Em meio à polêmica da possibilidade de retirada da Tarifa Externa Comum (TEC) para importação de trigo dos Estados Unidos pelo Brasil, a produção do cereal no país passa por um cenário de mudança. Tradicionalmente, os brasileiros importam mais da metade da quantidade que consomem e, do volume produzido no Brasil, mais de 80% vinham da Região Sul. Entretanto, com o desenvolvimento de variedades do grão mais resistentes ao calor, o trigo se expande rumo ao Centro-Oeste e até para o Nordeste.
Segundo o estudo “Cenários para a produção do trigo tropical”, realizado pela Embrapa Territorial, o Brasil tem potencial de quase 25 milhões de hectares para essa variedade do cereal, mas, atualmente, existem esses cultivos em apenas 200 mil hectares nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, além da Bahia. A Embrapa desenvolve pesquisas para ampliar a fronteira agrícola do grão.
“O Brasil é importador de trigo e, há muito tempo, que se fala de novas variedades que pudessem conquistar o Centro-Oeste, com maior tolerância ao calor e maior produtividade. Isso é sim uma tendência”, afirma Marcos Fava Neves, especialista em planejamento estratégico do agrobusiness e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).
Fava Neves acrescenta que, a medida que a pesquisa evolua e que o consumo nessas regiões cresça, a produção também deve acompanhar. “Fica mais barato produzir o trigo na região, mesmo que de forma não tão eficiente como nos concorrentes externos, porque não tem o custo do transporte do produto até os centros de consumo que estão no meio do país”, avalia.
Cepea prevê oferta maior no segundo semestre
O especialista ressalta ainda que a expansão das culturas do trigo devem ocorrer de forma competitiva, sem subsídios. “Tenho esperança de que novas variedades sejam mais adaptadas para a região do Cerrado, as condições de fronteira, e que o Brasil possa expandir sua produção de trigo de maneira competitiva, sem subsídio. Eu diria que é uma tendência e é um desejo também”, opina.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que, entre as culturas de inverno de 2019, a safra de trigo deve atingir 5,63 milhões de toneladas, um aumento de 3,7% em comparação com o ano anterior, que foi de 5,43 milhões de toneladas.
Nesta terça-feira, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, divulgou boletim em que avalia que, no Brasil e na Argentina, a disponibilidade do cereal tende a ser maior no segundo semestre deste ano, visto que a expectativa inicial é de aumento da área cultivada nos dois países. “Por enquanto, a oferta doméstica ainda é baixa – o que eleva a necessidade de importações”, informou. O período de plantio do trigo no Cerrado começa em abril.