“Precisamos que o Estado decrete situação de emergência devido à falta de chuva, o que daria amparo a possíveis negociações junto aos órgãos oficiais e instituições financeiras”, repetiu incansavelmente José Mário Schreiner durante suas andanças por Goiás. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) também questionou o modelo atual do seguro rural e destacou a fragilidade da agropecuária diante das mudanças climáticas.
O presidente da Faeg vem se reunindo com produtores dos quatro cantos de Goiás e mediando discussão com o intuito de minimizar os prejuízos causados pela falta de chuva no estado. A Gerência Técnica da entidade também tem trabalhado para levantar dados que justifiquem a situação de emergência.
No caso da soja, as perdas já se aproximam de 20% da produção total de Goiás, o que representa cerca de 2 milhões de toneladas. Se confirmadas estas perdas, o prejuízo financeiro em todo o estado pode chegar a R$2 bilhões, somente no setor primário.
“Muita gente diz que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas aqui caiu. No ano passado sofremos com a seca e esse ano novamente. Estou assustado”, comentou.
José Mário explica que culturas como milho, grãos, silagem, pastagem, leite e carne foram afetadas em todo o Estado mostrando assim, a fragilidade do setor agropecuário.
“De um lado somos forte, mas de outro estamos desprotegidos. Basta 30, 40 dias sem chuva para que a nossa riqueza fique comprometida. Eu tenho notado isso claramente durante minhas visitas aos quatro cantos de Goiás. São questões que afetam o bolso e a esperança dos produtores”, comentou.
“Proteger o produtor rural é proteger os empregos, a geração de renda e o processo industrial. Essa crise é o momento de pensar em mudar o modelo de seguro rural. Qual a pecuária e agricultura nós queremos? Nós avançamos, mas precisamos avançar muito mais”, disse.
Ele também explica que de forma indireta, as perdas chegarão primeiramente à indústria e, em seguida, ao consumidor final. “Mesmo com o retorno das chuvas nos últimos dias, as perdas já são irreversíveis, pois o período seco coincidiu com um momento fundamental para as lavouras, que é a fase de florescimento e enchimento de grãos, momento em que as plantas têm as maiores exigências por água. Com a estiagem, todo o setor produtivo sofre, o que torna o problema ainda mais grave. Sem chuva não há produção, mas também não há transporte, industrialização….não há geração de emprego e nem de renda e, por fim, as pessoas não pagam impostos. É uma cadeia”, alertou.
Pequena parcela assegurada
Em 2014, a contratação de seguro rural foi realizada em cerca 825 mil hectares, o que representa apenas 14% da nossa área total. “O seguro rural é uma de nossas únicas soluções, mas há mais de 10 anos nós falamos isso e o seguro ainda não nos atende de forma adequada. Isso não pode ficar assim. Além disso, em muitos casos as financiadoras usam o seguro como moeda de troca para a liberação de crédito. O modelo ideal deveria ser como o dos Estados Unidos, onde o produtor tem 90% da produção segurada”, afirmou José Mário.
Ele cita também sobre as duas últimas reuniões que teve com a ministra Kátia Abreu, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no qual tratou sobre o pagamento da subvenção do seguro rural da safra passada.
“O Ministério tinha acordado a liberação de R$ 700 milhões para pagamento de subvenção do seguro rural Apesar disso, apenas R$ 400 milhões foram pagos até o momento. Agora estamos em diálogo constante com os Ministérios da Fazenda e do Planejamento para garantir a suplementação orçamentária que compense a verba que não foi paga às seguradoras”, completou.