Falta de competitividade no mercado externo, aumento de custos e desorganização da cadeia produtiva. Este é o atual cenário do setor leiteiro no Brasil, segundo o engenheiro agrônomo e diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Alberto Figueiredo.
O especialista traçou algumas perspectivas para a produção de lácteos no País em 2023, que consideram, sobretudo, a necessidade de implementação de medidas urgentes para impulsionar o mercado.
“A falta de competitividade dos produtos lácteos brasileiros no mercado mundial restringe a comercialização da produção ao mercado interno, tornando o preço praticado extremamente volátil e dependente do incremento sazonal da produção e do efeito psicológico das importações”, salienta Figueiredo.
Segundo ele, “a cadeia produtiva do leite no Brasil é desorganizada entre os segmentos, principalmente entre produtores e indústrias de transformação”.
Iniciativas
Diante disso, o diretor da SNA espera que em 2023 as lideranças do setor adotem algumas iniciativas, entre elas, “a atuação conjunta e organizada do setor privado com o governo federal, para diagnosticar e eliminar obstáculos ao processo de exportação de láteos”.
Além disso, Figueiredo defende uma “aproximação maior entre produtores e indústrias, principalmente as cooperativas, para criar um ambiente de ‘ganha x ganha’, diferente do atual”, além de parcerias entre os sistemas públicos e privados de assistência técnica e extensão rural, com apoio das instituições de pesquisa, “visando à disponibilização aos produtores interessados de sistemas simples de diagnóstico das propriedades, por meio de processos comparativos, identificando pontos fracos e correspondentes ações corretivas”.
Mesmo com a possível adoção dessas medidas, Figueiredo reconhece que “será inevitável para o setor a redução numérica de produtores de leite e a concentração dos processos de industrialização, com a exclusão das plataformas menos eficientes”.
Desorganização
Sobre a atual desorganização da cadeia, o diretor da SNA explica que a maioria dos produtores ainda não consegue ajustar adequadamente os fatores de produção, tais como alimentação e manejo diário do rebanho, controle do “stress térmico”, genética adequada, composição do rebanho e instalações apropriadas.
“Esse desajuste provoca aumento de custos, inviabilizando muitos e diminuindo a renda de outros”, ressalta Figueiredo.
“No segmento industrial, a ociosidade das instalações e o custo fixo por quilograma do produto processado também são responsáveis pelo aumento de custos, dificultando a competitividade e diminuindo a remuneração possível dos fornecedores de matéria prima”, complementa o especialista.
“A prática, não raras vezes abusiva, de margens de comercialização por parte do segmento varejista, completa o ciclo, oferecendo ao consumidor produtos com preços que não podem pagar, e criando um ciclo vicioso que provoca desestímulo na ponta da produção”.
Produção e consumo
Segundo Figueiredo, a produção de leite no Brasil gira em torno de 35 bilhões de litros anuais que, “somada a eventuais importações sazonais, tem sido suficiente para atender à demanda da população”.
Esse “equilíbrio”, diz ele, “acaba gerando, um ‘conforto’ para o poder público, que não prioriza políticas para o setor”.
Já o consumo “per capita” de leite no Brasil, complementa Figueiredo, está em torno de 116,5 equivalentes quilos e “ainda é inferior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 200 equivalentes quilos”.
Para o diretor da SNA, o poder aquisitivo da população brasileira “é fator limitante ao aumento de consumo ‘per capita’”.