Há quatro décadas, sustentabilidade era uma palavra desconhecida dos brasileiros. O país precisava crescer economicamente em todos os setores. Negócios e questões ambientalmente sustentáveis não estavam na pauta governamental, nem da sociedade, nem dos agentes produtivos.
Mas em 40 anos tudo muda. Ideias chegam e vão, novos conceitos aparecem. Nesse período, o conceito de sustentabilidade ganhou força global. Deixou o status de modismo e marketing empresarial e tornou-se uma questão de sobrevivência para o planeta. A sustentabilidade veio para ficar. É uma bandeira legítima e vital para a humanidade. Ela não tem um único dono, tem vários: nós, todos nós que, de alguma forma, nos preocupamos com o futuro da Mãe Terra.
Em Minas Gerais, uma das principais mãos que sustentam essa bandeira é exatamente o setor agropecuário. O motivo é simples: para ser economicamente viável, um empreendimento rural precisa ser sustentável. Caso contrário, perecerá. A equação é fácil: sem meio ambiente, não há agropecuária. Por isso, arrisco-me a dizer que a agropecuária é, hoje, o principal pilar da sustentabilidade no estado. É verdade que, no passado, a necessidade de expandir as fronteiras agrícolas – o mundo, afinal, precisa de alimentos – alterou a vegetação em várias regiões. Mas isso é um modelo esgotado. Demos um passo gigantesco à frente.
As entidades ligadas ao setor rural em Minas, como a própria FAEMG, têm trabalhado duro para levar ao campo tecnologias que aumentem a produtividade sem comprometer o meio ambiente – e sem precisar de novas fronteiras. Temos conseguido exemplos extraordinários. Não nos limitamos a bater no peito e dizer “somos sustentáveis”, mostramos resultados.
O caso mais emblemático vem da pecuária leiteira: com o programa Balde Cheio, criado pela Embrapa e implantado em Minas pela FAEMG, a produtividade no setor deu um salto sem precisar de nenhum hectare (ha) a mais. Pelo contrário. Em Buritis, um produtor reduziu sua área de 60 ha para 10 ha, ao mesmo tempo em que a produção pulou de 134 litros de leite/dia para 509. Não é à toa que Minas é o maior produtor nacional de leite, respondendo por cerca de 30% da produção. No caso do milho, temos potencial e tecnologia para aumentar a produtividade de 5 mil kg/ha para 12 mil. Estamos fortalecendo programas de extensão rural para tornar esse arsenal tecnológico acessível a todos os produtores rurais.
Afirmo que, na questão da sustentabilidade, o campo está à frente de muitos outros setores da economia. A expansão desenfreada de cidades e condomínios é, hoje, muito mais nociva ao meio ambiente e à vegetação nativa do que qualquer atividade agrícola. Mas, curiosamente, as mesmas vozes ambientalistas, que tanto combatem e demonizam a agropecuária, estão caladas em relação às questões urbanas. Desconhecemos os motivos do silêncio. O que posso garantir é que estamos fazendo nossa parte. Prova disso é que, segundo dados do IEF (Instituto Estadual de Florestas), Minas mantém cerca de 34% de seu território com cobertura vegetal nativa.
Como disse o engenheiro agrônomo Francisco Graziano em recente palestra na Faemg, já é hora de mostrar que o produtor rural assumiu, de vez, a questão da sustentabilidade. Ele está certo. Sabemos, e não fugimos, da nossa tripla responsabilidade: manter um modelo de produção economicamente viável, dentro de um processo socialmente justo, e preservar o meio ambiente para assegurar a sobrevivência do negócio e das futuras gerações. Os resultados estão aí. Definitivamente, em Minas, a bandeira da sustentabilidade é nossa.
*Roberto Simões é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Fonte: Estado de Minas.