Produtores não conseguem receber seguro de milho

Produtores de milho de Santa Catarina estimam perdas de até 70% causadas pela cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Com isso, a estimativa é que a safra 2020/21 deva chegar, no máximo, a 1.5 milhão de toneladas ou 1.2 milhão toneladas a menos que o previsto.

Se confirmada a quebra, o estado terá de importar mais de cinco milhões de toneladas de milho no ano, o que também impactará nos custos de produção das agroindústrias e, consequentemente, no preço final dos alimentos. Santa Catarina é um dos principais produtores de aves, suínos e leite do país.

Além das perdas, os produtores enfrentam outra dificuldade: não conseguem acionar o seguro agrícola. Os bancos negam o pagamento, argumentando que a praga tem controle.

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) acionou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o governo federal para intercederem pelo setor nos recursos dos agricultores contra os indeferimentos ao seguro do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) pelos agentes financeiras.

Caso os produtores não sejam ressarcidos, a entidade teme a desistência da maioria e a migração para outras atividades, o que agravaria o problema de escassez de milho no estado.

Realidade

O vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri, disse que a alegação de que a praga tem controle não corresponde a realidade vivida pelos produtores.

“A própria Embrapa afirma que a cigarrinha-do-milho é uma praga de difícil controle, o que se enquadra no pagamento dos seguros, conforme critérios do próprio Proagro. Além disso, os produtores fizeram tratamento de sementes e usaram inseticidas. Portanto, adotaram as medidas preventivas e devem ser indenizados”, defendeu o dirigente.

Ele informou ainda que alguns produtores chegaram a fazer mais de seis aplicações de inseticidas e não tiveram êxito no combate à praga. “O produtor que plantou para colher 250 sacas por hectare, colherá entre 50 e 60, uma perda muito grande na safra que talvez seria a maior de todos os tempos”, estimou Barbieri.

Recurso

A Federação recomenda aos agricultores a ingressar com um recurso judicial e solicita o apoio do governo para reverter as decisões negativas.

“O produtor que tratou a semente e aplicou inseticida tem direito por lei ao ressarcimento. Precisamos de apoio do governo para criar uma comissão de acompanhamento e interferir, porque não podemos simplesmente ter o recurso negado”, declarou o presidente da Faesc.

“O poder público e as entidades têm poder para reverter, uma vez que as seguradoras recebem subsídio do governo para ofertar o serviço”.

Impactos

Segundo levantamento da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), as macrorregiões mais afetadas são o Meio-Oeste, Oeste, Extremo-Oeste, Planalto Norte e Planalto Serrano. Produtores relatam perdas maiores nos cultivos precoce e super precoce, variedades mais sensíveis à praga.

Segundo informações dos pesquisadores da Embrapa, a cigarrinha se alimenta e se reproduz apenas no milho e, por isso, a manutenção do plantio o ano todo no estado é favorável à sua multiplicação.

Também não há controle químico 100% eficaz para a praga. Ao contaminarem a planta, as cigarrinhas prejudicam o seu desenvolvimento, acarretando em má formação, menos espigas e, consequentemente, queda de produtividade.

Pandemia agrícola

Uma das explicações para a maior incidência é o contínuo cultivo de milho o ano inteiro e a combinação com o período de estiagem, que acabou aumentando as condições para proliferação. Porém, as autoridades do setor ainda não têm uma resposta científica e definitiva.

“A cigarrinha é um inseto que todos os agricultores catarinenses conhecem, mas nunca houve um impacto tão forte de perdas ocasionadas pela praga. Os produtores de milho precoce e super precoce também nunca foram alertados pela indústria de sementes que essas variedades eram mais sensíveis ao inseto”, disse Barbieri.

Santa Catarina é o maior importador de milho do Brasil, com necessidade de mais de sete milhões de toneladas por ano para abastecer seu parque agroindustrial. O dirigente da Faesc classifica o problema de escassez no estado de “pandemia agrícola”.

 

 

Fonte: Agrolink

Equipe SNA

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