É comum que, numa sociedade plural e diversa como a brasileira, a influência social, econômica e cultural de um determinado segmento se traduza, com o tempo, em poder político também. Sendo o agronegócio um universo tão abrangente e composto por numerosas parcelas da sociedade, espalhadas num território tão amplo, nada mais natural que seus integrantes busquem a defesa dos interesses de suas comunidades apoiando nomes egressos dessa área para cargos públicos.
Nas últimas décadas, o crescimento e pujança do setor veio acompanhado da ascensão de parlamentares, prefeitos, governadores e ministros que verbalizam as pautas caras a produtores, em termos de gestão, criação ou aprimoramento das leis, consolidação de parcerias e novos acordos comerciais. As tensões no campo também se mantiveram presentes no debate, com a volta de conflitos entre movimentos sociais agrários e fazendeiros, além de episódios recentes de invasões.
A longa polarização desse e de outros tópicos importantes pode produzir estereótipos e falsos consensos que prejudicam o avanço de boas ideias. A bancada ruralista passou a simbolizar um conservadorismo genérico, guardando pouca ou nenhuma conexão com a realidade de seus integrantes. Em primeiro lugar, bancadas legislativas existem nos municípios, nas assembleias estaduais e no congresso nacional. Desempenham atividades de natureza e atribuição diferentes, podendo convergir na ideologia e atuar de forma complementar conforme o caso.
Mesmo em Brasília, para onde os holofotes estão sempre voltados, não há um bloco monolítico e homogêneo de deputados ou senadores. Há quem vocalize mais certos assuntos, dependendo de sua base eleitoral ou da orientação partidária. A defesa dos direitos trabalhistas rurais, a preocupação com a sustentabilidade dos ecossistemas e da produção convivem com os grandes projetos de expansão da malha de transporte e escoamento das safras, bem como linhas de crédito e desafios de toda ordem. A agricultura familiar e as grandes propriedades podem convergir ou não, dependendo do tema. Há variáveis, pois as gestões, assim como as pessoas e as tecnologias, mudam com o tempo e todos precisam lidar com isso diariamente.
Fugir das caricaturas e das polêmicas gratuitas é o primeiro passo. Em seguida, é preciso reconhecer a legitimidade de grupos que, de forma organizada e democrática, disputam eleições e conseguem assento no parlamento e no executivo. Se este ou aquele segmento demográfico tornou-se substancial na sociedade, pela cultura, economia ou outra forma de influência, é salutar que seus representantes eleitos participem do debate público, pois, do contrário pautas de grande interesse dos cidadãos ficariam alijadas das discussões nacionais, criando um abismo entre quem vota, quem governa e quem legisla. Isso sem mencionar que certos litígios terminam no Judiciário, cujos membros também são um recorte da população, com suas ideias e abordagens.
Sendo assim, a robusta representação política do agronegócio, e o seu reconhecimento até mesmo por parte de adversários pontuais, atesta que a pujança desse setor e sua importância econômica e cultural estão enraizadas no país, moldando uma visão de mundo e estilo de vida que, a exemplo de outras vertentes, compõe a multifacetada identidade brasileira, com nuances e peculiaridades que a enriquecem.
Nomes de peso da atual legislatura possuem experiência para, ao lado dos recém-chegados, debater com civilidade, conhecimento e compromisso propostas relevantes que podem afetar o agronegócio, como, por exemplo, a aguardada reforma tributária e suas muitas ramificações que precisam ser analisadas atentamente. Só assim se chegará às mudanças necessárias para o país, sem prejudicar quem produz, movimentando cifras, trabalhando e gerando empregos que impactam decisivamente na cadeia produtiva.