A trading francesa Sucden estima que o mercado internacional de açúcar voltará a ter uma situação de produção superior ao consumo na safra 2017/18 – que começará em outubro do próximo ano – após dois ciclos de déficit. A projeção converge com a recente sinalização da Organização Internacional do Açúcar (OIA), de que o déficit de oferta de açúcar da safra atual seria “zerado” na próxima temporada. Até o momento, porém, esse cenário tem sido visto com ceticismo por executivos do setor.
Em apresentação feita na terça-feira (29) em um seminário da OIA, em Londres, a trading estimou que o superávit de oferta deverá ser de 2.1 milhões de toneladas de açúcar na próxima safra, revertendo o déficit de 4.5 milhões de toneladas calculados para a temporada atual. Duas semanas atrás, a OIA calculou que o déficit de oferta da safra atual seria de 6.2 milhões de toneladas, e que a relação seria mais “balanceada” em 2017/18, caso o clima se mantivesse em condições normais pelos próximos 21 meses.
O principal motivo para essa expectativa de virada é a Índia, afirmou Eduardo Sia, trader da Sucden no Brasil, ao Valor. A estimativa da trading é que a produção no país volte aos níveis anteriores ao El Niño, alcançando 28.1 milhões de toneladas de açúcar em 2017/18. “Na safra 2014/15 a produção (na Índia) foi semelhante. Depois houve problemas climáticos sucessivos. De uma produção de 28.3 milhões de toneladas passaram para 25 milhões de toneladas na safra 2015/16, e a safra 2016/17 deve ficar em 22.8 milhões de toneladas”, afirmou Sia.
Também há otimismo com a produção de açúcar da Europa como reação à valorização da commodity nos últimos 12 meses. A projeção é que saia de um patamar de 15 milhões de toneladas na safra atual para 17 milhões de toneladas no ciclo seguinte – volume que os europeus já conseguiram produzir no passado, segundo o trader. O impacto do fim das cotas de produção e exportação de açúcar na União Europeia (UE) não foi avaliado nesse cálculo.
As projeções da Sucden desconsideram eventuais impactos de fortes adversidades climáticas. Eduardo Sia ressaltou que também há elementos macroeconômicos que podem interferir nessas projeções, como a política chinesa para as cotas de importação e a retirada de moedas em circulação na Índia.
A perspectiva de um superávit, porém, é descartada por executivos de usinas no Brasil. Rui Chammas, diretor presidente da Biosev, disse em evento ocorrido na terça (29) que não vê expansão de capacidade ocorrendo no Brasil no curto prazo. Luis Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar, avaliou que não deve haver movimento nesse sentido nos próximos cinco anos. Para Helder Gosling, diretor comercial e de logística do Grupo São Martinho, ainda é cedo prever uma correlação entre oferta e demanda para a safra 2017/18.
Fonte: Valor Econômico