O primeiro texto na coluna “Colunistas Convidados”, da SNA, foi para explicar o que é agro e como se estrutura uma cadeia agroindustrial. Neste segundo, o objetivo é o de mostrar a grande diversidade de produtos e serviços gerados e os nossos momentos de contato com o setor, que são muito mais frequentes que imaginamos.
“Quando acordei pela manhã, senti o perfume que há muito, muito tempo não sentia…” Ao acordarmos e levantarmos, deixamos o contato dos lençóis, travesseiros, fronhas e o pijama e vamos nos vestir com a calça jeans, camisa, vestidos e outros itens, todos que nos foram propiciados pela cadeia do algodão. Calçamos um sapato que tem borracha vinda da seringueira e couro vindo das cadeias da pecuária, além do cadarço têxtil.
O banho que antecede o vestir teve sabonete, que entre seus componentes tem sebo bovino e o xampu com aromas vindo das frutas. Filtro solar, pasta de dente, batom, maquiagem e cremes também tem componentes da pecuária, principalmente da bovina.
Na mesa do café da manhã, tomamos contato com a cadeia das frutas, seja com mamão, maçã, sucos de frutas e de vegetais. O pão nos é dado pela cadeia do trigo e, muitas vezes, vem com fibras de centeio, girassol, cevada, aveia, gergelim, linhaça, quinoa, triticale, chia, milheto, entre outros. Aí então atacamos a cadeia do leite, com a própria bebida, com o queijo, a manteiga, coalhadas e iogurtes, que, por sua vez, podem tem frutas misturadas. O açúcar é usado no café.
Satisfeitos para ir ao trabalho, podemos utilizar um carro que tem ou etanol 100%, ou gasolina com 27,5% de etanol anidrono tanque, vindo da cadeia da cana-de-açúcar. Quem decidir fumar, está movimentando a cadeia do tabaco e do papel. Se vamos de transporte coletivo, vale lembrar que no diesel, uma mistura entre 10 a 15% é biodiesel feito de óleos de soja, mamona, dendê, de caroço de algodão e até mesmo de sebo bovino. Os pneus e tapetes vêm da seringueira e os bancos do algodão, fibras ou pecuária. Hoje já temos ônibus e caminhões movidos a biometano, feito a partir de resíduos das cadeias do agro, tal como esterco e outros dejetos animais.
Flores pelo caminho ou no trabalho são o alimento da alma, uma cadeia produtiva sofisticada que emprega muita gente no Brasil e no mundo, e está cada vez mais presente… como presentes em nossas vidas. No trabalho, temos as mesas, as cadeiras, os móveis, que vem de florestas plantadas; o caderno ou bloco de notas, bem como papéis higiênicos e lenços que vem do eucalipto plantado que, quando processado, gera a celulose que é transformada em papel. E por falar em papel, boa parte das embalagens que recebemos em nossas casas com produtos comprados no online, também vieram do agro.
Da iluminação das ruas, salas de aula, energia para o computador e celular, ou seja, da energia elétrica que usamos, cerca de 10% vêm de biomassa, resultante de produtos e subprodutos das cadeias do agro que são queimados em caldeiras, movimentam turbinas, geram eletricidade, que é colocada na rede.
No nosso almoço, temos um “banho de agro” com arroz, feijão, milho, grão de bico, lentilha, mandioca, verduras, carnes, ovos, temperos, azeite de oliva, óleos de fritura, e toda a gama de hortícolas que compõe as saladas. A soja não aparece muito, mas saiba que um frango e um suíno são pura soja e milho andando? Ou seja, ela está no alicerce, é ração para a produção de muitos alimentos.
O copo ou garrafa plástica tem cada vez mais componentes do agro, seja da cana, do milho, do arroz…e são chamados de bioplásticos ou plásticos renováveis. No meio da tarde amendoim, barrinha de cereal ou água de coco para recuperar energia ou mesmo um chá com dezenas de tipos. O bom cheiro do banheiro é fruto do produto de limpeza que tem álcool e aromas cítricos, feitos com óleos essenciais. Quem usar incenso, é 100% agro.
Diversos medicamentos como o estrogênio, insulina, progesterona e outros hormônios, diversas vacinas, vitaminas, enzimas, colágeno, todos os derivados das plantas medicinais, entre outros, além das luvas cirúrgicas e instrumentos de porcelana, também vem do agro.
Termina o dia de trabalho e o momento da celebração com o chopp, uma taça de vinho ou um copinho de cachaça. Estes são 100% feitos com produtos do agro, movimentando as cadeias da uva, da cevada, do malte, do lúpulo, da cana, entre outras. E se for num barzinho de som ao vivo escutando “24 horas de amor” com Bruno e Marrone ou outros artistas, nas cordas dos instrumentos musicais e nas teclas do piano, tem as cadeias da pecuária e da madeira. O agro é parte integrante das nossas vidas e os contatos diários são muitos.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais emwww.harvenschool.come veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).