A seca na região Norte do País mudou a logística do escoamento do milho nos portos da região. Como alguns rios da Bacia Amazônica estão nos menores níveis da história, muitos compradores estão optando por mandar mercadorias para portos do Sudeste.
“O custo para transporte de grãos aos portos do Arco Norte aumentou, pois, se antes ele era feito por barcaças, agora acontece por caminhões, dobrando o valor da operação. Por isso muitas cargas estão migrando principalmente para o porto de Santos”, indicou Francisco Queiroz, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Em relatório que analisa o impacto do clima adverso para as exportações de grãos pelos portos do Arco Norte, a instituição indicou que a situação piorou neste ano. Isso porque os níveis dos rios da Bacia Amazônica passam por um período sazonal de baixa, agravado pelos efeitos do El Niño e do aquecimento do Atlântico Tropical Norte.
Além do impacto no escoamento, a falta de chuvas no Norte também pode provocar o recuo nos prêmios de exportação para o milho, segundo o especialista.
“Os prêmios do Arco Norte teriam um desconto maior diante dessa dificuldade logística momentânea. Mas isso deve acontecer de forma localizada e não teria um reflexo para o preço do milho no Brasil, por exemplo”, indicou Queiroz.
Com a dificuldade para enviar mercadorias ao Norte do País, a demanda por fretes diminuiu, assim como os preços, indicou Fernando Bastiani, pesquisador da ESALQ-Log. O frete de Sorriso (MT) para Itaituba (PA) caiu de R$ 302,98 por tonelada em setembro para R$ 276,64 a tonelada neste mês.
Recorde na exportação
Apesar dessa nova dinâmica para a logística do milho, Queiroz, do Itaú BBA, não acredita que o Brasil terá dificuldades para embarcar as 55 milhões de toneladas estimadas pelo USDA para este ciclo.
Ele avalia que as vendas acontecerão normalmente, apesar de o tempo de espera para o embarque no porto de Santos ter aumentado de nove dias no começo do mês para 16 atualmente.
“No acumulado do ano até setembro, o Brasil já exportou 28 milhões de toneladas, e outras 9 milhões deverão ser embarcadas neste mês. As exportações vão testar a capacidade de operação [do Porto] de Santos, mas o produto não deixará de sair, por isso acredito em volumes recordes”, estimou o analista.
Segundo Flávio Acatauassú, Diretor-Presidente da Associação de Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (AMPORT), os grãos que são escoados pelo Rio Madeira ou Tapajós, continuam a ir para os portos do Arco Norte sem maiores transtornos.
Com a redução no calado do Rio, as barcaças tiveram que passar com 50% menos peso pelo Rio Madeira e 40% menos no Tapajós. Mas nos últimos dias, ambos os Rios já subiram 70 centímetros.
“As empresas que se programaram entram e saem dos portos. Agora, quem não fez medição de altura dos rios ou quis passar navios maiores, não conseguiu”, disse Acatauassú.
No relatório, o Itaú BBA destacou ainda que as chuvas no Norte do Brasil devem seguir abaixo da média até janeiro de 2024.