Roberto Rodrigues: “Alta de custos, incertezas econômicas e pressão ambiental desafiam o agro”

Após o clima “trágico” para a agricultura brasileira em 2021, quando culturas como café, cana, laranja e milho registraram grandes quebras de safra, a tendência é que 2022 seja um ano melhor nessa frente para os produtores, que, contudo, tendem a ver suas margens se estreitarem por causa da alta de custos, sobretudo com insumos.

A avaliação foi feita pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante a Live do Valor desta segunda-feira, a primeira de uma semana especial dedicada ao agro que está sendo realizada em parceria com a revista Globo Rural.

“O agronegócio em 2021 teve um ano muito difícil. Diria que houve dois momentos dramáticos: um por causa do clima e outro econômico”, disse Rodrigues, que é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O ex-ministro lembrou que, neste ano, o Brasil viveu sua pior seca em mais de 90 anos, o que castigou severamente a produção no centro-sul brasileiro.

O maior reflexo foi na segunda safra de milho, que já começou fora da janela ideal de plantio, por conta do atraso dos trabalhos com a soja, e que teve na estiagem um agravante, que levou a quebra a 20,80%, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Expectativa

“Para 2022, a expectativa é mais favorável”, indicou Rodrigues. A estimativa da Conab é que a produção de grãos totalize 291.1 milhões de toneladas nesta temporada 2021/22, um aumento de 15,10% em relação a 2020/21.

Do ponto de vista econômico, Roberto Rodrigues também destacou a forte escalada de preço das commodities agrícolas, com as cotações internacionais chegando a picos de mais de 50% de valorização durante o ano. Isso ajudou o produtor a fechar bons negócios e a garantir margens acima do normal, situação que não deverá se repetir com a mesma intensidade em 2022.

“Os custos explodiram, mas deveremos ter recordes. O ano de 2022 tende a ser positivo, mas com margens menores. Uma safra recorde no Brasil poderá ajudar a pressionar os preços das commodities agrícolas. Mas quem se antecipou e já travou posições [de venda] vai acabar faturando bem. Será uma margem menor, mas sem dificuldades”, disse Rodrigues.

Insumos

Do ponto de vista de custos, a preocupação maior deverá ser com a segunda safra de 2021/22 e com o ciclo 2022/23, para o qual ainda há muitas incertezas, especialmente quanto ao fornecimento e aos custos dos insumos agrícolas. As sanções econômicas contra a Bielorrússia, uma das principais fornecedoras de potássio do mundo, e a crise energética na China, que também afeta a oferta de fertilizantes e defensivos, podem ser entraves no decorrer do ano.

“Havia uma preocupação dos fertilizantes não chegarem a tempo hábil ou a um custo adequado. Para o ano que vem, acredito que os problemas não deverão ser tão graves. Há também uma expectativa de reduzir a adubação, o que seria razoável para áreas mais consolidadas. Para os defensivos, a situação deverá ser um pouco pior”, estimou o ex-ministro.

Auxílio Brasil

Em meio às incertezas, Rodrigues destacou que o Auxílio Brasil, que deverá chegar a R$ 400,00 por mês em 2022, poderá dar um impulso ao consumo de alimentos no mercado doméstico, assim como ocorreu após a distribuição do auxílio emergencial concedido após o início da pandemia.

Comunicação

Outro alerta feito pelo ex-ministro é sobre a comunicação do setor em relação aos problemas enfrentados pelo Brasil na área ambiental. Ele acredita que a pressão internacional será ainda maior em 2022, e que cabe aos produtores brasileiros reforçaram sua contrariedade em relação a crimes ambientais cometidos por uma minoria que mancha a imagem do setor.

“A vertente ambiental ganhou peso diante de problemas de comunicação do Brasil. Negamos o desmatamento ilegal, que é uma evidência óbvia, negamos as queimadas… Mas essas ilegalidades não são feitas por agricultores profissionais. Não podemos deixar que a questão ambiental se torne barreira ou tarifa para o agronegócio do Brasil”, disse Rodrigues.

 

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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