O tempo seco e quente abalou lavouras de milho do Brasil, principalmente na importante área agrícola do Centro-Oeste, e reduziu a expectativa da principal safra do cereal do País em 5,4%, em um período de cerca de 30 dias, segundo pesquisa da Reuters concluída nesta terça-feira.
A colheita da segunda safra, que responde por cerca de dois terço da produção anual brasileira, foi estimada em 54 milhões de toneladas na temporada 2015/16, segundo um levantamento com 11 consultorias e entidades, em previsões divulgadas desde 6 de abril.
A média das projeções anteriores destas mesmas fontes, emitidas entre o início de março e o início de abril, antes da seca, apontava para uma colheita de 57.1 milhões de toneladas.
Oito consultorias reduziram suas previsões nos últimos dias, com uma média de 4.6 milhões de toneladas nos cortes, mas há quem tenha reduzido as estimativas de forma mais acentuada.
A Agroconsult, por exemplo, reduziu sua estimativa nesta terça-feira para 52.5 milhões de toneladas, contra uma estimativa de 58.8 milhões de toneladas divulgada em meados de março.
“Essa alteração se deve à continuidade do clima mais seco sobre o Centro-Oeste do Brasil, diminuindo o potencial de produção”, disse a consultoria em relatório.
Se a atual média das previsões se confirmar, o Brasil não conseguirá registrar um novo recorde de produção na safra de inverno de milho, uma vez que a colheita de 2015 foi de 54.6 milhões de toneladas, segundo dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O tempo foi bastante quente e seco ao longo de abril, por um período que surpreendeu muitos agentes do mercado e agricultores.
“Goiás é o pior Estado. Mas Minas Gerais está ruim também”, disse a analista Daniele Siqueira, da AgRural, que deverá divulgar na quinta-feira uma nova estimativa para o milho, já com reduções.
Chuvas irregulares registradas no fim de abril não foram suficientes para evitar perdas nas lavouras.
O consultor independente Carlos Cogo, que fez um corte de mais de 7.5 milhões de toneladas em sua estimativa, destacou que as irregularidades no tempo dificultam as estimativas de produtividade.
“Estou colocando (no cálculo) apenas perdas irreversíveis… A gente só vai ter uma convicção na hora que as máquinas entrarem em campo. Visualmente a plantação pode estar boa, mas o milho pode ter pouco volume e menor peso dentro da espiga. É um cálculo muito complexo”, disse.
Abastecimento
Grandes consumidores brasileiros de milho, como empresas e granjas de aves e suínos, contam com a chegada da segunda safra, que começa a ser colhida no fim deste mês, para aliviar um quadro de escassez do grão.
O Brasil realizou grandes exportações no fim de 2015 e início de 2016, na esteira de contratos fechados com um dólar bastante favorável, praticamente esgotando os estoques domésticos. A alternativa de muitas empresas tem sido adquirir milho do Paraguai e da Argentina, com algumas delas mirando até carregamentos dos Estados Unidos.
A consultoria Céleres destacou que a perda na segunda safra de milho “deverá criar um quadro ainda mais justo para o balanço produtivo do cereal, mantendo os preços internos bastante elevados no restante deste ano e provavelmente em 2017”.
Outro problema que pode surgir com a frustração de safra em algumas regiões é a dificuldade financeira de produtores que firmaram grandes empréstimos nos bancos ou que se comprometeram antecipadamente com a venda de volumes elevados de milho.
“Muitos agricultores (do Centro-Oeste) fizeram contratos para entrega de mais de 65% de sua produção pensando numa produtividade normal”, disse Cogo, que lembrou que em algumas fazendas as perdas podem ter superado a metade da produção.
Fonte: Reuters