A Associação dos Fornecedores de Cana-de-Açúcar da Região de Bariri (Assobari), que funciona no município de mesmo nome, em São Paulo, é a primeira organização de produtores rurais de cana do País a receber uma certificação mundial de sustentabilidade, concedida pela Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB). A partir deste mês de julho, os canavieiros da localidade vão poder comercializar créditos de carbono.
“A Assobari se destaca como pioneira na conquista desta importante certificação, que atesta a adoção de práticas e posturas para aumentar a produtividade e os cuidados ambientais. Ficamos muito felizes, porque este espírito de vanguarda tem encontrado eco e poderá, agora, ser implantado por outras entidades, inclusive ligadas à Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil)”, comenta o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), Arnaldo Jardim.
Na opinião do presidente da Associação, Acacio Masson Filho, o “selo” promoverá o progresso da Assobari e dos produtores canavieiros da região. “A certificação é o reconhecimento de que os produtores rurais de Bariri produzem cana-de-açúcar de maneira sustentável, em conformidade com as normas mundiais”, comemora.
“O impacto no processo produtivo da cultura é a maior produtividade por hectare de açúcar total renovável, menos impurezas e qualificação para os mercados internacionais de açúcar e etanol”, explica ele, acrescentando que a certificação abrirá a possibilidade de negociação de crédito de carbono de uma área de quase 13 mil hectares, pertencente aos produtores rurais ligados à Assobari, para companhias que têm déficit de carbono no mundo.
“Um dos pontos importantes da certificação é que o associado se enquadra em um protocolo de sustentabilidade com 300 itens e deve seguir com rigor as técnicas agrícolas, as leis trabalhistas e sociais, além das exigências de proteção ambiental”, explica Masson Filho.
Em sua opinião, este será apenas o primeiro passo para o desenvolvimento do processo de produção sustentável e de outros projetos que já estão sendo implantados. “Somos um, entre os 33 membros da Orplana, e estamos implantando na organização a gestão de sustentabilidade”, informa. “Somos 17 mil produtores de cana-de-açúcar e, compulsoriamente, teremos de chegar à certificação sustentável para disputar os mercados internacionais do segmento”, completa.
COMPROMISSO
Segundo o secretário de Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim, cada vez mais se faz necessário que a cadeia produtiva agrícola mantenha o compromisso com o meio ambiente: “Aqueles que se anteciparem a este processo terão vantagem de ganhos, valorizando seu produto e agilizando o acesso ao mercado, o que se reverterá em maior rentabilidade e produtividade”.
Para Jardim, cada vez mais o mundo segue a tendência de buscar medidas sustentáveis de produção, garantindo tanto a segurança dos alimentos quanto a preservação dos recursos naturais para as próximas gerações. “O agricultor é um importante agente neste processo. Ele é o melhor amigo da natureza, pois sabe que depende dela para continuar produzindo com qualidade e garantindo melhores condições de vida para si e sua família no campo.”
OUTRAS AÇÕES
Entre as medidas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), para promover a produção sustentável no setor canavieiro, Jardim destaca o Protocolo Agroambiental, realizado em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de SP, União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e Orplana. O objetivo é estimular e consolidar o desenvolvimento da produção sustentável de cana-de-açúcar em todo o Estado.
Conforme o secretário, tais medidas se refletem também no incentivo às pesquisas para a produção do etanol de segunda geração, além de novas variedades de cana-de-açúcar, na viabilização da bioeletricidade, entre outras ações.
“Na agricultura, de forma geral, estas medidas se traduzem no desenvolvimento de novas cultivares e no melhoramento genético, com vistas ao aumento da produtividade, de forma sustentável, e no controle biológico, uma alternativa ao uso de defensivos químicos”, explica. Ele informa ainda que, de acordo com os dados do Protocolo Agroambiental, apresentados em abril passado, 91,3% da safra já são colhidas de forma mecanizada, por um total de 3.272 colhedoras.
As signatárias do Protocolo, responsáveis por aproximadamente 92% da produção paulista e 44% da produção nacional de etanol, respondem pelas boas práticas ambientais em 5.405.772 hectares, o equivalente a 26,3% da área agriculturável do Estado de São Paulo.
RESULTADOS POSITIVOS
Jardim avalia que os números obtidos, a partir da adesão ao Protocolo Agroambiental, são muito positivos: deixou-se de emitir autorizações de queima que resultariam na emissão de mais de 8,65 milhões de toneladas de CO² e mais de 52 milhões de toneladas de poluentes; 258.773 hectares de áreas ciliares e cerca de 8,4 mil nascentes estão compromissados com a proteção e a recuperação pelo setor sucroenergético; reduziu-se 33% da quantidade de água utilizada pelo setor, entre 2010 e 2015, passando de 1,52 metros cúbicos de água por tonelada de cana para 1,02 metros cúbicos.
Com o objetivo de melhorar os sistemas da cultura canavieira, com ganhos de rentabilidade aos produtores rurais e menor impacto ambiental, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento também lançou, em abril deste ano, o boletim técnico “Recomendações de Práticas Conservacionistas para a Cultura da Cana-de-Açúcar. Na mesma época, foi constituído um Grupo de Trabalho (GT) para analisar e aprovar projetos de pesquisa, e monitoramento de novas tecnologias de manejo e conservação dos solos.
SISTEMA DE MUDAS
Por meio do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas (SP), a SAA também desenvolveu o sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) de cana. Trata-se de uma tecnologia de multiplicação, que poderá contribuir para a produção rápida de mudas, associada a um elevado padrão fitossanitário, ao vigor e à uniformidade de plantio. Neste método, reduz-se de 18 para duas toneladas de cana necessárias para o plantio de um hectare da cultura.
A Secretaria de Agricultura de SP ainda mantém o Centro Avançado da Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Cana, originário do Programa Cana, do IAC, que realiza trabalho multidisciplinar de melhoramento genético, ciências do solo, caracterização de ambientes de produção, fitotecnia, manejo de pragas e doenças e estimativa de produção.
“A busca pela sustentabilidade no processo produtivo agrícola, conquistada pela Assobari, está alinhada com a postura do Brasil, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (Cop 21), que reuniu representantes de 195 países em Paris, no ano passado; e com a lei estadual que propõe metas ousadas de redução de gases de efeito estufa, atitudes que farão muita diferença no futuro”, destaca Jardim.
Foto da capa: Reprodução TV TEM/Globo
Texto: por equipe SNA/SP