Quando o dólar parou de subir, em março, investidores começaram a comprar ativos desvalorizados, numa manobra que muitos acreditavam ser temporária. Dois meses depois, a estratégia ainda gera lucros.
Agora, muitos desses operadores de mercado estão elevando suas apostas e, com isso, dando um impulso inesperado ao euro, ao petróleo e outros ativos atingidos pela alta do dólar.
Muitos operadores dizem que isso vem sendo alimentado em parte por sinais de que a onda sem precedentes de estímulos na Europa está começando a dar frutos, fortalecendo o crédito e a manufatura local. A China, maior comprador mundial de commodities, também lançou programas para estimular a economia.
Muitos investidores estimam que a moeda americana vai acabar retomando sua trajetória ascendente à medida que a economia dos Estados Unidos volta a ganhar fôlego e a elevação dos juros pelo Federal Reserve se aproxima. Mas essa alta adicional do dólar deve ser mais branda, dizem operadores e analistas, o que é mais um motivo para diversificar os investimentos.
“O dólar é uma operação saturada e bem popular que parece fazer sentido fundamentalmente”, disse Michael Collins, gestor sênior de portfólio na Prudential Fixed Income, que administra US$ 560 bilhões. “Talvez o mercado estivesse otimista demais sobre o crescimento dos EUA e pessimista demais quanto à Europa, os emergentes e o petróleo.” Ele disse que reduziu as apostas no dólar e ampliou as no euro.
A moeda única subiu quase 9% em relação ao dólar desde as mínimas atingidas em março e após ter caído cerca de 16% desde meados de 2014. E há receios de que a economia dos EUA vai ficar em banho-maria após ter crescido só 0,2% no primeiro trimestre.
Outras moedas, desde o krone norueguês até o rublo russo, também se valorizaram, com o krone subindo 12,8% desde março e o rublo 25%. O real também se valorizou; subiu 9,8% desde 19 de março. O índice S&P GSCI, que segue os preços de mais de 20 commodities, está perto de seu maior patamar desde dezembro, num momento em que matérias-primas como petróleo, cobre e açúcar se recuperam após terem atingido mínimas de vários anos.
A recuperação de ativos como o euro, o petróleo e outras commodities teve início depois que uma gama de dados econômicos dos EUA indicou que é cada vez mais improvável que o Fed aumente os juros em junho. Essa perspectiva diminuiu o atrativo do dólar como opção para investidores em busca de ativos com retornos respeitáveis.
Diante das previsões de queda, alguns operadores colocaram seu dinheiro em ativos afetados pela forte alta da moeda americana, esperando que eles subam à medida que o dólar cai.
“Há um elemento de reversão aqui”, diz Raman Srivastava, um dos diretores de investimento da Standish, unidade do Bank of New York Mellon, que ajuda a administrar US$ 170 bilhões em ativos de renda fixa. Ele lucrou com a alta do dólar no primeiro trimestre, mas vendeu a moeda em abril em favor de outros ativos, como títulos soberanos da Austrália, país exportador de matérias-primas que, diz, deve se beneficiar da recuperação da demanda da China, maior destino das suas exportações.
Hedge Funds e outros investidores especulativos cortaram suas apostas líquidas no dólar pela sexta semana seguida, para US$ 31.6 bilhões, o menor valor desde setembro, segundo dados divulgados na sexta-feira passada pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês).
Michael Haigh, diretor de pesquisa de commodities no Société Générale acredita que os preços continuarão subindo. Ele aconselha clientes a investir nas moedas do Canadá e da Rússia — grandes produtores de petróleo cujas moedas tendem a se beneficiar de altas do produto.
Marc Chandler, estrategista da corretora Brown Brother Harriman & Co., alerta que boa parte da alta recente do euro foi causada por operadores de curto prazo que estão desfazendo suas posições. A moeda ainda está cerca 30% abaixo do seu pico recorde e deve recuar ante o dólar quando a economia americana acelerar e a alta dos juros pelo Fed surgir no horizonte.
“As pessoas não estão apostando no euro, estão simplesmente cobrindo suas vendas a descoberto”, diz Chandler. “O mercado altista do dólar ainda está bastante intacto.” Ao mesmo tempo, as medidas de estímulo da China têm sido insuficientes para dar impulso significativo à demanda por commodities. Um dólar valorizado e pouco apetite por matérias-primas são pouco para sustentar uma alta nos mercados emergentes, sensíveis aos preços das commodities, disse.
Alguns observadores do mercado dizem que o número crescente de investidores apostando numa alta contínua das commodities poderia tornar uma eventual reversão da tendência particularmente violenta.
As apostas líquidas na alta do petróleo atingiram seu maior nível desde julho de 2014 no período de sete dias encerrado em 5 de maio, pelos dados da CFTC. Um cenário subitamente incerto poderia causar uma saída generalizada, enquanto outros investidores renovam apostas na queda das commodities, alertam analistas. “Em casos assim, a queda nos preços pode ocorrer bem rapidamente e ser muito drástica”, diz Bart Melek, chefe de estratégia de commodities da TD Securities.
Fonte: The Wall Street Journal