Questões relacionadas à produtividade, competitividade, preservação ambiental, comércio internacional e perspectivas para o agro em 2020, foram debatidas na comemoração do 123º aniversário da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), no dia 31 de janeiro.
Autoridades governamentais, lideranças do Agro, políticos, empresários, produtores e economistas participaram do almoço na sede da entidade, no Rio de Janeiro.
Antonio Alvarenga, presidente da SNA, abrindo o evento, destacou o contínuo crescimento do setor, mencionando que, “nos últimos dez anos, o agronegócio brasileiro deixou um saldo na balança comercial brasileira de quase um trilhão de dólares”.
Amazônia
Ao falar sobre sustentabilidade, Alvarenga defendeu a exploração da Amazônia em benefício da população local. “A Amazônia não pode ser considerada um santuário intocável. Temos naquela região uma riqueza fantástica, uma diversidade extraordinária, e deixar de explorá-la seria um crime contra aqueles que vivem lá”, disse.
“Da mesma forma que há 40 anos a Embrapa estudou o Cerrado, que era uma área improdutiva, e que hoje apresenta uma das maiores produtividades do mundo, é preciso desenvolver pesquisas para a exploração sustentável da Amazônia, para proporcionar qualidade de vida e dignidade a sua população, assim como ocorreu no Cerrado”, afirmou Alvarenga, acrescentando que é necessário investir na educação da população local para que se tenha maior consciência ambiental.
Nesse contexto, o presidente da SNA mencionou um levantamento realizado pelo chefe-geral da Embrapa Monitoramento, Evaristo de Miranda – também presente ao encontro – e lembrou que “66% do território brasileiro é ocupado por áreas preservadas sendo 25% dentro das propriedades rurais”.
“O produtor é quem banca essa preservação e isso não acontece em nenhum país do mundo. Portanto, não é exagero dizer que o nosso agronegócio é o que mais preserva o meio ambiente”.
Alvarenga fez comentários também sobre a importância das micro e pequenas empresas para o crescimento da atividade econômica e do número de empregos criados por esses segmentos no País, enfatizando a importância do setor cooperativista na cadeia produtiva do agro, sobretudo no comércio exterior. “Uma parcela significativa das exportações da produção agrícola brasileira passa pelas cooperativas”, destacou.
Novos parâmetros
Carlos da Costa, secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, disse que a agropecuária, de 1975 até hoje, cresceu 3,08% em produtividade por ano, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e chamou a atenção para os novos parâmetros que estão sendo incorporados ao agro.
“Precisamos pensar em políticas transversais de produtividade, reunindo setores que tenham a mesma visão, tanto para a formação de mão de obra quanto para o desenvolvimento da cadeia do agro. É necessário também haver uma visão global de competitividade e continuarmos a nos modernizar, a exemplo da Agricultura 4.0”, ressaltou Costa.
Fazendo menção ao contexto econômico atual e da necessidade de ‘enxugar’ do Estado, o secretário enfatizou que “o excesso de governo é que trouxe a crise para o País”. Segundo ele, “o Brasil precisa de menos governo, menos intervenção, menos dificuldade de fazer negócios e de mais associativismo e de algumas políticas monitoradas em parceria com o setor privado. Dessa forma, o País sairá da crise”.
Para Costa, essa visão também vai exigir do setor privado uma nova representação, “que dependa menos de recurso público compulsório, de organizações que representem melhor o agronegócio, assim como a SNA, com toda a sua informalidade”.
Metas de governo
O secretário relatou as metas do ministério para o crescimento da economia, entre elas, a melhoria do ambiente de negócios, incluindo esforço junto a estados e municípios, para “desburocratizar alguns processos que afetam o agronegócio, como o licenciamento ambiental”.
“Hoje há R$ 70 bilhões em investimentos parados no País à espera de todo o tipo de licenciamento. Estamos trabalhando para desburocratizar, avançar no ranking global de competitividade e reduzir o Custo Brasil”, reiterou Costa. “Atualmente o Brasil desperdiça 22% do PIB a cada ano (R$ 260 bilhões), principalmente em relação ao custo de emprego de mão de obra, seja por conta de encargos trabalhistas excessivos ou por falta de qualificação”.
Ele comentou também outras iniciativas do ministério, como a melhoria do setor de infraestrutura – com a modificação de marcos regulatórios para permitir um número maior de investimentos privados; o incremento da qualificação de mão de obra, com o lançamento do programa Emprega Mais, que prevê a capacitação de três milhões de brasileiros; e ações junto ao Sebrae para a modernização das micro e pequenas empresas brasileiras. “Todos esses programas também servem ao agronegócio”, afirmou Costa.
Revolução do agro
Para Carlos Melles, presidente do Sebrae Nacional, “a revolução transformadora do agronegócio brasileiro foi fruto do conhecimento, do planejamento, da organização e do treinamento. Precisamos manter esse avanço”, disse, acrescentando que “o Brasil vive um momento positivo, de esperança e crescimento”.
Melles apontou algumas tendências de investimentos e consumo para 2020, chamando a atenção para as áreas alimentar e de serviços (construção civil, saúde, transportes e agropecuária “com agregação de valor”).
Oportunidades no comércio exterior
As relações internacionais também ganharam destaque no almoço comemorativo de aniversário da SNA. O secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, afirmou que, atualmente, “o mundo oferece oportunidades únicas para o nosso agronegócio” e citou como exemplo a China, “que em dez anos deverá se tornar a maior potência econômica do mundo à frente dos Estados Unidos”.
“O comércio Brasil – China, que em 2001 era de US$ 1 milhão por ano, hoje é de US$ 1 milhão a cada 80 horas e isso resulta em um comércio bilateral de US$ 100 milhões anuais”, ressaltou o secretário. Ele disse ainda que a Índia também poderá se tornar um forte parceiro do Brasil.
“Se conseguirmos estabelecer uma parceria estratégica com a Índia no setor de exportação de bens agrícolas, poderemos garantir políticas protecionistas, diminuir a migração da população do campo para as cidades e fazer com que a pouca água que o país dispõe seja utilizada tanto na agricultura como no saneamento básico”, destacou Troyjo, lembrando que a Índia, assim como a Indonésia, o Paquistão e o Vietnã, têm tido um crescimento econômico acentuado.
“Com planejamento correto, o Brasil, daqui dez ou quinze anos, será a ‘Arábia Saudita’ dos alimentos no mundo. Poderemos usar nossas vantagens comparativas”, declarou. No entanto, ele observou que “o País ainda é muito carente em matéria de infraestrutura, principalmente em relação aos sistemas de escoamento da safra. Precisamos de investimentos para modernizar o setor”.
Perspectivas 2020
Ao abordar as perspectivas econômicas no cenário brasileiro, Carlos Von Doellinger, presidente do Ipea, afirmou que a agropecuária será o destaque em 2020, com 3,8% de crescimento, podendo chegar a 4%. Segundo ele, a indústria e os serviços, que têm muitos segmentos relacionados à cadeia do agro, devem se recuperar, com estimativa de crescimento de 2,5% do PIB.
“Estamos vivendo um novo ciclo de crescimento. No entanto, é preciso que a taxa de investimento suba, mas ainda há uma certa resistência por parte do investidor estrangeiro”, disse Doellinger.
Equipe SNA