O Serviço Federal de Controle Veterinário e Fitosanitário (Rosselkhoznadzor) nega que a autorização para exportar trigo para o Brasil tenha sido moeda de troca para importação de carne do país. Neste ano, devido a problemas na colheita, o Brasil terá de comprar mais de sete milhões de toneladas de trigo. Assim, a decisão das autoridades de diminuir as restrições sobre as importações da Rússia parece compreensível.
No entanto, especialistas do setor têm afirmado que a principal razão para a recente autorização de fornecimento de trigo russo ao mercado brasileiro é receber concessões recíprocas para a exportação de carne brasileira para a Rússia, já que o produto também foi recentemente embargado.
O Brasil autorizou a importação de trigo russo logo após a Rússia proibir completamente a importação de carne brasileira devido a recorrentes detecções do hormônio ractopamina, que é proibido no país.
“Na verdade, a autorização para exportar trigo russo ao Brasil é condicional. A instrução normativa que revisa o regulamento de importação de trigo da Rússia inclui muitas restrições”, disse ao jornal Rossiyskaya Gazeta o diretor do centro analítico SovEcon, Andrêi Sizov.
“É pouco provável que Moscou inicie os fornecimentos. A razão é simples: o Brasil está muito longe dos nossos portos, e, devido aos custos de transporte, os produtos russos serão muito mais caros. Além disso, a Argentina, que está mais próxima, está pronta a cobrir o déficit de grãos”.
Segundo o diretor da Associação Nacional de Carne da Rússia, Serguêi Iuchin, a Rússia não tem urgência em resolver o conflito com os brasileiros porque a saída do Brasil do mercado de carne russo quase não afetou os consumidores. “O Brasil teve uma participação significativa no mercado de carne da Rússia. Mas, após a introdução do embargo, os volumes de vendas e os preços não mudaram”, afirmou Iúchin ao jornal Rossiyskaya Gazeta.
“Outros produtores, como por exemplo, o Paraguai, substituiu o Brasil no mercado russo sem demora. No início, os fabricantes paraguaios tentaram aumentar os preços da carne bovina em cerca de 10% a 15%. Mas eles não conseguiram”. Segundo Iúchin, o mercado mundial de carne é muito competitivo. Uruguai, Colômbia, Índia, México e outros países também estão interessados no mercado russo.
O Serviço Federal de Controle Veterinário e Fitosanitário (Rosselkhoznadzor) confirma que a autorização para fornecer trigo ao Brasil não ajudará a levantar o embargo sobre a carne brasileira na Rússia.
“O mais importante é que os brasileiros autorizem o fornecimento do trigo russo infectado com objetos de quarentena, inclusive as ervas daninhas, mas os fabricantes serão obrigados a pagar pelo processamento especial (fumigação) do produto, que não corresponde às normas brasileiras”, disse a porta-voz oficial da agência, Iúlia Melano.
“A permissão da parte brasileira não tem nada a ver com o embargo russo. O Rosselkhoznadzor não é uma agência comercial ou uma estrutura política. Assim, o levantamento do embargo sobre a carne brasileira será possível apenas caso nossos parceiros comerciais consigam garantir o fornecimento de produtos excepcionalmente seguros, sem hormônios de crescimento. O serviço nunca comercializaria a saúde dos cidadãos russos”, afirmou a porta-voz.
Fonte: Russia Beyond/Agrolink