Produtor antecipa compras de máquinas

A expectativa de que os recursos do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) terminem antes do encerramento do Plano Safra 2018/19, em 30 de junho, tem levado os produtores rurais a antecipar suas encomendas e, com isso, mantido a indústria trabalhando a todo o vapor.

“Parte do mercado está agindo dessa forma e isso pode ser comprovado pela aceleração das vendas no último trimestre”, disse Diogo Melnick, gerente de marketing da Case IH, que pertence à CNH Industrial.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entre julho e dezembro, primeiros seis meses do atual Plano Safra, as vendas de máquinas agrícolas alcançaram quase 28.000 unidades no país, 27% a mais do que no segundo semestre de 2017.

Nas concessionárias, a possibilidade de os recursos com juros subsidiados (de 7,5% a 9,5% ao ano) do Moderfrota acabarem virou argumento de venda. “Não somente pela disponibilidade de crédito, mas, principalmente, pela manutenção das condições atuais de juros e prazos”, disse Melnick. Ele concorda que os bons resultados de diversas cadeias agrícolas em 2018 também colaboram para a corrida às lojas.

Para Alexandre Blasi, diretor de mercado Brasil da marca New Holland (que também pertence à CNH Industrial), o risco de faltar crédito de fato motivou produtores a fechar negócios antes do previsto, “mas a maioria ainda espera para ver como essa questão será solucionada”, diz.

Fontes de mercado afirmam que a situação não é muito diferente nas concessionárias de AGCO e John Deere, que, junto à CNH Industrial, compõem o trio de multinacionais que domina o mercado de máquinas agrícolas no Brasil. Mas as empresas preferiram não conceder entrevistas sobre o tema.

Alfredo Miguel Neto, vice-presidente da Anfavea, acredita que a maioria dos produtores continuará comprando no mesmo ritmo, independentemente da perspectiva de falta de recursos. Para Neto, o forte incremento recente das vendas está mais relacionado à conjuntura positiva do setor agropecuário. “E todo ano há um remanejamento entre as linhas de crédito (do Plano Safra). Portanto, a nossa perspectiva é que isso ocorra também agora”.

A Anfavea tem conversado com o governo sobre essas necessidade. Como o Valor já informou, cálculos da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) indicam que haveria demanda para uma suplementação de R$ 3 bilhões nos recursos do Moderfrota. No total, havia R$ 8.9 bilhões reservados para a linha inicialmente.

Para o vice-presidente da Anfavea, ainda que faltem recursos no Moderfrota, os grandes produtores conseguem financiamento com tranquilidade e taxas de juros atrativas, mesmo que um pouco maiores. “Os pequenos e médios é que nos preocupam”, afirma.

Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), até 22 de janeiro 59% dos recursos destinados pela instituição ao Plano Safra 2018/19 como um todo já foram contratados. São R$ 10.1 bilhões de um total de 17.2 bilhões.

No caso do Moderfrota MPME, resta R$ 1.7 bilhão de um total de R$ 6.2 bilhões, ou 28%. No Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), somente 10% do total ainda não foi contratado, ou R$ 44.8 milhões. No Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), de um total de R$ 2.2 bilhões, restam R$ 575.6 milhões.

Apenas no Banco do Brasil, principal operador de crédito rural no país, a demanda para o financiamento de máquinas agrícolas, incluindo Moderfrota e outras linhas, cresceu 53% de julho a dezembro. Foram liberados R$ 2.8 bilhões, contra R$ 1.8 bilhão no mesmo período de 2017.

“Mantendo essa velocidade, pode ser que os recursos terminem até março. Com o começo das feiras (agropecuárias), a demanda deverá aumentar”, disse Marco Túlio Costa, diretor de agronegócios do BB.

Mesmo que a Anfavea procure demonstrar tranquilidade, não são todos que acreditam que sua previsão de aumento de quase 11% das vendas de máquinas neste ano vai se confirmar sem uma suplementação no Moderfrota.

“Tudo se põe em risco se não vier esse recurso adicional”, diz Blasi, da New Holland. Mas ele concorda que, se a escassez de confirmar, poderá haver um represamento das vendas, compensável de julho a dezembro – primeiro semestre do Plano Safra 2019/20.

De qualquer forma, ele afirma que o mercado tem condições de chegar a 7.000 colheitadeiras e de 47.000 a 50.000 tratores em 2019 (foram 5.800 e cerca de 39.000 no ano passado, respectivamente). “O mercado vai crescer. Tem espaço para uma recuperação. Não será um ano (bom) como 2013, mas também não ficaremos no patamar de vendas em que estávamos nos últimos anos”.

Para Melnick, da Case IH, a forte demanda por máquinas de maior porte foi um fator que levou os recursos a rarearem antes do esperado. A empresa fechou o ano passado com a venda de mais de 100 tratores articulados acima de 400 cavalos de potência (cerca de 60% do mercado total). Em 2017, foram apenas 20 unidades desse tipo de trator negociadas no país.

Como o valor unitário dessas máquinas ultrapassa a faixa de R$ 1 milhão, diante de uma média de R$ 100.000,00 a R$ 150.000,00 dos modelos de menor potência (100 cavalos), a maior demanda amplia o ticket médio dos contratos.

“Esses tratores de grande porte são destinados principalmente à produção de grãos no Centro-oeste”, afirma Melnick. “Com uma janela de plantio mais curta, os produtores têm buscado máquinas que permitam acelerar os trabalhos no campo”.

Jak Torretta Jr., diretor geral de operações da indiana Mahindra no Brasil, observa que também houve alguma antecipação de compras de tratores de menos de 100 cavalos de potência, em razão da entrada em vigor de mais uma fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) Mar -1, que prevê uma modernização de maquinários por questões ambientais.

Os modelos com potência igual ou superior a 19 kW (25 cv) até 75kW (101 cv) agora têm de ser produzidos seguindo as novas regras do programa, que visam a uma redução das emissões de poluentes. A adequação já era necessária para modelos de mais de 100 cavalos desde 2015. “Muitos optaram por adquirir uma máquina mais barata antes de os novos motores serem incorporados aos modelos”, afirma Torretta.

 

Valor Econômico

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