O que se planta, se colhe, mas no tempo certo: o que vale como filosofia de vida pode ser também a chave para explicar o destino econômico de um país. É esta a simples (e polêmica) tese dos pesquisadores Oded Galor, da Brown University e Omer Özak, da Southern Methodist University.
Em meados do ano passado, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica americano publicou um trabalho da dupla com o título “As Origens Agrícolas das Preferências Temporais”.
O argumento é que a habilidade de um povo de se planejar e investir para obter uma gratificação maior no futuro está diretamente relacionada com o aprendizado que vem dos ciclos primitivos da agricultura em cada local.
“Variações geográficas na produtividade natural da terra e seu impacto no retorno do investimento agrícola tiveram um efeito persistente na distribuição de uma orientação de longo prazo nas sociedades”, diz o estudo.
Ou seja: nossos ancestrais que viviam em terras mais férteis percebiam que valia a pena esperar para colher mais frutos, e isso gerou sociedades que valorizam coisas que trazem desenvolvimento no longo prazo.
Alguns exemplos são o investimento em pesquisa e educação: os autores apontam, por exemplo, que “um desvio padrão no rendimento da colheita pré-1500 vivida pelos ancestrais de um país está associada com um ano adicional de educação escolar no ano 2005”.
A tese foi testada de forma empírica por um modelo complexo que controla por uma série de variáveis que poderiam confundir os resultados – sejam elas individuais, geográficas ou históricas.
A orientação de imigrantes de segunda geração dentro de um país, por exemplo, foi medidas para isolar o que são efeitos de cultura adotada e o que tem origem ancestral. Os autores também incorporam as mudanças nos tipos de culturas agrícolas disponíveis mundialmente depois dos descobrimentos.
Galor e Özak não são os primeiros a propor uma explicação geográfica para a história do desenvolvimento das sociedades. Em 1997, o americano Jared Diamond argumentou no livro “Armas, Germes e Aço” que a grande vantagem da Europa foi construída sobre motivos ambientais: em especial, uma latitude quase única no continente inteiro, o que teria permitido a difusão de culturas agrícolas, animais e conhecimentos.
Outros autores preferem explicações focadas em aspectos culturais ou do desenvolvimento de instituições políticas, como James Robinson, de Harvard.
Fonte: Exame