Próxima safra de cana ainda sentirá os efeitos da estiagem

A próxima safra sucroalcooleira 2022/23, que começará em abril do próximo ano, ainda sentirá os efeitos das adversidades climáticas deste ano e do desajuste na cadeia de suprimentos agrícolas.

Segundo projeções apresentadas na 21ª Conferência Internacional Datagro de Açúcar e Etanol, a consultoria corrobora esse cenário e espera que o volume de cana a ser processado no centro-sul no ciclo alcance de 530 milhões a 565 milhões de toneladas.

A faixa estimada é maior que o volume projetado para a moagem até o fim desta safra, de 518.6 milhões de toneladas, porém, ainda bastante inferior ao total processado na safra passada (2021/22), que atingiu 605.5 milhões de toneladas.

Com isso, a produção de açúcar em 2022/23 foi estimada entre 31.6 milhões e 33.7 milhões de toneladas, o que pode significar tanto uma redução marginal como um pequeno aumento em relação ao total registrado na safra atual, que deve ficar em 31.9 milhões de toneladas, nas estimativas da consultoria.

Incêndios

O presidente da Datagro, Plinio Nastari, lembrou que o plantio da cana com ciclo de crescimento de 18 meses, que deveria ter ocorrido nesta safra, foi comprometido pela falta de umidade e os consequentes incêndios que afetaram diversas regiões canavieiras do centro-sul.

Monitoramento realizado pela Datagro identificou 12.700 focos de incêndio nas regiões de Ribeirão Preto e no Triângulo Mineiro. Com isso, muitos produtores decidiram mudar sua programação para o plantio da cana que se desenvolvem em 12 meses.

“Mas faltou chuva, e o produtor postergou esse plantio também. Agora com as chuvas de outubro, todos saem correndo para plantar, mas com perspectiva de dificuldade de recomposição de estoques de insumos”, disse Nastari.

Falta de insumos

Ele realçou as dificuldades que o setor agropecuário vem enfrentando para obter insumos, sobretudo fertilizantes “estratégicos” para o cultivo de cana, como potássio, fósforo, calcário e gesso, além da dificuldade de obter agrotóxicos.

Segundo o executivo, os produtores também vêm enfrentando dificuldades para encontrar outros tipos de insumos, como tratores, colhedoras e implementos em geral. A baixa utilização de insumos pode indicar que a cana a ser colhida na primeira metade da próxima safra terá baixa qualidade. “Só deve melhorar no segundo semestre”, estimou Nastari.

Preços

Mesmo que a produção de açúcar do centro-sul tenha alguma reação à forte quebra observada na safra atual, o executivo avaliou que os preços da commodity devem seguir favoráveis, garantindo um ciclo de preços “compensadores” por um período de três a quatro anos.

Para Nastari, os preços do açúcar bruto referenciados nas negociações na bolsa de Nova York devem “gravitar” entre o valor de oportunidade do etanol hidratado no Brasil, como piso, e o preço de paridade de exportação de açúcar posto nos portos da Índia, como teto.

Combustíveis

Quanto ao mercado de combustíveis, a Datagro observou que há projeções indicando que o mercado de petróleo poderá superar US$ 100,00 o barril no caso do WTI, o que deve se refletir nos preços domésticos da gasolina e, consequentemente, do etanol hidratado.

A consultoria ainda não estimou a oferta de etanol na próxima safra, mas Nastari disse que a produção a partir do processamento de milho tem um cenário de contínuo crescimento, com a inauguração de novas unidades industriais, o que ameniza, em parte, o impacto da quebra da safra de cana sobre a oferta do biocombustível.

Na safra atual, a produção de etanol a partir do milho deve ficar em 3.32 bilhões de litros, mas tende a alcançar 5.4 bilhões de litros na safra 2024/25 e ultrapassar 8 bilhões de litros na temporada 2028/29. Já a produção de etanol a partir da cana em todo o país deve ficar nesta safra em 26 bilhões de litros, na estimativa da Datagro.

Oferta

Apesar da redução da produção de etanol, Nastari descartou a possibilidade de desabastecimento do biocombustível até o fim desta safra, levando em consideração que o consumo de combustíveis do ciclo Otto deverá aumentar 7,30% neste ano, mas apenas 1,50% no próximo.

A oferta de etanol ainda pode ser reforçada com a perspectiva de abertura da janela de importação de etanol durante a próxima entressafra de cana no centro-sul. “Prevemos que logo mais a janela e a arbitragem de importação devem se abrir e algum álcool importado deve entrar para complementar esta oferta”, disse Nastari.

 

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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