Soja: “China está comprando menos agora para comprar mais depois”, diz analista

“Não é um problema de falta de demanda. Mas pontual de logística”, disse o analista Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, sobre a atual da situação do comércio da China frente ao coronavírus. O surto colocou a nação asiática em uma situação de isolamento de milhões de pessoas e províncias, além de comprometer severa e agressivamente o ritmo do abastecimento.

Segundo Vanin, os portos na China não estão funcionando normalmente, com os funcionários sendo mantidos em casa, em mais uma medida do governo de tentar isolar o máximo de pessoas para evitar um agravamento da transmissão do coronavírus.

“A China está tentando implementar o maior programa de home office da história”, afirmou Vanin, se referindo aos trabalhadores impedidos de voltar às suas funções normais, tendo de trabalhar em suas casas. “O tempo de espera dos navios já é maior”.

Dessa forma, o analista volta a dizer que os negócios, também no Brasil, não fluem em ritmo regular. No entanto, acredita que têm potencial para se recuperar na medida em que a situação for se restabelecendo e a China for encontrando soluções para o vírus que já matou mais de 400 pessoas e infectou mais de 20.000. “A China vai comprar menos agora, para comprar mais depois”.

O Brasil fechou janeiro com exportações de soja de 1.49 milhão de toneladas. Embora o volume seja menor do que o do mesmo período do ano passado, é maior do que as expectativas iniciais, de 1.2 milhão de toneladas.

“Esse ritmo menor das exportações de soja do Brasil agora é o reflexo do atraso do plantio da safra. A colheita está atrasada, pois ainda está chovendo, isso é um fato”, disse o diretor geral da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), Sérgio Mendes. “Em 2018, as exportações de soja foram recordes e limparam os estoques. 2019 também foi um ano forte. Então, por hora, não há qualquer razão para se preocupar”.

Segundo apurou o Notícias Agrícolas, a China comprou sete navios de soja na semana passada, período do feriado de Ano Novo Lunar, e segue buscando mais produto para embarques entre março e abril. No entanto, encontra dificuldade em conseguir novas ofertas. O “lineup” cobre apenas navios nos portos de nomeados que já somam 6.33 milhões de toneladas, com potencial para alcançar oito milhões de toneladas.

A imagem abaixo de 30 de janeiro mostra, nas setas verdes, os navios de soja saindo do Brasil em direção à China. O fluxo é tímido se comparado com o de outros meses, justamente em função dessa menor disponibilidade de produto no mercado brasileiro.

Navios com soja da América do Sul para a China em 30 de janeiro de 2020 – Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

“O “lineup” brasileiro mostra um ritmo muito mais intenso para fevereiro. Há um ano, em fevereiro de 2019, o Brasil exportou um recorde de 5.3 milhões de toneladas e 84% foi para a China”, afirmou a especialista em commodities da Reuters Internacional, Karen Braun.

Abaixo, Karen faz um comparativo com imagens do fluxo de navios da América do Sul para a China, mostrando a intensidade das vendas para a nação asiática em 2019. A primeira imagem é de 22 de março e a segunda, de 17 de setembro.

Navios com soja da América do Sul para a China em 22 de março de 2019 – Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun
Navios com soja da América do Sul para a China em 17 de setembro de 2019 – Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

Portos da China

Segundo o site internacional Seatrade Maritime News, já há 16 portos e grupos portuários que começam a oferecer isenções e reduções de tarifas na medida em que se intensifica a luta dos chineses contra o coronavírus. Afinal, segundo especialistas ouvidos pelo portal, a demanda por estes serviços poderá ser reduzida, já que em muitas regiões o feriado do Ano Novo Lunar foi prolongado até 9 de fevereiro.

“O transporte marítimo depende da demanda externa, que atualmente permanece um pouco afetada, e uma desaceleração da indústria chinesa, induzida pelo coronavírus, pode levar a menores exportações de contêineres da China. As principais transportadoras já começaram a deixar mais travessias em branco e a tendência deverá persistir se o vírus continuar a se espalhar”, disse a BIMCO, um conselho de operadores de serviço marítimo, ao Seatrade.

Em contrapartida, os portos chineses criaram um canal de transporte mais rápido e eficiente para a chegada à China de suprimentos para o combate à epidemia.

O site também internacional PortStrategy, indica que apesar de uma ordem do Ministério dos Transportes da China de que fossem mantidas as atividades portuárias no país, profissionais do comércio local já começam a relatar um ritmo mais lento nos portos, um tempo menor de entrega das embarcações e um processamento também menos rápido das mercadorias nos pátios, já que o número de funcionários na ativa é agora bem menor.

“Algumas empresas chinesas sofreram graves impactos sobre suas mercadorias e logística e podem não ser capazes de cumprir seus contratos em meio ao surto de coronavírus”, destacou o comunicado do Conselho de Promoção do Comércio Internacional da China, CCPIT na sigla em inglês.

Além dos portos chineses, terminais de outros países também estão adotando medidas de prevenção, com o objetivo de espalhar ainda mais o vírus.

Portos do Paraná

A assessoria de comunicação da APPA (Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina) informou que em seus terminais as operações seguem normalmente, sem atrasos de qualquer natureza, e sem reflexo do surto do coronavírus na China. “Estamos enviando e recebendo normalmente”, disse a assessoria.

Ainda segundo a APPA, os navios que chegam da China já passaram do prazo de 21 dias para o aparecimento dos sintomas causados pelo vírus, e tudo corre “sem complicação”.

Além disso, os representantes dos portos se reuniram nesta segunda-feira (3/2) com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e demais órgãos de saúde para alinhar medidas contra o coronavírus no Estado do Paraná.

 

Notícias Agrícolas

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