Rentabilidade em xeque na cadeia produtiva de aves e suínos

A falta de chuvas que prejudica as lavouras de grãos no Sul do país poderá comprometer a recuperação da rentabilidade das cadeias produtivas de aves e suínos neste início de ano. Sem a queda no custo da ração (basicamente, farelo de soja e milho), as agroindústrias ficarão dependentes de uma reação positiva nos preços das carnes, cenário que parece ser improvável.

“O clima tem prejudicado bastante a safra, cujo plantio tinha sido fantástico. Isso significa que os custos não vão ceder”, disse César Castro Alves, analista da consultoria MB Agro.

Do outro lado, sazonalmente os preços das carnes caem no começo do ano, devido à menor demanda decorrente das férias escolares. Segundo Alves, a perspectiva não é positiva. “É daqui para pior”.

A situação é particularmente negativa para a suinocultura. Levantamento da MB Agro mostra que a margem bruta da produção de carne suína no sistema de integração ficou negativa em 11% na primeira semana de janeiro. É verdade que, em geral, a margem bruta do segmento é negativa, mas o atual patamar é bem pior do que o normal.

Desde 2006, início da série histórica da MB Agro, a margem média é negativa em 1%. O cálculo da consultoria só leva em conta a carne in natura, não a processada. É no processamento (produzindo presunto, salsicha, entre outros) que as indústrias ganham rentabilidade. De toda maneira, o indicador da consultoria revela um quadro complicado para as agroindústrias.

“É péssimo”, ressaltou o analista, lembrando que a rentabilidade do segmento está no vermelho desde fevereiro do ano passado. Desde o fim de 2017, pesam negativamente sobre a margem da indústria de carne suína o aumento do preço da ração e o embargo da Rússia. Moscou retirou o embargo ao produto brasileiro no fim de outubro, mas restringiu as importações do produto a quatro frigoríficos brasileiros. Antes do embargo, 18 estabelecimentos tinham autorização para exportar. Na prática, os embarques aos russos dificilmente retornarão ao patamar anterior ao embargo. A Rússia representava 40% das exportações brasileiras de carne suína.

No caso da avicultura, a tendência para as margens já mostrava uma deterioração. De acordo com o analista da MB Agro, a margem bruta da produção de carne de frango no sistema de integração chegou a atingir 6% em novembro, número positivo após as dificuldades do primeiro semestre.

No entanto, em dezembro, essa margem diminuiu para 2%, mesmo nível da primeira semana de janeiro e também a média história desde 2006. O problema, disse Alves, é que essa rentabilidade deve continuar caindo ao longo das próximas semanas, com o “enfraquecimento” da demanda por frango e consequente queda dos preços. “É fácil voltar para o negativo”, disse.

No atacado da Grande São Paulo, já há sinais de queda dos preços da carne suína. A carne de frango, por sua vez, apresenta estabilidade. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), o preço médio da carcaça especial suína caiu 4,02% nos primeiros sete dias deste mês, para R$ 6,21 o quilo.

Valor

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