Setor de leite ‘deve ter uma política mais agressiva’, diz Alberto Figueiredo

"A excessiva pulverização da produção entre muitos produtores faz com que a produção média - tanto por vaca ordenhada quanto por hectare destinado à atividade - seja comparavelmente menor. Enquanto na Nova Zelândia houve um incremento de produtividade de 3 mil para 4,5 mil litros por vaca por ano, o Brasil patina no patamar de 1,1 mililitros”, informa o diretor da SNA Alberto Figueiredo. Foto: Divulgação
“A excessiva pulverização da produção entre muitos produtores faz com que a produção média – tanto por vaca ordenhada quanto por hectare destinado à atividade – seja comparavelmente menor. Enquanto na Nova Zelândia houve um incremento de produtividade de 3 mil para 4,5 mil litros por vaca por ano, o Brasil patina no patamar de 1,1 mililitros”, informa o diretor da SNA Alberto Figueiredo. Foto: Divulgação

A cadeia brasileira de leite deve ter uma política mais agressiva de exportações, se quiser recuperar as perdas dos últimos anos e conquistar mais espaço no mercado externo. A afirmação é do diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Alberto Figueiredo. Ele critica o fato de a cadeia leiteira do Brasil ser tímida e se limitar a negócios somente com países do Mercosul.

“As vaidades dos dirigentes do segmento – às vezes vitalícios – dos muitos órgãos que ‘representam’ acabam anulando todos os modestos esforços feitos por uns poucos.”

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite, com 34 bilhões de litros registrados em 2013.

O atual cenário realmente não é nada animador em curto prazo, pois, segundo avaliação do banco holandês Rabobank, os preços internacionais dos lácteos, atualmente em patamares historicamente baixos, só devem ter alguma recuperação em meados de 2016.

Em recente palestra no 13º Congresso Internacional do Leite, em Porto Alegre (RS), o analista sênior da instituição financeira, o colombiano Andrés Padilla, sugeriu que, para a cadeia leiteira se recuperar, é fundamental se fixar em um tripé, como foco na eficiência, na máxima qualidade e no planejamento do avanço da produção para abrir novos mercados.

O diretor da SNA destaca ainda outro comentário de Padilla, quando ele revela que há uma tendência de queda de volumes comercializados entre 4% e 5%, no último trimestre de 2014 e primeiro trimestre de 2015, provocada principalmente pela redução de importações de produtos lácteos pela China, ao redor de 50%, e da Rússia, de 42%.

​“Diante desse quadro, espera-se que a balança comercial brasileira de leite se mantenha negativa, reduzindo as perspectivas de exportações, ao mesmo tempo em que ofertas internacionais a preços reduzidos devem aumentar as importações”, comenta Figueiredo.

O CENÁRIO NEGATIVO

Na opinião do diretor da SNA, além de um cenário negativo, internacionalmente, os custos brasileiros são maiores, se comparados com os de outros países produtores e exportadores, “principalmente por causa da falta de profissionalismo por parte de vários elos da cadeia produtiva, desde a maioria dos produtores, passando pelos sistemas de coleta, pelas indústrias e pelos processos de comercialização”.

“No campo dos produtores, a excessiva pulverização da produção entre muitos produtores faz com que a produção média – tanto por vaca ordenhada quanto por hectare destinado à atividade – seja comparavelmente menor. Enquanto na Nova Zelândia houve um incremento de produtividade de 3 mil para 4,5 mil litros por vaca por ano, o Brasil patina no patamar de 1,1 mililitros.”

Figueiredo ainda aponta que, enquanto nas regiões de maior produção no Brasil se consegue produzir ​​10,86 litros de leite por quilômetro quadrado, na Nova Zelândia são produzidos 62 litros na mesma área. “Por conta disso, eles conseguem ofertar leite a 25 centavos de euro o litro, enquanto no Brasil não sai por menos do que 29 centavos de euro.”

