Catorze milhões e seiscentos e setenta e oito mil hectares. É isso que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) espera que seja plantado nesta segunda safra de milho em 2021, o que seria um aumento de 6,70% em relação à área da safra anterior.
Já para a produção total, a entidade estima um recorde de 82.8 milhões de toneladas, representando um aumento de 10,30% em comparação ao último ciclo, e maior do que a estimativa divulgada no mês passado, de 80.07 milhões de toneladas.
Apesar das projeções históricas, o que se vê na prática em diversas regiões produtoras é um grande atraso nas atividades de plantio da safra. Primeiro, como reflexo dos atrasos no cultivo da soja da safra de verão, mas também pelas condições climáticas adversas em muitas localidades neste começo de 2021.
Segundo levantamento da AgRural, o plantio do milho foi realizado em apenas três quartos da área estimada até o momento, percentual semelhante ao divulgado pela StoneX, que registrou 75% de plantio até a última sexta-feira.
“O produtor segue plantando e avançou bastante na última semana, mais de 20%”, disse, em entrevista exclusiva ao Notícias Agrícolas, a analista da StoneX, Ana Luiza Lodi.
“Este mês de março será fundamental para o real tamanho da safra, que está atrasada, mas o plantio segue. Pode haver desistências nas próximas semanas, mas ainda mantemos a estimativa de área recorde”.
Relatório
A própria Conab reconheceu este atraso em seu último relatório de acompanhamento das safras brasileiras divulgado no começo de março.
“Apesar dos recentes níveis de precipitações ficarem abaixo das médias, na maioria dos estados produtores do milho segunda safra, as operações de plantio foram mais afetadas pelo atraso na colheita da soja”.
Segundo a publicação da Companhia, “a umidade acumulada no solo, adicionada às chuvas pontuais, mantiveram as condições de disponibilidade hídrica dentro do mínimo aceitável em quase todas as regiões produtoras”.
Riscos
Lodi destacou que estes atrasos aumentam os riscos e as preocupações para a safra, mas ainda não é possível prever o tamanho desse prejuízo, uma vez que as lavouras podem produzir bem, dependendo das condições climáticas futuras. “O clima de abril e maio será fundamental. Se tiver boas chuvas ainda beneficia a safra”, disse ela.
“Um plantio fora da janela indica maior risco, principalmente no Sul de Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná, pois é maior a possibilidade dessas áreas pegarem uma geada em junho e julho. Em áreas do Centro-Oeste, a preocupação é com o tempo mais seco, à medida que a safra avança para o inverno”, indicou a agência Reuters.
Preços
Na visão da AgRural, o que motiva a manutenção do plantio, mesmo fora da janela ideal, são os bons preços de mercado para o cereal.
“O produtor já está com seus insumos comprados. Se houver boa umidade no solo nessas próximas duas semanas de março, o plantio vai seguir avançando, mesmo fora da janela”, disse o analista Adriano Gomes à Reuters.
Consultorias
De qualquer forma, as consultorias já estão reduzindo suas estimativas de produção. Enquanto a Conab elevou de 80 milhões para 82.8 milhões de toneladas, a AgRural projetou a produção final em 80.5 milhões de toneladas até o início de março.
Já a StoneX reduziu a estimativa de 82.4 milhões para 81.3 milhões de toneladas, patamar que ainda seria recorde, em função da expectativa de menos rendimento no Mato Grosso.
Mato Grosso
Para o principal estado produtor do Brasil, a Conab estimou uma área plantada de 5.77 milhões de hectares (6,60% mais do que na safra passada) e uma produção de 36.5 milhões de toneladas, 5,70% acima do que o registrado em 2019.
Já o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) projetou uma área de milho segunda safra de 5.69 milhões de hectares, dos quais já foram plantados 88,32% até a última sexta-feira.
Já a produtividade esperada para a temporada foi mantida e está estimada em 106,29 sacas por hectare, com queda de 2,51% em relação à safra passada, resultando em uma produção de 36.27 milhões de toneladas.
