A safra brasileira de trigo tem potencial para superar sete milhões de toneladas neste ano e registrar um recorde, caso as condições climáticas permaneçam favoráveis até a colheita. Isso é um alento para os moinhos, que têm chance de reduzir parte das importações em 2021.
Analistas e representantes do setor ouvidos pela Reuters disseram que o alto nível de capitalização do agricultor adquirido com a venda da soja de verão contribuiu para elevar investimentos no plantio e produtividade do trigo, cereal que também está com preços atrativos devido ao câmbio.
Com a colheita próxima de começar no Sudeste e no Sul do País, um dos maiores importadores globais do cereal, levantamento da consultoria Trigo & Farinhas indica que a produção nacional do cereal pode chegar a 7.34 milhões de toneladas.
A previsão supera em pouco mais de um milhão de toneladas a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que espera por 6.31 milhões de toneladas em 2020. No ano anterior, o Brasil colheu 5.15 milhões de toneladas, com adversidades climáticas.
Até o momento, o recorde registrado pela Conab ocorreu na safra de 2016, quando o País produziu 6.7 milhões de toneladas de trigo, segundo a Conab. Antes disso, o volume mais elevado foi registrado somente em 1987, com colheita de 6.13 milhões de toneladas.
Apesar de não apontar uma estimativa, a consultoria StoneX compartilha da percepção de que um novo recorde pode ser alcançado nesta safra. “Existe a possibilidade de a produção de trigo no Brasil atingir sete milhões de toneladas e até mesmo passar. Realmente temos visto este potencial”, disse a analista da StoneX Ana Luiza Lodi.
Ela afirmou que ainda não foi identificada nenhuma ameaça significativa às lavouras, tanto em termos de clima quanto de pragas e doenças.
Colheita
Os trabalhos de colheita no Paraná, maior produtor brasileiro, vão começar em agosto e se intensificar em setembro. Em um cenário mais cauteloso, no entanto, a consultoria Safras & Mercado mantém a estimativa de produção nacional do cereal em 6.6 milhões de toneladas.
“Produtores estão otimistas, mas com produtividades, segundo nosso levantamento, dentro da expectativa, e cautela com a possibilidade de algumas perdas no processo”, afirmou o analista da Safras Jonathan Staudt.
Entre os fatores que podem pesar para a lavoura nacional estão o excesso de chuva na colheita, que vez ou outra reduz a qualidade do produto, ou mesmo alguma geada.
Compras externas
Ana Luiza, da StoneX, disse que a queda nas importações de trigo tende a ser proporcional ao aumento na produção nacional, principalmente mediante um patamar de câmbio elevado, o que afetaria principalmente a Argentina, principal fornecedor do produto adquirido pelos brasileiros.
Já o diretor da Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, calculou que as compras externas poderiam cair das atuais 7.3 milhões de toneladas para uma faixa entre 5.66 a 6.32 milhões de toneladas.
No Mercosul, Pacheco acredita que a produção do cereal da Argentina, maior produtora da região, pode aumentar 9,04%, para 20.5 milhões de toneladas, mesmo com algumas áreas afetadas pela seca. A estimativa está em linha com a projeção mais recente do adido do USDA para o trigo argentino, divulgada na quarta-feira.
Preços elevados
Pacheco indicou que o Paraná, estado líder na produção da cultura, passou por clima adverso no ano passado, e deve recompor seu patamar produtivo neste ano.
O Departamento de Economia Rural (Deral) manteve nesta quinta-feira a estimativa para a colheita paranaense de trigo em 3.68 milhões de toneladas, com aumento de 72% em relação a safra passada.
Já no Rio Grande do Sul, segundo maior estado produtor, a analista da StoneX ressaltou que depois da importante quebra na safra de soja, o plantio de trigo vem em meio a um cenário de preços elevados, o que pode ajudar no equilíbrio financeiro do agricultor.
“O produtor gaúcho investiu mais (no trigo) para que isso contribua na recuperação da sua rentabilidade devido às perdas deixadas pela soja”, disse Ana Luiza. Ela destacou ainda que uma safra maior pode dar espaço para uma queda mais significativa nos preços.
Atualmente, o trigo é negociado no Rio Grande do Sul a R$ 1.223,00 a tonelada, com alta de mais de 50% no acumulado do ano, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Condições climáticas
No campo, o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, afirmou que, embora seja cedo para cravar um número, é possível que o Brasil alcance as sete milhões de toneladas de trigo neste ano.
“A seca atrasou o plantio no início da temporada, mas foi o único problema. Agora algumas regiões estão preocupadas com a falta de chuva para o desenvolvimento vegetativo no norte e noroeste do estado, mas também não foram confirmadas perdas.”
O coordenador da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, afirmou que o plantio foi finalizado e as condições climáticas estão boas, mas preferiu ser mais comedido sobre o volume que será colhido. “É cedo para falar com clareza”, disse. Na quinta-feira, a Emater/RS confirmou a conclusão do plantio no estado.
Fonte: Reuters
Equipe SNA