Ele também entende que, “por causa da pulverização de produtores com produções médio-baixas, e pelo canibalismo suicida entre os compradores, o custo do frete pago para a coleta do leite nas fazendas é elevado”.

“Nas indústrias, a ociosidade das plantas e a pulverização, dificultam a economia de escala industrial. Enquanto por aqui, a maior indústria manipula 2 bilhões de litros de leite por ano, no mercado internacional, as menores entre as líderes manipulam 4 bilhões de litros de leite por ano.”

RENDA DO PRODUTOR

É rotineiro no mercado do leite pairar a “eterna” informação de que os produtores de leite estão sempre trabalhando no prejuízo. “Neste aspecto, é importante que se diga que há uma tremenda dificuldade de registro correto de dados nas propriedades leiteiras. Por isso, a grande maioria dos produtores acaba optando por não utilizar práticas ou insumos que onerem a produção, pensando em evitar riscos, mantendo-se, assim, com padrões de produtividade muito baixos”, pondera Figueiredo.

Para tanto, ele cita um trabalho desenvolvido pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) – o projeto “Campo Futuro” – que prevê, além de outros objetivos, analisar o custo de produção de diversos produtos, inclusive o leite.

​“Embora os dados disponíveis ainda necessitem de comprovação estatística, alguns levantamentos realizados nas principais bacias leiteiras nacionais dão conta de que, dependendo dos índices zootécnicos de produtividade obtidos nas propriedades, algumas conseguem remunerar os custos diretos de produção, outras até conseguem​arcar com as depreciações de bens e imóveis, mas a grande maioria das propriedades não consegue remunerar adequadamente o capital investido no negócio.”

PREÇO INTERNACIONAL

Figueiredo informa que a China, “após experimentar um importante incremento de demanda entre 2007 e 2014 – de 25 mil toneladas para 400 mil toneladas – promoveu um incentivo à implantação de mega fazendas produtoras de leite, reduzindo esta demanda para o patamar de 200 mil toneladas”.

“A Rússia, por motivos políticos, também reduziu suas importações dos tradicionais fornecedores. Por conta desta acomodação ‘forçada’ do mercado​, o preço internacional do leite deverá, segundo projeções, se manter baixo, pelo menos até o segundo trimestre de 2016, quando se espera uma modesta recuperação.”

No Brasil, o consumo de leite por habitante ao ano é de 171 litros, enquanto no vizinho Uruguai, 250. Foto: Divulgação
No Brasil, o consumo de leite por habitante é de 171 litros por ano, enquanto no vizinho Uruguai, 250. Foto: Divulgação CNA

CONSUMO

Avaliando o consumo nacional de leite, Figueiredo destaca que a melhoria de renda da população brasileira e dos processos de educação alimentar, a começar pelos médicos e nutricionistas nas faculdades, “muitos mal informados sobre a importância do leite na alimentação humana, pode-se melhorar o consumo interno do produto, hoje aquém de outros países”. Ele cita que no Brasil o consumo de leite por habitante é de 171 litros por ano, enquanto no vizinho Uruguai, 250.

Para elevar o consumo interno e as exportações do leite brasileiro, ele também destaca a necessidade de “primar pela qualidade dos produtos que produzem e industrializam”.

QUALIDADE

“Por isto, é fundamental a mudança de postura das indústrias, no sentido de valorizar os produtos pelo critério de qualidade. A ociosidade dos parques industriais quase sempre as leva a fazer ‘vista grossa’ para os produtos de menos qualidade, o que acaba prejudicando todo o processo de produção. E o mercado externo de leite só será conquistado pelo Brasil se tivermos padrão internacional de qualidade e preços competitivos.”

Com objetivo de alcançar o patamar mais alto, o produtor de leite também deve investir. “​​E a melhor hora de investir é aquela em que, com base em planejamento adequado de sua atividade e conhecimento do negócio, com uso de consultoria técnica especializada, constatar que o investimento em um fator de produção tende a gerar melhoria no resultado econômico financeiro do negócio”, ressalta Figueiredo.

 

Por equipe SNA/RJ

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