Municípios
Na região de Querência, por exemplo, entre 60 e 70% das lavouras da segunda safra de milho conseguiram ser plantadas dentro de uma janela considerável razoável, mas houve plantio tardio e precipitações durante o mês de abril.
Esses fatores serão primordiais para o bom desenvolvimento dos grãos, segundo o presidente do Sindicato Rural de Querência (MT), Gilmar Reinoldo Wentz.
Em Ipiranga do Norte, o reflexo do atraso na soja será sentido na segunda safra de milho. O presidente do Sindicato Rural de Ipiranga do Norte (MT), Loinir Gatto, apontou que a área cultivada aumentou entre 10 e 12% no município, mas 50% das lavouras foram plantadas fora da janela ideal de cultivo.
A esperança agora fica por conta de um prolongamento das chuvas para o final de abril e começo de maio, a fim de garantir bom desenvolvimento do cereal.
Aprosoja
A Aprosoja MT também destacou a preocupação com os atrasos, relatando que o mês de março começou com apenas 55% das aeras plantadas contra 92% da safra passada no mesmo período.
A gerente de Defesa Agrícola da Aprosoja/MT, Jerusa Rech, indicou que isso aumenta o risco das lavouras enfrentarem secas e veranicos mais à frente no desenvolvimento do cereal.
Paraná
No Paraná, a estimativa da Conab é um plantio de 2.37 milhões de hectares, 4,30% a mais do que em 2020, e uma produção esperada de 13.55 milhões de toneladas, 18,70% superior à do ano anterior.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, até a última segunda-feira (15/3), 72% das lavouras de milho safrinha havia sido plantadas no estado, com as áreas divididas entre germinação (51%), descanso vegetativo (48%) e floração (1%).
Na região de Campo Mourão, enquanto colhem a soja com bons rendimentos, a grande preocupação dos produtores fica por conta da segunda safra de milho.
O presidente do sindicato rural da região, Nery José Thome, disse que o plantio atrasou e muitas áreas ficaram, não só fora da janela ideal, mas também fora do período de Zoneamento Agrícola, “e agora vão ficar descobertas de seguros agrícolas, aumentando os riscos assumidos pelos produtores”.
Em Mangueirinha, os atrasos empurraram o plantio para o limite da janela e muitas áreas deixaram de ser plantadas, migrando para outras culturas. O produtor rural Laércio Dalla Vecchia disse que muitos colegas optaram por deixar de plantar também devido ao alto risco de enfezamento. Assim, a área de feijão aumentou no município.
Cigarrinha
Essa questão do enfezamento e do ataque da cigarrinha preocupa também as autoridades paranaenses. Segundo o gestor estadual do projeto de grãos do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná), Edivan Possamai, um levantamento do órgão em conjunto com a Agência de Defesa Agropecuária (Adapar/PR), identificou a presença da cigarrinha, o vetor dos enfezamentos, em todas as regiões produtoras de milho do estado.
Diante disto, o pesquisador do IDR-Paraná, Ivan Bordin, destacou as principais ações que o produtor precisa realizar para prevenir e mitigar possíveis impactos nas lavouras deste complexo de doenças que pode causar perdas entre 10% e 100%.
Entre as ações de manejo integrado estão a eliminação da ponte verde com plantas voluntárias de uma safra para a outra, a programação do plantio para evitar que plantas próximas estejam em diferentes estágios de desenvolvimento, a escolha de híbridos mais resistentes, o tratamento de sementes e a utilização de inseticidas contra a cigarrinha.
Mato Grosso do Sul
Para o Mato Grosso do Sul, a Conab estimou uma área de 2.08 milhões de hectares, com aumento de 13,40% em relação à de 2020, e uma produção total de 10.97 milhões de toneladas, com elevação de 26,90% em relação à da última temporada.
