Rumo paga ágio de 100% e arremata a ferrovia Norte-Sul

Com ágio de 100,92%, a Rumo Logística arrematou o trecho central da ferrovia Norte-Sul, que vai de Porto Nacional (TO) a Estrela d’Oeste (SP). A empresa, que pertence ao grupo Cosan, pagou R$ 2,72 bilhões para operar 1.530 quilômetros da estrada de ferro por 30 anos. A outorga mínima prevista em edital era de R$ 1.353 bilhão.

A Rumo venceu a VLI, que tem como sócios a Vale, Brookfield, Mitsui e FI-FGTS. A concorrente fez oferta de R$ 2.065 bilhões, com ágio de 52,6%. As duas companhias foram as únicas que entregaram propostas pela concessão – alvo de polêmica desde que o edital foi à praça e quase não aconteceu, depois que entidades foram à Justiça pedir sua suspensão. Os pedidos de liminares foram derrubados ontem e hoje.

O presidente da Rumo Logística, Julio Fontana, comemorou com seus executivos a vitória no leilão de ontem. Ao assumir a Norte-Sul, a companhia poderá aumentar o volume de carga geral na malha que opera hoje, que vai de Rondonópolis (MT) a ao porto de Santos, passando por Estrela d’Oeste.

“Achamos que é um bom negócio, porque tem muita sinergia com a nossa operação atual. Temos esperança que as cargas desse trecho vão alimentar no total de movimentação da nossa ferrovia, podendo aumentar principalmente o volume de carga geral, que hoje é bem incipiente no Brasil”, disse Fontana.

Em teleconferência realizada ontem à noite, o diretor financeiro e de relações com investidores da Rumo, Ricardo Lewin, disse que a companhia vê grande valor estratégico no ativo.

A proposta levou em conta algumas oportunidades vislumbradas com a operação da ferrovia, entre elas, atender à demanda pelo escoamento de grãos em Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. Outro tipo de negócio será transportar petróleo e derivados de São Paulo até Goiás e Tocantins.

Com a Norte-Sul, a Rumo garantiu que cargas da futura Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que começará na Norte-Sul em direção a Mato Grosso, sejam escoadas para a Malha Paulista, entre Rondonópolis e Santos.

Segundo um especialista em infraestrutura, outro ponto que justificou o ágio oferecido pela Rumo é que o pagamento da outorga será mitigado ao longo do tempo da concessão (30 anos). A valor presente, esse ágio fica bem menor.

A Rumo informou, em comunicado, que a companhia irá pagar 5% da outorga (R$ 136 milhões) em 45 dias, quando da aprovação final do processo, e R$ 2.58 bilhões em 120 parcelas trimestrais.

Além da outorga, a Rumo terá de investir R$ 2.7 bilhões. “Dinheiro para isso a empresa tem”, disse Fontana. “A companhia está equacionada financeiramente e não teremos problemas em conseguir financiamento. Vários bancos estão dispostos a financiar este projeto. Esperamos obter o retorno do investimento no curto prazo”.

O presidente não entrou em detalhes sobre o financiamento da operação e nem sobre os fundamentos que justificaram a outorga oferecida.

Na teleconferência, o diretor financeiro da Rumo, Ricardo Lewin, informou que uma atualização do plano estratégico da companhia deve ser anunciada posteriormente, incorporando os investimentos projetados na Norte-Sul.

“Temos plano de negócios baseado nas premissas da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestre) em boa parte, e temos nossos estudos também, obviamente. Julgamos que o retorno do investimento fazia valer a pena praticar o ágio que oferecemos”, disse Fontana.

A concessão não prevê prorrogação do prazo de 30 anos. A fim de possibilitar acesso aos portos de Santos e Itaqui, foram estabelecidos aditivos que garantem direito de passagem nas concessões adjacentes por cinco anos, prorrogáveis durante a duração da concessão. A demanda potencial na ferrovia prevista para 2020, segundo o edital, é equivalente a 1.7 milhão de toneladas.

O edital destaca ainda que a ferrovia foi projetada para se tornar a espinha dorsal do transporte ferroviário no Brasil, integrando o território nacional e reduzindo o custo logístico do transporte de cargas.

A expectativa, de acordo com projeções da ANTT, é que o trecho em questão capture uma demanda equivalente a 22.73 milhões de toneladas ao final da concessão, com predominância das cargas gerais e dos granéis sólidos agrícolas.

O ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, também comemorou o ágio expressivo no leilão da Norte-Sul. Segundo ele, isso mostra a confiança do investidor nas instituições e no crescimento econômico do país. Diante disso, ele adiantou que espera levar a leilão as ferrovias Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Ferrogrão ainda neste ano.

“O processo já está bem adiantado, principalmente da Fiol. Temos o projeto pronto que já passou por consulta pública. Falta enviar ao TCU (Tribunal de Contas da União) para avaliação. Acredito que neste ano essas ferrovias podem ir a leilão”, afirmou Freitas.

Segundo o ministro, além dessas ferrovias que devem ser concedidas neste ano, outros projetos de infraestrutura estão no radar da pasta. “Não estamos parados. O leilão dos aeroportos foi na sexta-feira e na segunda-feira já fizemos o chamamento público para os estudos de mais aeroportos. Estão em nosso radar rodovias, como a 381 em Minas Gerais, e terminais portuários. Não tem nada parado”.

 

Valor Econômico

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