A produção de leite em Minas Gerais caiu 7,59% em fevereiro, o que permitiu a expansão de 4,43% nos preços líquidos recebidos pelos produtores ao longo de março. A retração no volume captado em período de safra se deve ao maior desestímulo do produtor, que está trabalhando com custos acima dos preços recebidos nas negociações do leite. A expectativa para abril é de nova valorização dos preços, já que a tendência é de oferta restrita de matéria-prima. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).
Segundo os pesquisadores do CEPEA, em Minas Gerais, o preço líquido do litro de leite praticado em março, referente à produção entregue em fevereiro, foi de R$ 1,06, subindo 4,43%. No preço bruto, a alta foi de 4,11%, com o litro negociado a R$ 1,17. O reajuste vem em um período de custos elevados e novas altas ainda são necessárias para garantir rentabilidade ao produtor.
Assim como em Minas Gerais, onde a produção recuou 7,59% em fevereiro, a queda na captação foi percebida em vários outros estados produtores, fazendo com que o Índice de Captação de Leite do CEPEA (ICAP-L/CEPEA), retraísse 4,58% na comparação com janeiro.
O índice de captação, que representa a média Brasil, é calculado com base nos resultados obtidos em Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Bahia, sendo este último o único estado que registrou aumento na captação ao longo de fevereiro. O recuo foi o mais intenso em 10 meses.
Para os pesquisadores do CEPEA, a atual crise econômica pode reduzir os investimentos por parte dos produtores e, consequentemente, influenciar novas quedas na produção de leite.
Em Minas Gerais, a queda na captação foi provocada pelos altos custos de produção, puxados principalmente pelo milho, um dos principais insumos da alimentação do rebanho. Com a desvalorização do real frente ao dólar, as exportações do cereal foram alavancadas, o que limitou a oferta interna e provocou disparada nos preços. Enquanto a saca de 60 quilos era cotada em torno de R$ 30,00 no final de março de 2015, no mesmo período deste ano o volume foi negociado a R$ 45,00, variação positiva de 50%.
Também impactaram nos custos de produção do leite os gastos com a mão de obra, com medicamentos e insumos que têm os preços balizados pelo dólar, o aumento da energia elétrica, combustíveis, entre outros.
“Os pecuaristas estão desestimulados com a produção de leite e muitos optam pela redução. São três anos de preços baixos e custos em alta. Vários fatores contribuem para o cenário desfavorável, como o aumento dos preços dos insumos e da mão de obra, que além de onerosa é escassa e não especializada”, explicou o presidente da Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), Leonardo dos Reis Medeiros.
Aumento dos valores deve seguir em abril
De acordo com o levantamento do CEPEA, na comparação entre março e fevereiro, a alta nos preços do leite foi verificada em todas as regiões de Minas Gerais. A maior variação foi no Sul e Sudoeste do Estado, com o litro de leite negociado a R$ 0,99, valor líquido, alta de 7,35%. O preço bruto ficou 7,19% maior, R$ 1,07 por litro.
“Na nossa região de atuação, os preços tiveram uma boa reação de janeiro até março, com alta próxima a 25%, mas ainda estão defasados e precisam de novos reajustes para a retomada do lucro na atividade”, disse o presidente da Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), Leonardo dos Reis Medeiros.
No Triângulo e Alto Paranaiba a variação positiva foi de 5,08% no preço bruto, R$ 1,25, e de 5,74% no valor liquido, R$ 1,13 por litro de leite.
Alta também no Vale do Rio Doce, região em que o produtor de leite recebeu 2,77% a mais pelo litro, com o produto cotado a R$ 1,22, valor bruto. O preço líquido ficou em R$ 1,09, aumento de 2,87%.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a alta foi de 5,17% no preço líquido e de 4,72% no valor bruto, com o litro de leite negociado a R$ 1,07 e R$ 1,18, respectivamente. Na Zona da Mata, o litro de leite foi cotado a R$ 1,00, preço líquido, elevação de 2,54%. O valor bruto, R$ 1,08, ficou 2,92% superior.
Para abril, a expectativa é de que os preços do leite sigam em alta, ainda impulsionados pela oferta restrita de matéria-prima. Entre as cooperativas e laticínios participantes da pesquisa do CEPEA, 94%, que representam 99,6% do volume amostrado, acreditam em nova alta nos preços do leite em abril, enquanto o restante, 6% que representam 0,4% do volume, acreditam em estabilidade nas cotações. Nenhum dos colaboradores consultados pelo CEPEA estima queda de preços para o atual mês.
Fonte: Diário do Comércio