Na safra 2012/2013, o Brasil plantou 3,11 milhões de hectares de feijão e colheu, em 2013, 2,8 milhões de toneladas, o que representa cerca de 500 mil toneladas a menos do que a produção normal (3,3 milhões de toneladas).
“Esta realidade elevou os preços do feijão em maio e junho de 2013 para patamares nunca antes vistos no Brasil, chegando perto de R$ 300 / saca de 60 kg em algumas regiões”, comenta Alcido Elenor Wander, o pesquisador da Área de Sócioeconomia de Embrapa.
Com o consumo nacional estimado em 3,45 milhões de toneladas, para suprir a demanda, o País teve de importar mais de 500 mil toneladas, de janeiro a novembro, de países como China, Argentina, Bolívia e Paraguai. A tendência, conforme explica Benedito Rosa, diretor de Assuntos Comerciais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é que o Brasil importe cada vez mais feijão.
O consumo per capita de feijão em 2013 está estimado em 16 kg/habitante/ano, ante 17 kg/habitante/ano consumidos em 2011 e 2012.
“Acredita-se que essa ligeira diminuição do consumo per capita tenha sido apenas momentânea, em função de os preços terem aumentado de forma exorbitante, limitando o acesso para a parcela da população com renda mais limitada”, justifica Wander, que a partir de 6 de janeiro assume o cargo de chefe adjunto de Transferência e Tecnologia da Embrapa Arroz e Feijão.
Para 2014, Rosa, do Mapa, prevê importações maiores e acredita que o custo vai recair sobre o bolso dos consumidores. Outro fator que deve puxar a alta do grão, em sua opinião, é que produtores de feijão de Minas Gerais e Goiás não fizeram o vazio sanitário, previsto pela primeira vez nos Estados, além de Bahia e Distrito Federal, visando eliminar um vírus transmitido pela mosca-branca que prejudica bastante a lavoura.
De acordo com Wander, as estimativas disponíveis levam a crer que em 2013/2014 a área plantada ficará próxima a 3,15 milhões de hectares, com previsão de colheita de 3,3 milhões de toneladas, se não ocorrer nenhum imprevisto.
“Considerando que a demanda interna é estável, o preço não deve subir para patamares tão elevados como em 2013. Se o valor da saca se mantiver acima dos R$ 120 a 130 por saca de 60 kg, a rentabilidade estimulará os produtores a plantarem feijão.”
O Brasil já foi maior produtor mundial há menos de 10 anos, mas em 2012 e 2013, o entanto, com quedas de produtividade e produção, perdeu espaço para os países asiáticos, que têm apresentado crescimento ao longo dos últimos anos. Em 2012, por exemplo, foi o terceiro maior produtor mundial de feijão, com 2,8 milhões de toneladas, atrás de Myanmar (3,7 milhões de toneladas) e Índia (3,6 milhões de toneladas). Já em consumo total, o País é o primeiro do ranking mundial, segundo Wander.
Em 2013, os principais estados produtores foram Paraná (691 mil t; 23,21%), Minas Gerais (565 mil t; 18,98%), Goiás (293 mil t; 9,86%), Mato Grosso (280 mil t; 9,42%) e Bahia (274 mil t; 9,21%). Juntos, estes Estados responderam por 70,69% da produção nacional. O perfil dos produtores nestes estados é diversificado. Em algumas regiões destes estados predominam pequenos produtores, que utilizam sistemas considerados de baixa tecnologia. Já em outras regiões, especialmente nos estados do Bioma Cerrado, há produtores com áreas maiores, onde utilizam sistemas mais intensivos de produção e com produtividades mais elevadas.
O pesquisador lembra que os produtores enfrentaram problemas fitossanitários na safra 2012/2013, principalmente com a mosca branca e a lagarta Helicoverpa armigera.
“A ocorrência destas pragas em larga escala tem desafiado os produtores de feijão. Os custos de produção têm aumentado e, em alguns casos, a produtividade caiu”, comenta.
No país, há três safras de feijão. Na primeira safra (das águas), colhida de dezembro a março, principalmente no Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Santa Catarina. A segunda (da seca), colhida de abril a julho, se concentra no Paraná, Bahia, Mato Grosso e Minas Gerais. A terceira (de inverno, irrigada), é colhida de agosto a outubro em Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Mato Grosso.
O Brasil produz e consome diversos tipos de feijão, destacando-se os do Grupo I, que inclui feijão-comum (Phaseolus vulgaris), com 64% da produção, Preto (2%), os Cores, com 42% (principalmente, o grão tipo comercial carioca – mais consumido no Brasil) e o Grupo II: Feijão-caupi (Vigna unguiculata), com 36% da produção.
De acordo com Wander, a Embrapa está desenvolvendo novos cultivares mais produtivos e com características de qualidade desejadas pelo mercado. As últimas cultivares de feijão com grãos do tipo comercial carioca lançados foram BRS Ametista, BRS Notável e BRS Estilo.
“No começo de 2015 deveremos lançar a próxima cultivar de feijão com grãos do tipo comercial preto”, anuncia o pesquisador.
Ele acrescenta que atualmente a Embrapa está trabalhando na preparação de cultivares transgênicas, resistentes ao mosaico dourado (principal doença do feijão-comum em vários estados importantes produtores). O fungo gera prejuízo de 90 a 290 toneladas de feijão por ano, com a produção nacional girando em torno de 1,2 milhões de toneladas por ano.
“Além disso, são focos do esforço a fixação biológica de nitrogênio (capacidade das plantas de fixarem nitrogênio da atmosfera, reduzindo os custos com adubação nitrogenada)”, explica.
As sementes do novo transgênico ainda estão em fase de teste em três regiões do país e o registro da variedade deve sair nos próximos dois anos. Futuramente as sementes serão disponibilizadas para o produtor rural sem a cobrança de royalties.
Por Equipe SNA/SP