O último relatório da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul) aponta o plantio do milho no estado finalizado em 32,50% da área até o dia 5 de março, contra os 60% da safra anterior no mesmo período, e os 67,20% da média das últimas cinco safras.
Na região da Amambaí, o plantio da segunda safra de milho prossegue com um pequeno atraso, mas ainda permitindo a expectativa de bons resultados. O presidente do sindicato rural do município, Rodrigo Ângelo Lorenzetti, disse que a única preocupação é o frio mais à frente do ciclo.
As lavouras de Laguna Carapã já ficaram comprometidas devido ao atraso da soja. O produtor rural Jonas de Oliveira disse que o milho plantado por volta de 15 de março tem risco muito elevado de enfrentar geadas durante o inverno e de ter menos horas de sol para o enchimento dos grãos.
Já em Caarapó, a antecipação no ciclo da soja após a estiagem atuou também para permitir uma janela um pouco mais confortável para o plantio da segunda safra de milho no município. Porém, o presidente do sindicato rural da região, Carlos Eduardo Marquez, afirmou que esta mesma estiagem já prejudicou também as primeiras áreas semeadas com o cereal.
Goiás
Para o estado goiano, a Conab estimou uma área de 1.65 milhão de hectares nesta safrinha, 1,40% maior do que o da safra anterior, que resultará em uma produção estimada de 10.62 milhões de toneladas de milho, 2,10% a mais do que o ciclo passado.
O presidente da Aprosoja/GO, Adriano Antônio Barzotto, disse que o período excelente de plantio do milho se encerrou no dia 25 de fevereiro, depois veio uma fase intermediária até 3 de março e, por fim, os produtores arriscaram um pouco mais plantando fora da janela.
Segundo dados do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), o estado plantou apenas 50% do previsto até esta terça-feira, quando o normal para o período já seriam 70%. “Arrisco a dizer que este é o maior atraso já registrado no estado”, destacou o coordenador institucional do Ifag, Leonardo Machado, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Neste cenário, apenas 30% das lavouras conseguiram ser plantadas ainda dentro da janela indicada. Mesmo assim, o instituto espera um acréscimo de 1,40% na área cultivada e de 2% na produção, em linha com os números da Conab.
Mercado
Segundo a analista da StoneX, Ana Luiza Lodi, independentemente do tamanho final da segunda safra brasileira de milho, o mercado nacional deve permanecer sustentado e os preços da saca do cereal elevados para os consumidores.
“Geralmente a safrinha faz cair preços, mas assim como ano passado, há outros fatores que influenciam. Mesmo que se colha muito bem, grande parte já está comprometida e isso limita queda de preços”, disse Lodi.
O câmbio é outro fator que favorece muito, acrescentou a especialista, “assim como o consumo interno que deve seguir aumentando esse ano. Então, se a safrinha for muito grande, pode haver uma queda de preços, mas existem outros fatores que balanceiam o mercado”.
A expectativa de manutenção dos preços elevados também está presente na análise de Roberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora.
“Nós estamos com uma safrinha atrasada, e o volume significativo vai entrar no mês de julho, pouca coisa em junho e apenas restrito ao Mato Grosso, muito voltado para a exportação. A partir do momento que a colheita estiver em maior volume, vamos ter uma oferta que vai aparecer e o produtor não vai perder oportunidade com os preços como estão”.
Alternativas
Diante deste cenário, algumas outras culturas surgem como alternativas, entre elas o sorgo e os consórcios forrageiros, segundo os estudos realizados pelas unidades da Embrapa Agrossilvipastoril e Milho e Sorgo.
Na opção pelo sorgo, o produtor acrescenta 20 dias à sua janela de plantio, pode melhorar as condições de solo, combater nematoides e ainda rentabilizar bem, com o sorgo sendo negociado por 85% do valor de mercado do milho.
Já para os consórcios de forrageiras, existem diversas opções de mix de plantas, cada uma atendendo a um objetivo específico e se adaptando melhor às características de cada terreno.
Fonte: Notícias Agrícolas
Equipe SNA