Soja: Depois de forte queda durante o pregão, mercado fecha em leve baixa

O relatório mensal de oferta e demanda do USDA trouxe números realmente impactantes para a safra de soja dos Estados Unidos. A estimativa para a produção 2016/17 foi de 110.5 milhões de toneladas, com uma produtividade recorde de 55,45 sacas por hectare. Embora bem mais elevadas do que as estimativas de julho, as expectativas do mercado já sinalizavam esse potencial.

“Foi uma surpresa, mas pelo que vinha acontecendo, pelas condições de lavouras, já se esperava que o USDA ajustasse os números, mas ele os corrigiu de maneira bem forte”, disse o diretor de commodities da INTL FCStone, Glauco Monte. E apesar disso, o impacto do relatório no mercado futuro norte-americano foi bastante limitado.

Após uma forte de que logo após a divulgação do relatório, os principais vencimentos se recuperaram e fecharam em leve queda de 1,25 a 2,75 centavos. O setembro/16, indicativo para o mercado spot, terminou o dia cotado a US$ 9,99, em baixa de 2,75 centavos, após registrar uma mínima a US$ 9,81. O novembro/16, referência para a safra americana, encerrou os negócios cotado a US$ 9,81 ¾, em baixa de 2,25 centavos, após registrar uma mínima a US$ 9,62 ½.

A limitação da queda, segundo Monte, se deu também pelos dados do relatório do USDA relativos à demanda. Os números, tanto das exportações quanto do esmagamento norte-americano foram revisados para cima, ficando em 53,08 milhões e 52,8 milhões de toneladas, respectivamente.

“A demanda é algo crescente, constante e que vem fazendo seu papel. Tivemos safras recordes e elas foram consumidas. Os EUA devem bater recorde de exportação e a China vem aumentando suas importações de 5 a 10 milhões de toneladas ano após ano”, disse o executivo da FCStone. “E a demanda nos níveis atuais dá um bom suporte para os preços, mesmo com grandes safras confirmadas”, disse.

A força da demanda pôde ser observada ainda na expressiva redução dos estoques finais de soja da temporada 2015/16 dos EUA. A estimativa caiu de 9.54 milhões para 6.95 milhões de toneladas, ficando abaixo da expectativa do mercado de 7.76 milhões a 10.07 milhões de toneladas.

“Se realmente forem confirmados os números do relatório, o mercado se acomodará, oscilando ao sabor da demanda e à espera da situação climática na América do Sul. Acredito que a demanda seja o pano de fundo, que vai perdurar ao longo do tempo. Já o clima dará sinalizações de curto prazo. A demanda forte elevou o grau de sensibilidade dos preços e pequenos transtornos climáticos, uma vez concretos, podem provocar oscilações mais agudas”, disse o analista Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais.

Na semana

E durante esta semana, foi exatamente este o cenário que movimentou os preços, trazendo ainda mais volatilidade para os negócios na Bolsa de Chicago. No balanço final, o resultado foi positivo e os contratos mais negociados fecharam em alta de 0,74% no novembro/16 a 1,11% no setembro/16.

“O fato é que o clima ainda segue como o principal fator. A redução nos estoques de 2015/16 não deixa o mercado cair, dá certo suporte, e o aumento das estimativas de colheita limitam maiores altas”, disse Motter. “Acredito que ainda temos de 30 a 40 dias em que o clima nos EUA é decisivo, embora as últimas informações sejam de andamento adequado”, disse.

Durante toda a semana, essa força da demanda veio sendo mostrada pelos anúncios diários do USDA de novas vendas, que ajudaram a fortalecer o movimento de alta das cotações. “E o estímulo para a demanda vem dos preços – que estão abaixo da média dos últimos cinco anos em Chicago – com os EUA voltando a se tornar competitivo no mercado internacional, principalmente em função do dólar”, disse Glauco Monte.

O USDA anunciou hoje uma nova venda de 258.000 toneladas de soja da safra 2016/17 para a China. No acumulado da semana, as vendas norte-americanas de soja, incluindo a de hoje, totalizaram 873.000 toneladas.

China

A China vendeu 13 milhões de toneladas dos estoques governamentais desde maio, atendendo a decisão de reduzir o programa anual de suporte de preços.

Mercado Brasileiro

No Brasil, a câmbio representa o papel inverso e tem sido o principal problema para os preços da soja. A maior parte das principais praças de comercialização do País registrou uma nova semana de quedas das cotações, como mostra um levantamento feito por André Bittencourt Lopes, economista do Notícias Agrícolas. As perdas variaram entre 0,69% 5,97%, com preços entre R$ 64,00 e R$ 78,00 por saca.

O dólar, apesar da alta expressiva de 1,43% registrada hoje, acumulou na semana, uma valorização de apenas 0,50%, fechando cotado a R$ 3,1850 para venda e ainda não permite uma recuperação dos preços no mercado interno. Dessa forma, tivemos mais um dia de negócios travados, regionalizados e de baixos volumes.

“O produtor está à espera que ocorra algum evento climático nesta reta final da safra dos EUA, bem como espera preços acima de paridade no período de entressafra”, disse Camilo Motter.

Nos portos, ao contrário do que ocorreu no interior do Brasil, a saca conseguiu fechar a semana e alta próxima dos 2%. Entre Paranaguá e Rio Grande, a saca do produto disponível foi cotada a R$ 82,00 e R$ 79,00 e no mercado futuro a R$ 78,00 em ambos os terminais.

“O produtor brasileiro deve continuar muito atento ao câmbio, ao mercado interno, aos seus custos de produção para a próxima safra, e as oportunidades que as relações de troca podem oferecer. O importante é que ele sempre procure ferramentas de comercialização diferenciadas para poder aguardar novas altas de preços de maneira mais segura”, disse Glauco Monte.

