A hora é do produtor brasileiro de soja segurar suas vendas. A orientação que parte de analistas e consultores de mercado é reflexo de um cenário onde tudo está acontecendo ao mesmo tempo em que nada está confirmado. Dessa forma, talvez a cautela seja, de fato, a melhor postura a se adotar neste momento. Há, afinal, um combinado de fatores negativos pairando sobre os preços da oleaginosa no mercado brasileiro e as mudanças não deverão vir tão cedo.
Segundo Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, os sojicultores devem limitar suas vendas, pelo menos, até meados de abril e maio, quando a situação estiver um pouco mais clara e quando o mercado já irá conhecer melhor o que esperar da nova safra dos Estados Unidos.
“Estamos começando a passar pelo fundo do poço”, disse Cogo, alertando sobre uma tendência de baixa para os prêmios, que poderão ficar ainda mais baixos em março, combinados com um mercado patinando na Bolsa de Chicago e um dólar que também carrega um viés de baixa. “Há muitas variáveis em aberto”.
No intervalo de 10 a 15 de janeiro, somente, os preços da soja nos portos brasileiros acumulam uma queda de mais de 4%. Em Rio Grande, por exemplo, a saca caiu 5,13% no mercado spot, para R$ 74,00, e 5,53% para o embarque fevereiro, para R$ 73,50. No mesmo período, os prêmios também cederam consideravelmente nas principais posições de entrega. No terminal de Paranaguá, o prêmio para fevereiro caiu 20% de US$ 0,50 para US$ 0,40 sobre as cotação da Bolsa de Chicago, e o março foi de US$ 0,40 para US$ 0,35, queda de 12,50%.
E ainda segundo o executivo, somente em 2019, a queda do dólar se aproxima de 6%, o que pesa ainda mais sobre os preços. Nesse âmbito, o destino da moeda americana, ao mesmo em partes, virá das próximas decisões do governo federal e de suas conquistas no Congresso Nacional.
Ao mesmo tempo, os custos aumentaram para o produtor brasileiro, nesta temporada 2018/19, entre 6% e 8% nas principais regiões produtoras do país, o que exige, portanto, uma comercialização ainda mais planejada e eficiente. O chefe do setor de grãos da Datagro, Flávio França, compartilha da opinião de Carlos Cogo, e afirma que novas vendas, portanto, deverão ser feitas somente na necessidade imediata do cumprimento de compromissos financeiros.
“As mudanças não devem ser grandes agora, entre janeiro e fevereiro, a tendência, na verdade, no curto prazo, é piorar”, explica França. Além de todos os fatores que pressionam Chicago, os prêmios, e o dólar, há ainda a colheita ganhando cada vez mais ritmo no Brasil, apesar das perdas pelo clima, e essa maior oferta de produto disponível. E até este momento há menos de 35% da soja 2018/19 comercializada no Brasil.
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