A Rússia vendeu dois cargos de trigo ao Brasil neste mês, somando 60.000 toneladas, nas primeiras compras feitas pelos brasileiros do produto russo neste ano, informaram fontes com conhecimento do assunto.
As compras do cereal russo, confirmadas por duas fontes das tradings Sodruzhestvo e Glencore, que fizeram o acordo, são relativamente atípicas, uma vez que o Brasil adquire a maior parte de suas necessidades em países do Mercosul, sem pagar tarifas.
Além disso, o produto da Rússia só pode ser processado em moinhos nos portos, por questões fitossanitárias, o que limita os acordos, que normalmente ficam mais restritos a países da América do Norte quando realizados fora do bloco comercial.
No ano passado, o Brasil importou 91.700 toneladas da Rússia, segundo dados do governo brasileiro, enquanto em 2018 foram apenas 26.200 toneladas.
Pelo menos outros dois acordos com trigo russo, contudo, teriam sido fechados recentemente, disseram outras duas fontes que falaram na condição de anonimato. Porém, os negócios adicionais não puderam ser confirmados.
Potencial
Integrantes do mercado avaliam que, este ano, o potencial de negócios de brasileiros com fornecedores do Hemisfério Norte é maior, após o Brasil ter estabelecido, ao final de 2019, uma cota de 750.000 toneladas/ano para importações isentas da taxa de 10% de fora do Mercosul.
Além disso, a expectativa é de importações recordes de 7.3 milhões de toneladas pelo Brasil em 2020, em meio a um consumo firme de produtos derivados de trigo diante da pandemia, que levou os consumidores adotarem medidas de isolamento, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O Brasil importou cerca de 3.5 milhões de toneladas de trigo no primeiro semestre, com aumento de pouco mais de 150.000 toneladas em relação ao volume do mesmo período de 2019. A Argentina foi a principal fornecedora, com 3.12 milhões de toneladas, contra 2.96 milhões de toneladas na primeira metade do ano passado.
Os Estados Unidos aparecem em segundo, com 172.000 toneladas (contra 72.000 toneladas no primeiro semestre de 2019), seguido por Paraguai e Uruguai, com pouco 97.000 e 80.000 toneladas, respectivamente.
Além das importações já feitas do produto dos EUA no semestre, há mais a caminho. Desde o final de maio, o Departamento de Agricultura norte-americano (USDA) já registrou cerca de 140.000 toneladas de vendas de trigo HRW ao Brasil.
Cota extra
Com a crise do Coronavírus e a disparada do dólar para máximas históricas este ano, a indústria do trigo do Brasil, um dos maiores importadores globais do cereal, conseguiu em junho uma cota adicional para a importação de 450.000 toneladas extra bloco comercial, sem tarifa.
“Acredito em volumes expressivos (de fora do Mercosul). O povo está cobrindo agosto e setembro. Vai bater a cota de 750.000 toneladas. A não ser que alguma coisa destrave a Argentina”, disse um operador de tradicional moinho de São Paulo, explicando que produtores argentinos estão lentos para negociar em meio à crise.
Essa fonte, que disse ter a informação sobre quatro acordos envolvendo trigo russo, afirmou que as compras do Brasil de várias origens também poderiam avançar para a cota extra.
Segundo o interlocutor, o trigo da Rússia virá para os moinhos do Nordeste. “Para essa região faz menos sentido logístico esperar a entrada da nova safra do cereal nacional, que estará disponível em mais um mês, nos Estados do Sul e Sudeste”.
Uma segunda fonte, de uma trading na Europa, também não envolvida nos negócios, disse ter a informação de compras de cinco a seis cargas de trigo russo pelo Brasil.
Uma das vendas confirmadas, feita pela trading Sodruzhestvo, terá embarque a partir do Mar Negro, e a outra pela Glencore, com a mesma origem para despacho, segundo fontes nas duas companhias.
Uma fonte da Sodruzhestvo disse que um novo acordo com o Brasil seria possível, mas informou que até o momento não havia nada decidido.
Reuters