Milho: Apesar do aumento expressivo na safra dos EUA, mercado fecha em leve alta 

A semana foi de leve baixa para os contratos futuros do milho negociados na CBOT. Os principais vencimentos registraram queda de 0,28% a 0,62%, de acordo com o levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bittencourt Lopes. Já nesta sexta-feira (12), apesar de registrar nova mínima de sete anos, os principais vencimentos se recuperaram e fecharam o pregão em leve alta de 1,25 e 1,50 centavos. O vencimento setembro/16 fechou cotado a US$ 3,22 ¼, com mínima a US$ 3,12, enquanto o dezembro/16 fechou cotado a US$ 3,33, com mínima a US$ 3,22 ½ o bushel.

Nos últimos dias, o mercado se preparou para o relatório de oferta e demanda do USDA divulgado hoje e que estimou a produção de milho norte-americana da safra 2016/17 em 384.91 milhões de toneladas. No mês anterior, a estimativa foi de 369.34 milhões de toneladas e as expectativas do mercado estavam próximas de 375.5 milhões de toneladas.

A produtividade também apresentou uma alta considerável e foi estimada em 185,32 sacas por hectare. Em julho, a estimativa foi de 177,8 sacas por hectare. Já os estoques finais foram estimados em 61.19 milhões de toneladas, contra as 52.86 milhões de toneladas do relatório anterior. As exportações também foram revisadas para cima e foram estimadas em 55.25 milhões de toneladas. No mês passado, a estimativa foi de 52.07 milhões de toneladas.

“O número da safra veio acima das expectativas. Porém, com o clima favorável, já se esperava uma grande produção. As lavouras estão na fase final de florescimento e enchimento de grãos. Agora, o milho já está barato e o que pode se dizer é que mostra mais dificuldade para subir com as estimativas do USDA”, disse o consultor Vlamir Brandalizze.

E o consultor de grãos da INTL FCStone, Glauco Monte reforçou que, “fica muito difícil prever grandes altas de preços. Tivemos um aumento na produção e nos estoques nos EUA. No ano passado, tivemos as cotações trabalhando oscilando no intervalo de US$ 3,00 e US$ 3,50 o bushel e esse ano não deve ser muito diferente, ou seja, um ano com pouca volatilidade”, disse.

Mercado interno

No mercado doméstico, as cotações do cereal apresentaram movimentações mais expressivas. Em Avaré (SP), a saca caiu 8,89%, cotada a R$ 40,05. Em Ponta Grossa (PR), a saca recuou 4,76%, cotada a R$ 40,00. Nas regiões de Assis e Itapeva, ambas em São Paulo, a queda foi de 4,54%, com a saca cotada a R$ 41,03. Em São Gabriel do Oeste (MS), a saca recuou 2,70% e encerrou a semana cotada a R$ 36,00.

Na região de Barretos (SP), a queda foi de 2,42% com a saca cotada a R$ 39,08. Em Não-me-Toque (RS), a saca caiu 1,15%, cotada a R$ 43,00.

No Porto de Santos, a semana também foi negativa, com a saca caindo 1,39%, cotada a R$ 35,50.

Em contrapartida, os preços voltaram subir nas praças de Mato Grosso. Em Tangará da Serra e Campo Novo do Parecis, a alta semanal foi de 11,11%, com a saca cotada a R$ 30,00. Em Sorriso(MT), a alta foi de 13,46%, com a saca cotada a R$ 29,50.

No terminal de Paranaguá, a saca para entrega setembro foi cotada a R$ 32,00, com valorização semanal de 3,23%.

“No mercado interno, ainda temos um cenário apertado, por mais que haja estimativas de estoques e produção expressivas no mercado internacional. Porém, os produtores devem estar atentos à diferença de preços para exportação e no mercado doméstico. Isso pode pressionar o mercado em algum momento. Por essa razão, temos nos dar conta de que é o mercado interno que está comprando o milho, mas ele tem se enfraquecido. A economia brasileira tem deteriorado as margens do setor de carne”, disse Monte.

O consultor disse ainda que o mercado está se enfraquecendo, já que há uma expectativa de redução do plantel de aves e alternativas têm sido utilizadas pelo setor de ração. “Isso pode segurar uma alta de preços, apesar das cotações continuarem elevadas. Acredito que ainda teremos valores rentáveis para os produtores até 2017, mas em algum momento será preciso um ajuste no mercado”, disse.

O consultor ainda chama atenção para as exportações brasileiras. “A perspectiva é que cumpramos apenas os contratos feitos. Isso pode fazer com que o milho se volte para o mercado interno. Então, mesmo que o produtor não tenha a intenção de vender, é preciso procurar ferramentas de gerenciamento de risco, já que o mais seguro é vender com margem”, disse.

Safrinha 2017

Na visão do sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, os preços para a fixação da safrinha de milho 2017 recuaram e já estão próximos dos custos de produção. O cenário é decorrente das quedas registradas recentemente nos dois principais fatores de formação dos preços: o dólar e as cotações na Bolsa de Chicago.

“Com isso, aqueles produtores que planejaram uma venda antecipada não conseguirão fixar os preços nos patamares que estavam sendo praticados há 20 dias, em torno de R$ 20,00 a R$ 21,00 a saca. Hoje, as cotações estão ao redor de R$ 16,00 a saca e se aproximam dos custos de produção médios, o que antecipa uma expectativa de que a próxima safrinha seja perigosa”, disse o sócio-diretor da consultoria.

Fonte: USDA

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