Depois das frustrações no Paraná, o trigo entra num momento decisivo no Rio Grande do Sul. As condições climáticas no final do ciclo da cultura vão definir mais da metade da safra brasileira. Geadas tardias, doenças de espiga e chuva na colheita são os fantasmas que assombram o produtor gaúcho.
De acordo com o último levantamento da Emater/RS (12/09/13), o trigo está na fase de desenvolvimento vegetativo em 50% das lavouras. A outra metade atravessa as fases de floração e enchimento de grãos. “De maneira geral não houve danos com as geadas, granizo ou chuvas excessivas ocorridas recentemente, sinalizando até o momento rendimentos acima das expectativas iniciais, o que poderá gerar uma boa safra para o Estado”, avalia o assistente técnico da Emater/RS, Ataídes Jacobsen.
Contudo, grande parte da frustração com a safra 2012 foi resultado das geadas em setembro, conhecidas como geadas tardias, principalmente a forte incidência em 26/09. De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), João Leonardo Pires, a geada caracteriza-se pela falta de regularidade cronológica, ou seja, não existe uma previsão exata sobre quando e onde vai ocorrer o fenômeno. “A maior probabilidade é de gear em regiões de maior altitude, mas geadas tardias podem ocorrer em todas as regiões”, esclarece Pires.
A sensibilidade do trigo à geada vai do florescimento à maturação, sendo que os danos diminuem à medida que evolui o estádio da planta. No emborrachamento, geadas severas podem causar o estrangulamento do colmo, interrompendo a passagem da seiva para as folhas e espigas; no florescimento a geada pode causar o abortamento de flores; no enchimento de grãos, quando os grãos estão em estado aquoso ou passando para leitoso, a geada pode estagnar o crescimento do grão; e no espigamento, a geada pode causar desde falhas na granação até a morte das espigas.
Até o momento, a pesquisa ainda não conseguiu identificar uma diferenciação genética entre as cultivares quanto à tolerância aos danos por geada, principalmente na floração. “No Rio Grande do Sul, o maior risco de perda por geadas é quando estas ocorrem no mês de setembro quando, normalmente, a maior parte do trigo já atingiu o espigamento”, conclui João Leonardo Pires. Ele lembra que a avaliação dos danos deve ser realizada entre sete e dez dias após o evento, e não apenas no final da safra para evitar a soma de outros fatores, como doenças, que podem atrapalhar a real dimensão dos danos.
Giberela
A partir do espigamento o trigo fica suscetível também à giberela, doença causada por fungo que ataca a espiga, comprometendo o rendimento e a qualidade dos grãos, além do risco de contaminação por micotoxinas. Para minimizar os danos, a pesquisadora da Embrapa Trigo, Maria Imaculada Pontes Moreira Lima recomenda acompanhar diariamente as previsões climáticas: “A ocorrência de giberela depende de precipitações pluviais elevadas, ou seja, dias consecutivos de chuva. A temperatura entre 20 e 24 ºC, típica de primavera, é uma porta aberta para a doença”, alerta a pesquisadora, lembrando que o controle com o uso de fungicidas não tem eficiência por completo, resolvendo em 50 a 70% no combate ao fungo, quando as aplicações são preventivas. “Se chover logo após a aplicação, a chuva lava o defensivo e deixa o trigo desprotegido novamente”, diz Imaculada.
Germinação pré-colheita
O final do ciclo do trigo também é afetado pelo risco de chuva no período da colheita que pode resultar na germinação dos grãos ainda na espiga. Este fenômeno é mais frequente nas regiões mais quentes, onde as temperaturas elevadas diminuem a dormência dos grãos. Além de diminuir o rendimento, a germinação afeta diretamente o PH do trigo, reduzindo a qualidade tecnológica e o valor comercial dos grãos.
Recomendações
Para o pesquisador Eduardo Caierão, o produtor deve escolher cultivares mais tolerantes à germinação pré-colheita e às doenças relacionadas ao clima, além de escalonar a semeadura, observando sempre o zoneamento agrícola que estabelece as épocas de semeadura com menor risco para cada município. Mas a recomendação só é válida na implantação da lavoura, a partir de agora o produtor precisa monitorar o desenvolvimento da lavoura, o risco de doenças e acompanhar as previsões climáticas até a colheita. “Em caso de previsão de excesso de chuva próximo à colheita, a antecipação da operação, levando em consideração os aspectos fisiológicos da planta, é uma das estratégias para evitar a germinação pré-colheita. Por vezes, vale a pena colher o trigo com maior umidade ao invés da lavoura ficar sujeita a mais chuvas na maturação. Entretanto, é preciso considerar as questões práticas da colheita, como a debulha mecânica, e os custos da secagem dos grãos. O produtor deve avaliar em faixas de lavoura se o trigo já pode realmente ser colhido e considerar a relação custo/benefício da antecipação”, alerta Eduardo Caierão. Ainda, mediante ocorrência de germinação pré-colheita, a recomendação é separar os grãos germinados dos não germinados para evitar a desqualificação de todo o lote colhido.
Para giberela, o programa Sisalert (disponível no site http://sisalert.com.br) permite avaliar o risco da doença a partir do registro da data de espigamento, cruzando dados com as previsões climáticas para os próximos 15 dias. Uma ferramenta a mais para monitoramento da lavoura neste período de risco.
Fonte: Embrapa Trigo