O mercado de proteína animal na China tem experimentado grande volatilidade nos últimos anos. Segundo relatório do Rabobank, a Peste Suína Africana (PSA), a Covid-19 e as mudanças nos canais de distribuição não somente estão redesenhando o lado da oferta, mas também o comportamento do consumidor. Algumas destas mudanças devem continuar em longo prazo.
Os mercados consumidores mudaram bastante nos últimos anos em resposta a estes fatores, e eles continuarão a mudar rapidamente. As principais tendências apontadas pelo banco e que estão impulsionando as mudanças futuras incluem grupos de consumo mais diversificados, menor distinção entre vários segmentos de mercado e canais, e maior demanda por conveniência e embalagens menores.
Entre as principais proteínas animais, o consumo de carne suína passou por grandes mudanças nos últimos tempos em razão da PSA. O consumo desta proteína também é flexível em razão da mudança de preços sob condições específicas.
Já o setor de aves está encarando desafios relacionados à reformulação da cadeia de suprimentos, mas deve crescer com a demanda geral por alimentos de conveniência. Por sua vez, a carne bovina, que antes era consumida principalmente fora de casa, agora tem mais penetração no consumo doméstico, o que pode abrir mais oportunidades para que este mercado cresça.
Oferta e consumo
Em 2019, a oferta de carne suína caiu mais de 20%, e a expectativa do Rabobank é de que até o final de 2020 essa queda continue entre 15% a 20%.
Apesar de a China ter registrado dois anos de fortes importações da proteína suína, a queda na oferta foi tão grande que o consumo do produto per capita no gigante asiático caiu de 40 kg em 2018 para 32,6 kg em 2019, com perspectiva de chegar a 28 kg em 2020, número antes registrado somente em 1997.
Como consequência, o consumo total de proteínas de origem animal (suína, aves, bovina e ovina), também deve cair, passando de 64 kg per capita em 2018 para 58,8 kg em 2019, chegando a 54 kg em 2020, próximo aos níveis registrados em 2008.
A queda do consumo total é menor do que a da carne suína em função do aumento do consumo da carne bovina, ovina e de aves, que passou de 6,9 kg, 3,5 kg e 14,4 kg em 2018, respectivamente, para 6,1 kg, 3,8 kg e 17,2 kg em 2020.
Nos próximos dois anos, principalmente em 2021, os preços da carne suína no varejo devem ficar perto ou acima dos 40 yuans por quilo, e o consumo deve permanecer acompanhando as mudanças de preço de forma elástica e, portanto, continuará caindo.
Substituição de proteína
O Rabobank vê oportunidades contínuas de substituição da proteína. Entretanto, enquanto a produção suína se recupera na China, o espaço para que outras proteínas ocupem o lugar antes deixado pela carne de porco deve diminuir. No longo prazo, o banco estima que as demais proteínas devem permanecer na lacuna onde conseguiram se instalar em relação aos hábitos de consumo da população.
A perspectiva é que a carne de frango seja a maior beneficiada por essa atual crise, segundo o Rabobank, mas não de forma direta. Os analistas apontam que na próxima década o consumo por conveniência deva impulsionar a carne de frango, devido à cadeia de foodservice, ao menor custo e à maior facilidade de preparo em relação às outras proteínas.
No caso da carne bovina, também se mostrou como boa substituta à suína, na visão do banco. A penetração da carne bovina no consumo da população chinesa pode ser importante para a segurar a queda do consumo enquanto a produção de suínos se recupera.
Novos hábitos
A PSA e a Covid-19 forçaram os consumidores chineses a mudarem seus hábitos de consumo. Por exemplo, as pessoas agora compram menos nos mercados tradicionais, e mais nas redes varejistas modernas. Vários formatos de compras, como as realizadas em grupo, por exemplo, ganharam espaço rapidamente entre boa parte dos consumidores no primeiro semestre de 2020, já que sair às ruas não era uma opção viável.
A grande variedade de produtos disponíveis online e a experiência de cozinhar em casa e ter novas experiências gastronômicas fizeram com que os consumidores se dispusessem a experimentar novidades e ampliar as opções de alimentos. Para o Rabobank, a tendência é de aumento na diversidade de alimentos consumidos em casa.
Recuperação
O consumo da carne suína deve começar a se recuperar em 2021, entretanto, na perspectiva do banco, não deve chegar aos níveis vistos no pico em 2014 (43 kg per capita/ano), ou mesmo em 2018 (40 kg), devendo ficar abaixo dos 37 kg em 2025. Isso significa que parte do mercado de carne suína será perdido para outras proteínas concorrentes ao longo do período.
Ainda segundo o Rabobank, a carne suína deve continuar a ser a principal proteína para preparo doméstico, mas os consumidores devem aumentar a demanda por embalagens menores de carnes frescas, e também por produtos prontos para cozinhar, como a carne já fatiada.
Fonte: Notícias Agrícolas
Equipe SNA