O cenário para o futuro da suinocultura brasileira não é bom e os representantes da cadeia receiam que pode ficar pior com a oferta de milho cada vez mais restrita. A conclusão foi apresentada durante audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Capadr) da Câmara dos Deputados, na tarde de terça-feira (4), em Brasília.
De acordo com o assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Victor Ayres, o efeito do dólar nos preços do milho brasileiro, a oferta e a demanda regionalizadas do produto e a grande exportação do grão são fatores determinantes para que, este ano, o preço se mantenha em patamares elevados para o suinocultor. Isto vem sendo mais sentido na região Sul, que concentra 60% da produção brasileira de suínos. “Temos de trabalhar por medidas de longo prazo para que o setor da suinocultura não fique vulnerável à volatilidade dos preços dos grãos”, frisou.
O assessor observou que a cadeia de grãos se organizou e conseguiu desenvolver medidas para capitalizar o produtor e proporcionar alternativas às baixas do preço. “Hoje, os produtores possuem armazenagem a campo, o que possibilita disponibilizar o produto em época de alta dos preços”, disse.
Para Ayres, a cadeia da suinocultura precisa seguir o mesmo exemplo e criar alternativas ao desabastecimento e não apenas esperar a intervenção do governo. “Além de educação financeira e politica agrícola que contemple melhor o produtor de proteína animal, é preciso políticas estaduais de autossuficiência na produção e armazenagem do milho nos estados deficitários”, disse.
Pelo mundo
Victor Ayres mostrou o exemplo da União Europeia (UE), que produz quase oito vezes mais carne suína que o Brasil e não sofre com a falta de milho para alimento dos animais. Segundo Ayres, na UE é viável a substituição do insumo por outras fontes energéticas. “Nos países europeus também existe volatilidade do produto. Mas eles conseguem sobreviver, pois a cadeia produtiva recebe subsídios diretos do governo”.
O assessor também falou sobre a China, que tem uma população enorme e também não sofre com a falta do milho. “O desabastecimento é a coisa mais séria para o país. Eles já sofreram com a fome. As políticas de apoio têm prioridades para garantir o abastecimento”. Ayres observou que a China tem estoques de 103 milhões de toneladas do produto. “No Brasil, não desenvolvemos políticas para garantir o abastecimento interno”.
Hoje, apesar de o Brasil ter uma Lei Agrícola (Nº 8171/91) que garante o suprimento e a manutenção de estoques reguladores para o abastecimento da sociedade, o que o país dispõe é de apenas 850 mil toneladas de milho em estoque para qualquer emergência.
Fonte: Canal do Produtor