Setor de fibras debate ameaças e oportunidades no contexto da Covid-19

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbugio, representou o setor de fibras naturais no debate online que a Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecções (Abit) promoveu nesta terça-feira (19/5). O objetivo foi analisar os cenários para as fibras têxteis no contexto da pandemia da Covid- 19.

No evento, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas (Abrafas), Lineu Jorge Frayha, e o conselheiro da mesma entidade, Renato Boaventura, falaram, respectivamente, pelos produtores de poliéster e poliamida. A discussão foi mediada pelo presidente da Abit, Fernando Pimentel.

Se, à primeira vista, o debate parecia sugerir o confronto entre insumos têxteis concorrentes, o consenso entre os debatedores foi justamente o oposto.

Eles concordaram com o fato de que apenas o fortalecimento das cadeias produtivas integradas, desde a matéria-prima até a confecção, a união entre os setores e a inovação podem assegurar uma retomada bem-sucedida, quando a crise atingir o pico e começar a passar.

Da mesma forma, os participantes elencaram a redução do chamado “Custo Brasil” e mecanismos de proteção à concorrência desleal como fatores prioritários.

“A China é um grande comprador, mas também um grande produtor de algodão. É difícil competir com quem tem mão de obra e energia mais baratas, além de subsídios governamentais. Precisamos, no Brasil, de garantir meios para que o investidor acredite no País e possa aplicar seu dinheiro”, afirmou Garbugio.

“Para isso, temos de ter segurança jurídica e transparência por parte dos governos. É importante também uma reforma tributária, pois nem os estados se entendem nessa questão”.

O presidente da Abrapa lembrou que, ao contrário das fibras artificiais e sintéticas, o algodão precisa ser cultivado, o que exige planejamento e obediência a um calendário agrícola. “Para termos algodão, precisamos de pelo menos 18 meses entre planejar e produzir. Isso nos deixa um tanto vulneráveis, pois não sabemos quando tudo isso vai passar”, disse.

“A indústria nacional praticamente parou. O consumo mundial vai reduzir. Acredito que valorizar a indústria nacional e o produto brasileiro, de qualidade e sustentável, será essencial para puxar essa demanda”.

Boaventura, da Abrafas, considera que é preciso garantir a integração. “Se hoje dependêssemos de importação, as coisas seriam ainda piores. Já perdemos elos da cadeia como o da produção de viscose. Não podemos deixar que outros se percam”.

Os representantes do setor de poliéster e poliamida enfatizaram a queda no preço do petróleo, que é a base da fabricação destes produtos, e a posição da China na produção mundial como desvantagens para o setor neste momento.

“Competir com a China e os países asiáticos é um trabalho hercúleo. A China detém 70% da produção mundial e tem incentivos governamentais para a exportação de seus produtos acabados. Nosso governo tem de entender a importância de reduzir o Custo Brasil, que hoje para nós é maior até que as eventuais barreiras tarifarias de que dispomos para proteger a nossa indústria”, disse Boaventura.

Todos os setores representados avaliaram que o consumidor pós-Covid 19, empobrecido e receoso, vai prestar ainda mais atenção a critérios como qualidade e durabilidade, no momento em que voltar a comprar roupas e outros itens têxteis.

“Ele também vai estar mais atento à sustentabilidade. Os cotonicultores fizeram um grande trabalho nesse sentido, tanto com o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que atua em benchmark com a Better Cotton Initiative (BCI), como em iniciativas de qualidade e rastreabilidade”, afirmou Garbugio.

“Para fortalecer a indústria nacional, são importantes também programas como o Sou de Algodão, que já está repercutindo muito no Brasil, ao difundir as informações sobre os nossos diferenciais competitivos junto ao consumidor final brasileiro”.

Os participantes também evidenciaram a necessidade de valorização da indústria nacional e do produto feito no Brasil. “Isso vai além de uma etiqueta de origem, que demanda uma série de processos e rastreabilidade. Trata-se de um sentimento de que é preciso fortalecer o que é nosso, gerar empregos e melhorar a vida das pessoas”, disse Pimentel.

 

Fonte: Abrapa

Equipe SNA

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