Setor privado cobra do presidente da Câmara agenda ambiental

O setor privado, reunido em torno do compromisso de ampliar a agenda da sustentabilidade no país, pediu ao presidente da Câmara Rodrigo Maia que a retomada no pós-pandemia siga o caminho de uma economia inclusiva e sustentável. Esta foi a mensagem principal do encontro de CEOs e líderes de entidades setoriais realizada ontem, com Maia e outros parlamentares.

Uma das propostas dos empresários, por exemplo, sugere que nas discussões de novas linhas de crédito aprovadas pelo Congresso, os critérios de sustentabilidade sejam uma exigência.

“Pedimos que se aproveite o momento de reinvenção da economia, no pós-Covid, para que propostas examinadas pelo Congresso com novas linhas de crédito tenham requerimentos e exigências de sustentabilidade. E que isso seja horizontal e atinja todos os setores”, disse, em coletiva, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

“A economia brasileira acordou para o tema. Para o Brasil, a transparência das cadeias de produção é benéfica”, acrescentou. A reforma tributária, continuou Brito, “pode ter tremenda importância em todos os setores e ser um diferencial nas questões de meio ambiente”.

“É imperioso que cesse o desmatamento ilegal no país”, afirmou Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que reúne 60 grandes grupos empresariais. “Arranha a imagem do Brasil e prejudica os negócios”.

Movimento

Os CEOs e líderes de entidades setoriais se reuniram pela segunda vez desde o lançamento da carta dos 38 CEOs de grandes grupos empresariais lançada em 7 de julho. Agora já são 61 CEOs. “A narrativa é que o respeito às leis é fundamental”, prosseguiu Marina. “Começou com uma carta e virou um movimento”, disse ela, que articulou a iniciativa com Brito, da Abag.

Na reunião foram discutidos temas de interesse como a criação de um mercado de carbono, licenciamento ambiental e rastreabilidade dos produtos.

André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), disse que as cadeias exportadoras foram se organizando para rastrear sua produção. “Cadeias como a soja e carne bovina montaram sistemas para ter clareza de como está o seu suprimento”. Por outro lado, destacou: “Insistimos na necessidade de combate ao desmatamento ilegal”.

Posicionamento

“Está na hora de a sociedade brasileira tomar uma decisão: de que lado da história quer ficar. Se realmente quer avançar na agenda da sustentabilidade”, disse Carlo Pereira, presidente do Pacto Global, iniciativa ligada às Nações Unidas para engajar empresas na agenda da sustentabilidade.

Na reunião estiveram presentes Domingos Lastra (CEO da ADM), Leila Melo (diretora-executiva do Itaú), Otávio Carvalheira (CEO da Alcoa), Patrícia Audi (VP executiva do Santander) e Paulo Hartung (Ibá). Entre os parlamentares, participou Zé Silva (SD-MG).

“O empresariado brasileiro acordou para o fato de a agenda da sustentabilidade ter de estar à frente, no pós-pandemia”, afirmou o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), também presente. “Não havia apenas os setores da soja, da mineração, da indústria. Estavam os bancos. Ouvimos de quem tem o dinheiro na mão que o desmatamento, como está, não é mais possível”.

Lei da Amazônia

Maia se reuniu à tarde com alguns deputados para discutir a agenda ambiental no Congresso. “É importante termos uma agenda de sustentabilidade legislativa”, disse Agostinho, que preside a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara. Ele adiantou ao Valor que irá propor uma Lei da Amazônia.

“Temos de discutir um plano para a Amazônia. Temos de fazer um grande pacto pela região. O mundo está fechando o cerco”, afirmou, se referindo aos alertas dos investidores internacionais e consumidores de que o desmatamento precisa parar.

A ideia de Agostinho é construir, para a Amazônia, algo como o Congresso fez com a Lei da Mata Atlântica, que tramitou durante 14 anos. Ele citou a necessidade de se fazer um zoneamento territorial regional que norteie as políticas públicas.

“Temos de definir onde vamos regularizar, onde vamos conceder exploração florestal, onde ficarão preservadas as áreas, como vamos respeitar os direitos dos povos tradicionais que estão lá”, observou Agostinho, que é advogado e foi prefeito de Bauru entre 2009 e 2017.

“Temos de abrir este diálogo e conseguir esta pactuação. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e está ameaçada, tem toda a questão climática. Não podemos seguir assim”. O deputado disse ainda que “cabe ao Executivo combater o desmatamento na Amazônia, mas o Congresso pode propor projetos”.

Ele anunciou que irá propor projetos para a criação do mercado de créditos de carbono, a regulamentação de concessões florestais em áreas públicas não destinadas e o aumento da pena a desmatadores. “O Brasil é a terra da impunidade”, afirmou Agostinho. “O sujeito só é multado em área federal. Nem perde o crédito agrícola”.

 

Fonte: Valor Econômico

Equipe SNA

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