O nematoide Aphelenchoides. sp foi apresentado como agente causador da soja louca 2, doença que pode comprometer em até 60% a produtividade em lavouras de soja. A apresentação foi feita por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), durante 7º Congresso Brasileiro de Soja, em Florianópolis (SC), no dia 24 de junho.
A anomalia, que desde 2005 preocupa produtores nacionais de soja, teve forte incidência, principalmente, nas regiões produtoras mais quentes do Brasil, nos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. A doença provoca redução da produtividade em função do elevado índice de abortamento de flores e vagens e do alto percentual de desconto no valor da soja, devido a presença de impurezas, ou seja, pedaços de tecido verde e grãos podres, que propiciam apodrecimento da massa de grãos. Os maiores índices de ocorrência da doença foram em anos com maior frequência de chuvas, na entressafra e início de safra.
Desde 2011, a Embrapa Soja desenvolve projeto de pesquisa multidisciplinar em parceria com várias outras instituições, com o objetivo de investigar as possíveis causas da doença e dar suporte ao monitoramento da ocorrência do problema no Brasil. O pesquisador da Embrapa Soja Maurício Meyer explica que os sintomas desta doença foram reproduzidos em plantas sadias, inoculadas com Aphelenchoides sp., indicando que a presença deste gênero de nematoide tem implicações na manifestação do problema.
Segundo Maurício, após exaustivos estudos da doença, foram descartadas as hipóteses de possíveis causas por ácaros ou vírus. O estudo observou ainda que sistemas de cultivo com rigoroso controle de plantas invasoras, em pré e pós semeaduras, têm revelado maiores reduções da incidência de soja louca 2.
De acordo com a pesquisadora da Epamig Luciany Favoreto, que há 15 anos estuda nematoides da parte aérea das plantas, a grande maioria dos fitonematoides são encontrados no solo. “Essa descoberta causou estranheza na comunidade científica quando anunciada, já que até então, espécies de Aphelenchoides eram conhecidas apenas como causadoras de doenças em arroz, morango, crisântemo e feijão. Na parte área da soja é o primeiro relato”, explica.
Luciany explica ainda que plantas com sintomas de soja louca 2 foram analisadas no laboratório de Nematologia da Epamig, em Uberaba, de março a junho de 2015. “Com uma população pura do nematoide foi possível realizar o estudo conhecido como ‘Postulado de Koch’, que preconiza que o patógeno vindo de uma cultura pura deve ser inoculado em plantas sadias da mesma espécie ou variedade na qual apareceu, e deve provocar a mesma doença nas plantas inoculadas.
“Após 12 dias da inoculação do patógeno em plantas sadias, em nosso laboratório, estas começaram a apresentar os mesmos sintomas das plantas doentes. Desta forma, provou-se que o Aphelenchoides sp. é o provável agente causador da Soja louca 2”, diz a pesquisadora. Ela acrescenta que as populações puras, que estão sendo multiplicadas no laboratório de Nematologia da Epamig, em Uberaba, serão úteis para estudos posteriores sobre a patogenicidade e a taxonomia.
Segundo os pesquisadores, a descoberta do agente causal foi um passo importante para as comunidades científica e rural, mas ainda é preciso identificar as espécies do grupo Aphelenchoides. “Vamos realizar mais estudos com o objetivo de investigar formas de sobrevivência dos nematoides, plantas hospedeiras alternativas, colonização e infecção na soja, para que o sojicultor possa adotar medidas de controle e conviver com esta doença no campo”, concluem.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Epamig no CBSoja