoio do supervisor de Agricultura da Emater em Goiás.
“A lentidão para registro de novos produtos químicos e biológicos dificulta o controle de pragas. Ao mesmo tempo, há um maior trânsito de pessoas e mercadorias, abertura de novas fronteiras agrícolas e mudanças na paisagem rural, fatores que facilitam a introdução e disseminação de novas pragas”, ressalta.
Nesse contexto, Sugayama sugere como estratégia a vigilância para evitar a entrada de novas pragas no País, com controle de trânsito e análise de risco em materiais vegetais.
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, sediada em Sete Lagoas, Minas Gerais, Fernando Valicente, sobre a importância do uso de agentes de controle biológico no MIP, explica que os agentes patógenos, que podem ser vírus, fungos ou bactérias, causam doenças nos insetos-praga.
BIOPESTICIDA
Para produzir um biopesticida, desta forma, utiliza-se um isolado específico para atacar a praga. Ao se fazer a seleção do patógeno, considera-se que ele deve apresentar alta virulência ao alvo, não pode causar danos a outras formas de vida e nem ter resíduo tóxico.
Assim, são desenvolvidos produtos biológicos à base de bactérias, como Bt (Bacillus thuringiensis), ou vírus, como o baculovírus. Os bioinseticidas combatem as pragas sem contaminar o meio ambiente ou provocar riscos à saúde dos trabalhadores rurais. Além disso, preservam os insetos benéficos nas lavouras.
A importância dos insetos benéficos foi demonstrada pelo pesquisador da Embrapa Ivan Cruz, que apresentou o controle de lagartas com o uso de vespinhas Trichogramma. Esses insetos têm aproximadamente meio milímetro e parasitam ovos de pragas, como a lagarta-do-cartucho e a Helicoverpa armigera.
“As vespinhas têm a vantagem de evitar o aparecimento das lagartas, pois parasitam o ovo da praga”, explicou. Ivan ressaltou que o Trichogramma está registrado junto ao Ministério da Agricultura para uso em milho, soja e tomate.
BIOFÁBRICAS
Biofábricas têm sido montadas para produção de Trichogramma, como no Rio Grande do Sul, onde um convênio entre a Emater e a Embrapa possibilitou a instalação de uma unidade para criação de vespinhas. Alencar Paulo Rugeri, da Emater-RS, relata a experiência, explicando que a cooperação técnica entre as duas instituições teve início em 2013, quando o pesquisador Ivan Cruz capacitou cerca de 200 técnicos da extensão rural em Manejo Integrado de Pragas.
A partir da capacitação, os extensionistas acompanharam cerca de nove mil hectares de lavouras no Rio Grande do Sul, verificando a ocorrência de pragas. Em seis mil hectares, não foi necessária nenhuma medida de controle. Em três mil hectares, recomendou-se o uso de Trichogramma como agente de controle biológico de lagartas.
A fim de disponibilizar Trichogramma de maneira ágil no Rio Grande do Sul, decidiu-se instalar uma biofábrica no Estado, que será útil para outros Estados. Para isso, técnicos da Emater gaúcha estiveram na Embrapa Milho e Sorgo, a fim de aprender as técnicas de produção das vespinhas. O projeto de edificação da biofábrica foi desenvolvido pelos profissionais da Embrapa e repassado à Emater-RS para a construção.
Em agosto de 2014, a biofábrica foi inaugurada, com o objetivo de difundir e fomentar o controle biológico, diminuindo o uso de inseticidas nas lavouras gaúchas. Como estratégia de fomento da tecnologia, a Emater faz a distribuição gratuita de Trichogramma para os produtores do Estado, que pagam apenas o transporte do material. Essas experiências logo estarão também em Goiás, acredita Alípio de Oliveira, da Emater-GO.
Fonte: Agrolink