Soja de R$ 200,00 no Brasil já está no radar dos especialistas com falta de interesse vendedor

Os tão esperados R$ 200,00 por saca de soja pagos para o produtor brasileiro de soja podem não estar tão distantes, segundo o consultor Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, afirmou ao Notícias Agrícolas nesta terça-feira (25). A disputa precoce entre a demanda externa e as indústrias processadoras tem contribuído para uma manutenção de preços altos tanto para a exportação, quanto para a demanda interna, reflexo de uma incerteza ainda grande sobre o tamanho real da oferta brasileira na temporada 2021/22.

“A safra ainda está indefinida, então o produtor segue evitando novos negócios. O que está sendo embarcado ou entregue é de vendas que foram feitas anteriormente. O produtor colhe e entrega. E quem não está colhendo, sem garantias, também evita de vender”, disse Brandalizze.

Face a este cenário, as indústrias do sul do Brasil têm ofertado até R$ 190,00/CIF, para garantir matéria-prima para dar continuidade às suas atividades e para garantir que irá participar do atual bom momento das margens de esmagamento bastante elevadas, enquanto os portos sinalizam indicativos de R$ 186,00 no disponível ou R$ 187,00 para embarque julho.

E sem grandes movimentos de venda do sojicultor brasileiro combinando com essa demanda forte, acompanhada da típica disputa entre demanda interna e exportação acontecendo mais cedo este ano, sobem também os prêmios da soja mesmo em plena colheita. Para agosto, o mercado já sinaliza até US$ 1,30 por bushel acima das cotações na Bolsa de Chicago, o que leva a oleaginosa nacional a superar os US$ 15,00 por bushel.

“Vai faltar soja nas indústrias do Sul. Nem mesmo a oferta dos R$ 190,00 promoveu o interesse vendedor, e assim pode ser que elas tentem trazer algum volume de Mato Grosso”, acredita Vlamir Brandalizze.

E essa escassez de soja não só esperada para o Brasil, mas para a América do Sul de uma forma geral deverá seguir dando espaço de suporte para as cotações e até mesmo para que patamares mais elevados sejam testados. Segundo Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócios, o mercado na Bolsa de Chicago dá fortes sinais de firmeza, com realizações de lucro passageiras.

Assim, em sua análise, Fernandes reafirma este comportamento mais reticente do produtor brasileiro, acreditando que os futuros da soja poderão testar estes níveis mais elevados na CBOT.

“As origens na América do Sul estão colhendo e cumprindo seus contratos, mas não estão fazendo novos”, indicou o consultor, mas complementa afirmando que os sojicultores estão muito atentos à deterioração que a safra brasileira ainda registra, à volatilidade do dólar, ao andamento do cenário geopolítico internacional, que também está bastante delicado, e aos impactos que esses fatores podem trazer aos mercados de commodities e cambial.

Ademais, os sojicultores ainda dividem suas atenções com as margens extremamente positivas das esmagadoras locais que caminham ao lado de exportações também muito fortes. “Devemos ter bons volumes de exportação em fevereiro e março, os navios estão chegando, mas para serem carregados com uma soja que foi vendida anteriormente”, indicou.

Neste ambiente, Fernandes reforça a necessidade do produtor brasileiro contar com um eficiente planejamento comercial, incluindo aqueles que estão em áreas onde a safra foi boa ou regular, colhendo normalmente. “O produtor agora tem que se focar em tirar o máximo que puder de grãos das suas lavouras e estar alinhados com seus parceiros, com as empresas que atua para eventuais necessidades de renegociação e começar seu planejamento para 2023”, orienta.

2022 é um ano que já deu oportunidades para o produtor brasileiro de soja e ainda deverá dar mais, o importante, segundo ele, é estar protegido e planejado. “O perigo é não proteger nada e passar por uma possível realização de lucros sem estratégia”, disse.

A Terra Agronegócios ajustou a sua estimativa para a safra brasileira de soja para 131.37 milhões de toneladas, contra a estimativa inicial de 144 milhões de toneladas.

Ginaldo Sousa, diretor geral do Grupo Labhoro, compartilha desta opinião. “O produtor deve estar sempre participando do mercado, aos poucos, fazendo preços médios”, acredita o especialista, lembrando das chuvas melhores previstas nos mapas climáticos para o começo de fevereiro na América do Sul. Sousa reitera a força dos prêmios neste momento e as chances de alta que Chicago ainda tem a frente diante da quebra sul-americana.

“As estimativas atuais para a safra brasileira têm variado entre 133 e 135 milhões de toneladas, contra um potencial inicial de, pelo menos, 147 milhões de toneladas. E esse volume de 12 a 15 milhões de toneladas que se perdeu aqui deverá ser reposto pelos EUA e isso, certamente, irá dar suporte às cotações em Chicago”, disse o diretor da Labhoro. “A China precisa vir a mercado para suprir os volumes que precisa de abril até agosto”.

Para Sousa, “se trata de um momento muito singular, muito importante para o produtor brasileiro. E disse ainda que as próximas 72 horas serão determinantes para o mercado internacional de grãos. No radar, a escalada de tensões entre Rússia e Ucrânia, que podem impactar diretamente os mercados de milho e trigo, puxar as cotações dos grãos e, consequentemente, os da soja, a decisão do Federal Reserve sobre os juros nos EUA, o que poderia, na medida em que a taxa fosse elevada, levar os fundos a mudarem o destino de seus investimentos, pressionando os futuros, e a definição para o clima na América do Sul.

O analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, relata uma comercialização ainda acontecendo em ritmo lento no Brasil, principalmente pela preocupação do produtor das perdas sendo contabilizadas no campo.

“Com Rio Grande do Sul e Paraná perdendo bastante a safra faz com que os produtores aqui, naturalmente, vendam pouco, já que estão com medo de colher menos do que o esperado e boa parte das perdas é irreversível e são perdas bastante relevantes, o que faz com que naturalmente eles avancem menos com comercialização”, disse.

Já os produtores nos demais pontos do País, que estão começando a colher, também não avançam em um ritmo “normal” porque também monitoram as perdas no Sul e na Argentina, apostando que os preços irão melhorar, já que a pressão da entrada da safra pode ser menor este ano por conta das quebras.

“Seja por Chicago melhor, que pode refletir essas perdas de forma mais acentuada nas próximas semanas, seja pelos prêmios internos que estão firmes porque tem menos oferta de soja. A demanda está firme, com essa disputa já entre mercado interno e exportação, já estamos com um lineup de 7 milhões de toneladas para fevereiro, e é muita coisa para fevereiro, e essa disputa vai se acirrar daqui pra frente”, disse o analista.

Para Gutierrez, o mercado brasileiro se encaminha para um cenário semelhante ao de 2020, mas dessa vez por uma quebra acentuada de safra, lembrando também dos prêmios ainda em alta mesmo com a entrada da safra 2021/22. “Reflexo direto dos problemas produtivos no Sul do Brasil e na Argentina”, disse.

Fonte: Notícias Agrícolas 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp