O setor de carne bovina brasileiro está tendo um dos maiores reveses da história neste ano. Após tantos entraves internos, recebe a notícia do fechamento do mercado dos Estados Unidos para a carne “in natura”.
Se fosse qualquer outro país, essa notícia teria pouca importância, diante do pequeno volume que é exportado, em relação ao total das vendas externas brasileiras. Sendo os Estados Unidos, porém, o reflexo é grande, principalmente na imagem do produto brasileiro.
Além de ser o principal importador de carne bovina no mundo, o que abriria bom espaço para o Brasil, os Estados Unidos definem a política de sanidade para vários outros países exigentes, mas que pagam bem pela proteína.
Os brasileiros conseguiram reabrir o mercado norte-americano de carne bovina “in natura” após uma década e meia de intensas discussões. Agora, o perdem em apenas 11 meses. Esse tranco vem logo após o setor sofrer as consequências das operações da Polícia Federal, delação premiada dos donos da JBS e da volta de cobrança de Funrural e de ICMS no setor.
O USDA recusou a carne brasileira alegando problemas recorrentes sobre questões sanitárias.
Aftosa
Antonio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) diz, porém, que a carne “in natura” brasileira foi recusada devido a abcessos provocados por reação de animais à vacina contra a febre aftosa.
O gado brasileiro é vacinado duas vezes por ano. Segundo ele, é um problema recorrente e traz prejuízo para produtores e indústria frigorífica em um ano em que se acumulam vários outros problemas ao setor. Além do produto que já foi recusado pelos norte-americanos, o Brasil tem pelo menos outros 150 contêineres no mar indo em direção aos Estados Unidos, nos cálculos do presidente da Abiec.
Emílio Salani, vice-presidente de operações do Sindam (que reúne as indústrias produtoras de vacina contra a febre aftosa), disse que o abscesso “não é característica de nódulo vacinal” e defende a qualidade do produto brasileiro. “A vacina não tem variações na formulação e passa por grande rigor na fabricação e no controle de qualidade, tanto pela indústria como pelo Ministério da Agricultura”.
Diante desses problemas atribuídos pelo presidente da Abiec como provindos das vacinas, Salani sugere uma aceleração nos estudos para a retirada da vacinação do gado brasileiro. Isso, no entanto, demanda tempo e acompanhamento do Ministério da Agricultura, que é quem fiscaliza a carne exportada e também libera as vacinas.
Fonte: Folha de S. Paulo